A Casa do Dragão frustra os fãs com segunda temporada morna | Crítica
- André Keusseyan
- 12 de ago. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Mesmo mantendo a qualidade, segundo ano fica aquém do que foi prometido em sua divulgação

Após o decepcionante final de Game of Thrones, os fãs da saga de George R.R. Martin tiveram um alento com o lançamento de A Casa do Dragão, série spin-off focada na Casa Targaryen. Com uma primeira temporada exemplar, que apresentou e estabeleceu seus principais personagens, era esperado que o segundo ano da produção desse início ao conflito conhecido como “Dança dos Dragões”, a guerra civil Targaryen que devastou o reino e terminou com muito sangue derramado em ambos os lados, mas o que se viu foi uma temporada irregular, que apesar de manter a qualidade e brilhar nos momentos de ação, acabou andando em círculos com arcos que pouco evoluíram a trama.
A primeira temporada chegou ao fim com os Sete Reinos divididos em dois grupos: os Pretos, que juraram fidelidade à Rhaenyra (Emma D'Arcy) como rainha, e os Verdes, que apoiaram a reinvindicação de Aegon II (Tom Glynn-Carney) ao Trono de Fero. A partir dai era esperado que a produção da HBO mergulhasse de vez no conflito, entregando toda a grandiosidade de uma guerra entre dragões. Logo nos primeiro episódios do novo, ano a série cumpre o que promete com dois momentos marcantes que agitaram as redes sociais. O primeiro episódio, “Um filho por um filho”, adaptou o arco “Sangue e Queijo” e abriu a segunda temporada com “dois pés no peito”, entregando uma das sequências mais cruéis de toda a saga. Já o capítulo “O Dragão Vermelho e o Dourado” (o melhor da temporada) mostra o quão terrível um confronte entre as criaturas aladas pode ser.
O problema é que esse ritmo não se mantém ao longo dos oito episódios. Não que isso fosse atrapalhar, afinal Game of Thrones sempre se destacou por balancear momentos de ação com diálogos impactantes, tornando os embates falados tão (ou até mais) relevantes que as batalhas físicas. A segunda temporada de A Casa do Dragão, no entanto, falha em manter esse delicado equilíbrio, fazendo dos momentos em que não estamos nas costas de um dragão, mornos e enfadonhos.
Essa situação é sentida, principalmente, quando acompanhamos as jornadas de Rhaenyra e Daemon (Matt Smith). Após os eventos ocorridos no primeiro episódio da temporada, a relação dos dois fica conturbada e o casal acaba se separando fisicamente ao longo de vários episódios. A decisão se mostrou equivocada, pois a química entre D’Arcy e Smith foi um dos pontos mais altos da temporada passada, e colocá-los para trilharem jornadas distantes um do outro, apenas serviu para enfraquecer os dois.
Não ajuda o fato de que essas jornadas não levaram a lugar nenhum. Rhaenyra, por exemplo, passa os oito episódios da temporada tentando encontrar uma solução pacifica para o conflito e assim evitar o derramar de sangue inocente. O problema é que o derramar de sangue começou no momento em que seu filho Lucerys (Elliot Grihault) foi morto, e segue ocorrendo ao longo da trama. Pela expressão no rosto da herdeira de Viserys (Paddy Considine) ao saber da morte de seu filho, na cena final do primeiro ano, era esperado que víssemos uma Rhaenyra com sede de vingança contra os Verdes. Não é o que acontece.

Já o arco de Daemon, talvez seja o ponto mais fraco da temporada. Toda a passagem do personagem por Harrenhal, com a missão de reunir um exército para lutar por Rhaenyra, poderia ter sido resolvida em, pelo menos, dois episódios. No entanto, a produção estica essa trama, ao longo de vários episódios e abusa da paciência dos fãs com sequências de sonhos e visões intermináveis que só trazem peso para a história quando a série apela para a nostalgia e força a lembrança de que Casa do Dragão se passa no mesmo universo de Game of Thrones. Além disso, o arco acaba sem nenhum propósito, por colocar Daemon exatamente no mesmo lugar em que estava. Apesar do caráter duvidoso, a lealdade do Rei Consorte para com sua esposa já havia sido estabelecida, portando fazer todo um arco onde essa lealdade é questionada, apenas para reforça-la no final, passou a impressão de que o showrunner Ryan J. Condal estendeu essa passagem da trama, contada por George R.R. Martin no livro “Fogo e Sangue”, apenas para estender a duração da série um pouco mais. A catarse da sequência quando eles se reencontram deixa claro como a temporada pecou ao separar os dois atores.
No lado dos Verdes, a situação meio que se repete com Alicent (Olivia Cooke). Em lados opostos do conflito, a tensa relação entre a Rainha viúva e Rhaenyra, foi um dos destaques do primeiro ano. Porém, o óbvio distanciamento entre as duas (Rhaenyra em Dragonstone e Alicent em King’s Landing) acabou por enfraquecer a personagem de Cooke, que passa a temporada completamente perdida, apenas reagindo ao que acontece ao seu redor. Tudo bem, eu entendo que a trama de Alicent na temporada teve como objetivo mostrar o quão impotente e solitária a personagem foi ficando, a mediada que sua família vai desmoronando diante de seus olhos, mas não precisava tornar esse arco tão monótono ao ponto de termos um episódio onde Alicent sai da Fortaleza Vermelha apenas para refletir sobre a vida enquanto boia em um lago.
Se o trio protagonista deixou a desejar, o 2º ano de A Casa do Dragão deu maior destaque para seus coadjuvantes. No lado dos Verdes, a relação entre os irmãos Aegon e Aemond (Ewan Mitchell) foi aprofundada, com o segundo assumindo de vez o papel de vilão, se tornando uma ameaça tanto para seus inimigos quanto para seus familiares. Já no lado dos Pretos, os destaques foram a princesa Rhaenys Targaryen (Eve Best), que esbanja imponência em todas as suas cenas, e para a perspicaz Mysarya (Sonoya Mizuno), uma personagem pouco aproveitada na temporada anterior, mas que agora se mostra uma exímia estrategista, sendo responsável não só por trazer o povo para o lado de Rhaenyra, mas também por suprir a carência que Daemon e Matt Smith deixaram no núcleo da rainha.
Frustrante talvez seja a palavra ideal para definir essa segunda temporada. Ela não foi ruim, apenas fica a sensação de que a série não atingiu todo o potencial que a divulgação da própria HBO havia prometido. Mesmo que tenha apresentado toda a grandiosidade de uma guerra entre dragões, foi em apenas um episódio. Os outros sete, incluindo o episódio que encerrou o segundo ano, foram mornos e arrastados, e apenas montaram o tabuleiro para a guerra que ainda está por vir.
É consenso entre os fãs que Game of Thrones começou a decair no momento em que começou a se distanciar dos livros e a esticar tramas somente para que a série durasse mais. Ao olhar a temporada com um todo, era possível sentir uma pontada de medo de que os produtores pudessem estar cometendo o mesmo erro novamente. Porém, a notícia divulgada, um dia após o lançamento do último capítulo, de que A Casa do Dragão terminará em sua quarta temporada traz um alento, pois indica que tal temor não será justificado. Resta agora ficar na torcida para que os problemas narrativos que aconteceram no segundo ano sejam corrigidos, e que a série retorne com a mesma força que um exército de dragões.