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O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder entrega segunda temporada épica, apesar de algumas derrapadas | Crítica

  • André Keusseyan
  • 5 de nov. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 25 de jan.

Série do Prime Video teve grande melhora no ritmo da narrativa, mas ainda falha na hora de conciliar todas as tramas




Sauron é o grande personagem da segunda temporada de Anéis de Poder
(Amazon/Divulgação)

O Senhor dos Anéis é sem dúvida uma das mais importantes obras da história. Criado por J.R.R. Tolkien, o universo da Terra-média encantou gerações de fãs e teve duas trilogias de filmes adaptadas para o cinema, a primeira acabou se tornando um estrondoso sucesso, já a segunda dividiu opiniões. Desde que adquiriu os direitos para adaptar parte dessas histórias, a Amazon não poupou esforços (e dinheiro) para fazer de sua série, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, uma obra tão marcante quanto os longas produzidos pela Warner Bros. No entanto, a primeira temporada sofreu com um ritmo inconstante, pouco equilíbrio entre tantos núcleos e com algumas “liberdades poéticas” que causaram incomodo.


Felizmente, é errando que se aprende e em sua segunda temporada, a produção do Prime Video começou a corrigir seu curso. Com mais confiança na história que quer contar, a série trouxe uma narrativa muito mais coesa e emocionante. Se a primeira temporada se preocupou em estabelecer o mundo e seus personagens de forma bem lenta e didática, a segunda não perde tempo e foca em alguns dos momentos mais marcantes das histórias de Tolkien. O que a temporada deixa claro desde o início, é que essa melhora na narrativa se deve graças à presença de um vilão contra o qual todos possam se unir.


A trama do primeiro ano girou quase que totalmente em torno do mistério sobre a volta de Sauron (Charlie Vickers). A dúvida sobre a identidade do Senhor Sombrio agitou as redes sociais durante a exibição dos episódios, mas ao mesmo tempo, a demora pela grande revelação não só deixou a temporada arrastada, como passou a impressão de que a ameaça não era tão urgente assim.


Tudo isso muda no segundo ano. Afinal, O Senhor dos Anéis sempre foi sobre a clássica luta entre o bem e o mal e não há dúvidas de que Sauron é o grande nome dessa temporada de Anéis de Poder. Deixando a figura do mortal Halbrand para trás, o Inimigo assume agora uma forma muito mais conhecida pelos fãs de Tolkien: Annatar, um emissário dos Valar cuja missão é “salvar” os povos livres da Terra-Média.


Essa temporada deixa claro porque o senhor Sombrio tem a alcunha de O Grande Enganador. Em performance surpreendente, Vickers constrói um Sauron charmoso e dissimulado, que sabe usar as palavras para enxergar o coração das pessoas e assim usar suas fragilidades para manipulá-las. É o caso de Celebrimbor (Charles Edwards), o maior dos ferreiros élficos, enganado para forjar os Anéis de Poder. Apesar de o público enxergar com clareza as manipulações de Annatar/Sauron, a série acerta ao nunca colocar Celebrimbor em um lugar de total ignorância, deixando o elfo sempre desconfiado das intenções do Grande Enganador, mas cedendo a suas vontades no final.


As cenas protagonizadas por Vickers e Edwards estão entre as melhores da temporada.
As cenas protagonizadas por Vickers e Edwards estão entre as melhores da temporada (Amazon/Divulgação)

Isso tudo torna a dinâmica construída entre os dois personagens extremamente fascinante de se acompanhar, pois ainda que não aja maldade nas ações de Celebrimbor, nunca fica claro até que ponto o ferreiro está sendo manipulado ou se deixando manipular devido a seus próprios desejos por grandeza. Dessa forma, as cenas protagonizadas por Vickers e Edwards estão entre as melhores da temporada.


O carisma de Sauron é tão poderoso que engrandece todos que interagem com ele, como são os casos de Galadriel (Morfydd Clark), Elrond (Robert Aramayo) e Adar (Sam Hazeldine, substituindo o ator Joseph Mawle). Mas o destaque fica mesmo com o núcleo de Khazad-dûm. A trama dos anões já foi uma das melhores do primeiro ano, mas com a chegada dos Sete Anéis de Poder, o que era bom fica melhor. É aqui que começamos ver a sombra de Sauron se espalhando pela Terra-média através dos Anéis.


