Ahsoka expande o universo de Star Wars para além da galáxia tão, tão distante | Crítica
- André Keusseyan
- 8 de out. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Nova produção de Dave Filoni reverência o passado e olha para um brilhante futuro

Poucas pessoas sabem trabalhar com o universo Star Wars com tanta paixão e reverencia quanto Dave Filoni. Desde as animações The Clone Wars e Rebels (dirigidas e criadas por ele) até as séries em live-action, The Mandalorian e O Livro de Boba Fett, é palpável a devoção que o produtor tem por cada um dos habitantes desta galáxia tão, tão distante. Mas sua maior contribuição para a franquia com certeza é a Cavaleira Jedi Ahsoka Tano. A aprendiz de Anakin Skywalker (Hayden Christensen), que apareceu pela primeira vez no filme animado de The Clone Wars (2008) e fez sua estreia em live-action na segunda temporada de The Mandalorian, conquistou os fãs da saga com seu carisma e complexidade. Agora, a personagem ganha uma série própria, que reúne tudo aquilo que faz Star Wars ser tão querido pelos fãs e pavimenta o caminho para o brilhante futuro da franquia.
Em Ahsoka, a Jedi vivida por Rosario Dawson, acompanhada da general Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead) e de sua nova aprendiz, a mandaloriana Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), velhas conhecidas dos fãs das animações, buscam impedir que forças sombrias consigam trazer de volta o Grão Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) como “Herdeiro do Império”. Uma missão complicada e difícil para cada uma, pois o paradeiro do temível imperial pode revelar a localização de Ezra Bridger (Eman Esfandi), jovem Jedi que se sacrificou para exilar o vilão, no final da animação Star Wars Rebels (2014 – 2018).
A série funciona como uma 5ª temporada de Rebels, o que pode fazer muitas pessoas questionarem se é preciso assistir as animações para entender a série. A resposta é não. Ahsoka faz sim muitas citações a eventos passados, mas ao mesmo tempo em que acena para os fãs mais “hardcore”, o texto de Filoni não se perde dentro de uma autorreferência e se torna acessível para os fãs casuais. Mas cá entre nós, se você arrumar um tempinho e se dedicar em assistir as animações, a jornada se tornará muito mais prazerosa.

Mesmo diante da ameaça de uma nova guerra, Ahsoka é antes de tudo uma história sobre o legado entre mestres e aprendizes. Filoni coloca Ahsoka Tano em uma jornada interior, onde a personagem revisita momentos específicos de seu passado que moldaram sua personalidade. Desde a criação como um soldado na Guerra dos Clones, passando pela relação com seu mestre, Anakin Skywalker, até a culpa pela queda do mesmo para o Lado Sombrio, e o medo de que ela própria possa acabar seguindo o mesmo caminho.
Tudo isso é entregue com perfeição por Rosario Dawson, que carrega todo o peso do passado da personagem e mostra que nasceu para viver a Jedi. O elenco é com certeza um dos trunfos da produção. Além de Dawson, Natasha Liu Bordizzo incorporou a personalidade de Sabine, e a conturbada relação entre a mandaloriana e a Jedi, exemplifica perfeitamente toda a discussão que a série se propõe a contar sobre o legado de professor e aluno. Além das questões dos Jedi, a série também se dedica a contar o lado político de Star Wars. Aqui brilha a estrela de Mary Elizabeth Winstead, que com sua Hera, tem a difícil missão de convencer os relutantes senadores da Nova República do eminente retorno de Thrawn e da ameaça que os Remanescentes do Império representam para a frágil paz do recém-instaurado governo.
Do lado dos vilões não tem como não falar dele. Prometido como o grande vilão pós-O Retorno de Jedi, o Grão Almirante Thrawn estreia em live-action de forma sublime. Vivido pelo mesmo Lars Mikkelsen que deu voz ao vilão em Star Wars Rebels, a frieza e calculismo de Thrawn, e a forma, quase sagrada, como seus seguidores o veem, fazem do Grão Almirante uma ameaça assustadora para toda a galáxia.
Mas o destaque fica mesmo com a dupla Baylan Skoll (Ray Stevenson) e Shin Hati (Ivanna Sakhno). É interessante como a relação entre mestre e aprendiz dos antagonistas faz um excelente contraponto com a relação entre as heroínas Ahsoka e Sabine. Enquanto as duas ainda estão tentando se conectar como Mestra e Padawan, Skoll e Hati já estão em perfeita sincronia, mesmo que seus objetivos estejam em caminhos opostos.

Em busca de alguma solução para o fim do sofrimento na galáxia, Stevenson rouba a cena na pele de um Jedi caído e transmite todo o fardo dos erros que a velha Ordem Jedi cometeu em seus últimos anos antes do expurgo. É uma pena que o ator tenha falecido meses antes da estreia da série. Não se sabe qual será o destino do personagem, mas com certeza a interpretação de Stevenson deixará saudade.
Ahsoka é uma série ambiciosa que expande a franquia criada pelo mestre George Lucas para territórios jamais explorados em mais de 40 anos de filmes, séries, animações, quadrinhos, livros e videogames. Além de trazer para o live-action conceitos já apresentados em outras mídias, como a sociedade das Irmãs da Noite e o Mundo entre Mundos, a série quebra os limites da galáxia que conhecemos e nos leva, junto de nossos heróis, a descobrir novos planetas, sociedades e culturas que mudam completamente tudo que sabíamos sobre os Jedi, os Sith e as origens da nossa galáxia tão, tão distante. E julgando pelo gancho deixado pelo arco de Baylan Skoll, as surpresas não irão parar por aqui.
Ainda não temos uma segunda temporada confirmada, mas seja num eventual segundo ano da série, ou diretamente no filme, já anunciado, de Dave Filoni, é seguro afirmar que o futuro de Star Wars é brilhante. Além da promessa de mergulhar fundo na mitologia da Força, com a continuação da jornada de Skoll, Ahsoka pavimenta o caminho para a grande guerra contra Thrawn, que reunirá todos os personagens apresentados em The Mandalorian, O Livro de Boba Fett, na vindoura Skeleton Crew e na própria Ahsoka, para a épica conclusão do chamado “mandoverso”.
Ahsoka mostra que há espaço para todo tipo de histórias em Star Wars. Sejam elas mais densas e políticas, como na espetacular Andor, ou fábulas fantásticas com bruxas, magia e baleias espaciais. Embalada por batalhas espaciais eletrizantes, duelos de sabre de luz muito bem coreografados e efeitos visuais dignos de cinema (não à toa o belíssimo quinto episódio, “O Guerreiro das Sombras”, foi exibido em algumas salas dos Estados Unidos), a série atinge aquilo que sempre foi o trunfo de Star Wars: nos fazer sonhar.
Que venham mais aventuras pelas, agora, galáxias muito, muito distantes.