Besouro Azul é uma origem de super-herói comum, mas cativante | Crítica
- André Keusseyan
- 24 de ago. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Apesar de mergulhar nos clichês, o novo filme da DC faz da cultura latina seu grande diferencial em uma história que diverte e emociona.

2023 tem sido um ano muito complicado para as produções da DC. Em meio a uma mudança nos rumos de seu universo compartilhado, com a chegada de James Gunn, a Warner Bros. tinha que lidar com quatro filmes da gestão passada que ainda estavam para sair, mas não possuíam nenhuma ligação com o futuro do novo DCU. Loucos pra se verem livres das amarras do antigo universo, os executivos da Warner resolveram lançar todos os quatro filmes no mesmo ano, e ainda colocaram James Gunn para anunciar seus projetos futuros antes mesmo desses quatro filmes estrearem, revelando de vez o descaço da atual gestão com as produções antigas. Decisões equivocadas que fizeram o público se questionar: “se os próprios produtores não ligam para esses filmes, por que devemos ligar?”.
Como era de se esperar, tais decisões refletiram nas bilheterias e após os fracassos de Shazam! Fúria dos Deuses e The Flash, todas as atenções se voltaram para o menor entre todos eles. Promovido de filme exclusivo do streaming da HBO, para uma produção de cinema, Besouro Azul chega, sob muita desconfiança, no apagar das luzes de um universo fracassado. Ou talvez, no despertar de um novo e esperançoso futuro. Besouro Azul não se importa em explicar qual Superman voa pelos céus de Metrópolis, ou qual Batman vigia as ruas de Gothan, e ao fazer isso, o personagem pode tanto ser deixado de lado, quanto reaproveitado por James Gunn sem que fiquemos fazendo perguntas sobre onde o filme se encaixa na cronología. Livre da obrigação de “salvar” um universo em decadência, ou ser o início de uma nova franquia, o filme foca em contar uma história de origem que, pode soar repetitiva, mas diverte e emociona.
O longa conta a história de Jaime Reyes (Xolo Maridueña), um jovem que, na busca por um emprego que o permita ajudar sua família, acaba entrando em contato com o Escaravelho, um artefato alienígena que, ao se unir a um hospedeiro, lhe concede um uniforme altamente tecnológico com poderes fantásticos.

O filme é uma mistura de Homem-Aranha, com Homem de Ferro e Venon. Jaime Reyes tem os mesmo dilemas e responsabilidade que Peter Parker, possui uma armadura tecnológica que parece ter sido feita por Tony Stark, e tem de enfrentar a ameaça de uma industrial megalomaníaca que pretende unir o parasita alienígena com seres humanos, assim como Eddie Brock faz em Venon (2018). Tudo isso deixa a produção como uma cara muito familiar. Não há nada de novo na parte super heroica da história, cujo roteiro segue a risca a fórmula da “origem de super-herói”, com o protagonista tentando controlar suas habilidades, recusando seus novos deveres, e aprendendo que “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”.
Numa época em que o gênero de super-herói está tão saturado, é compreensível que algumas pessoas sintam que o filme é mais do mesmo, uma vez que histórias de origem já foram contadas a exaustão. Mas, gostemos ou não, as histórias de origem têm, em sua maioria, pontos em comum que são difíceis de ignorar, e o Besouro Azul não é um Superman, nem um Batman, muito menos um Homem-Aranha, cujas histórias já foram contadas e recontadas inúmeras vezes. Trata-se de um personagem inédito, completamente desconhecido para o publico geral e que por esse motivo, precisava ter sua origem contada, mesmo que isso significasse repetir elementos e situações tão utilizadas em produções passadas.
Mas se essa fórmula já te esgotou, saiba que Besouro Azul ainda guarda uma carta na manga que faz a produção se destacar das demais: a origem latina do personagem. O filme vai além do retrato estereotipado comum a Hollywood, graças a um primoroso trabalho realizado pelo roteirista mexicano Gareth Dunnet-Alcocer e pelo diretor porto-riquenho Ángel Manuel Soto que, junto do elenco, colocaram suas próprias experiências de vida na concepção da família Reyes. A dinâmica entre os membros dessa numerosa e barulhenta família é cativante e acolhedora desde o primeiro minuto e parte fundamental para o desenvolvimento de Jaime.

As influências trazidas por uma equipe majoritariamente latina criam um retrato afetuoso dessa comunidade e retiram o filme de seu status genérico. Todas as referências presentes na produção não estão ali apenas para agradar o fã, mas também para auxiliar na jornada de Jaime, tanto na ação quanto na comédia.
Além da representatividade, é preciso elogiar o trabalho de Xolo Maridueña na caracterização de Jaime, levando o personagem para além do rótulo de “herói latino”. Esbanjando carisma, o astro confere personalidade ao herói da DC, dando a ele conflitos e motivações próprias. Mas o destaque vai mesmo para Bruna Marquezine. A brasileira interpreta Jenny Kord, cuja função na trama vai muito além do par romântico do herói. Marquezine mostra confiança sempre que entra em cena, não se intimidando diante de uma atriz consagrada como Susan Sarandon (que interpreta Victoria Kord, tia de Jenny e vilã da história), muito menos pela pressão de sua estreia em Hollywood.
Mesmo recheado de clichês, Besouro Azul é uma aventura divertida, carismática, feita com muita paixão e que merece ser assistida. Fácil de embarcar, a jornada de Jaime Reyes nos faz torcer para que a promessa de James Gunn, de que o personagem será parte do novo Universo DC, seja cumprida e que, agora que já foi devidamente apresentado, possa alçar voos mais ousados.