Diferente dos Três Anéis élficos, forjados no final da temporada anterior, os Sete dos anões tiveram o envolvimento direto do Senhor Sombrio em sua criação.  É emocionante e triste acompanhar a derrocada de Durin III (Peter Mullan), o outrora respeitável rei de Khazad-dûm que vai sendo dominado pela influencia dos Anéis até se tornar um risco para o próprio reino. Cabe, portanto, a seu filho, Durin IV (Owain Arthur), conciliar o amor que sente pelo pai com o dever de proteger o povo de Khazad-dûm. Em um mundo de elfos e outros seres imortais, os anões sempre foram, ao lado dos Hobbits, o núcleo mais “humano” da franquia e a jornada que pai e filho trilham na série apenas comprova isso. Jornada essa que culmina em um dos momentos mais épicos da temporada.


Apesar da indiscutível melhora, a segunda temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder ainda derrapa quando o assunto é equilibrar todos os núcleos. Enquanto as jornadas daqueles ligados aos Anéis correm de forma mais dinâmica, a trama da ilha de Numenor segue navegando em águas mais lentas. Mesmo com a ascensão de Pharazôn (Trystan Gravelle) ao trono, não dá para negar que a série não conseguiu dar para a o grande reino da raça dos Homens a mesma atenção que deu ao resto. Felizmente isso tende a mudar, pois pelo andar da carruagem, o destino de Numenor deve ser o grande evento da próxima temporada.


Mas a parte que mais incomoda na temporada, com certeza é o arco envolvendo O Estranho (Daniel Weyman) e os Pés-Peludos. Se no primeiro ano o núcleo do Istar com os ancestrais dos Hobbits foi um dos melhores, nesse segundo, ele caiu para a condição de pior. Toda a jornada pelas terras de Rhûn é lenta e desinteressante, montada em cima de um mistério que, francamente, já desvendamos na temporada anterior. Assim, a revelação de que O Estranho é Gandalf, não causa nenhuma surpresa, pelo contrario, a cena gera certo incomodo ao tentar dar uma origem para o nome do mago.


O Cerco de Eregion com certeza ficará marcado como um dos momentos mais memoráveis, não só da série, como de toda a franquia.
O Cerco de Eregion ficará marcado como um dos momentos mais memoráveis da franquia (Amazon/Divulgação)

Para não dizer que o núcleo foi completamente dispensável nessa temporada (afinal ele é esquecido por vários episódios até retornar para o “season finale”), ele teve bons momentos e o responsável por isso é Tom Bombadil (Rory Kinnear). O clássico personagem de O Senhor dos Anéis, deixado de fora da trilogia de filmes dirigida por Peter Jackson, faz sua estreia em live-action protagonizando cenas, ao lado de Gandalf, que devem, imagino eu, aquecer o coração de qualquer Tolkiniano.


Outro ponto que ainda causa incômodo são as velhas “liberdades poéticas” que a série toma. Além da já citada origem para o nome Gandalf, a temporada trouxe uma cena completamente desnecessária entre Elrond e Galadriel que com certeza vai irritar os fãs raiz de Tolkien. Antes que isso soe como uma simples reclamação de fã, não há mal nenhum em mudar certas características de personagens, desde que isso seja feito respeitando a essência deles e com um foco claro em contar uma boa história, o que não foi o caso. Mesmo que a intenção que os showrunners quiseram passar com a cena em questão seja entendível, havia outras formas menos polêmicas de se resolver a situação que estava sendo apresentada. A sensação que fica no final é que tudo não passou de uma decisão meramente comercial, tomada por executivos e investidores que, talvez, nunca leram e nem lerão O Senhor dos Anéis.


Falar da produção é chover no molhado. Desde o primeiro minuto da série, é indiscutível que o dinheiro foi bem gasto. Cada detalhe nos figurinos e cenários, além do capricho com os efeitos visuais, é prova do comprometimento da equipe em transpor para a tela tudo que imaginamos nos livros. Mas ainda assim, é preciso elogiar o grande momento da temporada: o Cerco de Eregion.


O cerco dos orques de Adar ao reino de Celebrimbor é espetacular! Bem dirigida e coreografada, a batalha, que dura dois episódios, é a conclusão de todos os arcos envolvidos com Sauron e os Anéis de Poder. Repleta de cenas emocionantes, o Cerco de Eregion com certeza ficará marcado como um dos momentos mais memoráveis, não só da série, como de toda a franquia.


Com um saldo bastante positivo, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder encerra sua segunda temporada deixando altas expectativas para o que está por vir. Resta esperar que a série mantenha o salto de qualidade que apresentou neste segundo ano e que corrija o que ainda precisa ser corrigido para a terceira temporada.

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