One Piece: A Série honra o legado de Eiichiro Oda, abraçando seu criativo e inusitado universo | Crítica
- André Keusseyan
- 8 de set. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
A adaptação live-action é um verdadeiro presente para os fãs e serve como porta de entrada para navegantes de primeira viagem.

Se você é fã de mangá ou anime, com certeza já deve ter ficado com calafrios sempre que ouvia alguma notícia sobre as obras japonesas estarem sendo adaptadas para live-actions americanos. Não era pra menos, dado o desastroso histórico dessas produções. Filmes como Dragon Ball Evolution, Death Note e a série de Cowboy Bebop, falharam tanto em agradar os fãs de longa data das franquias quanto conquistar um novo público que nunca teve contato com esses universos.
Por isso, quando surgiu a ideia de adaptar One Piece, um dos mangás mais aclamados da história, em uma série live-action da Netflix (responsável pelas adaptações de Death Note e Cowboy Bebop), muitos fãs ficaram desesperados diante da possibilidade de um novo fracasso. Tal desconfiança era válida, não apenas pelo histórico das adaptações live-action, mas também pela complexidade da obra de Eiichiro Oda.
Como um fã das aventuras de Monkey D. Luffy, compartilhei dessa desconfiança durante todo o período de produção da série. Mas é com extrema felicidade que digo: One Piece: A série é a melhor adaptação de um mangá para live-action. A produção honra o material original e abraça sem medo todas as peculiaridades deste inusitado e maravilhoso universo.
A história começa com execução de Gold Roger, o homem que conseguiu dar a volta ao mundo e encontrar um grande tesouro, se tornando assim o Rei dos Piratas. Prestes a morrer, Roger brada suas últimas palavras: “Minhas riquezas e tesouros? Se vocês o quiserem, eu os deixo pegar. Procurem por ele, deixei tudo naquele lugar!” Inflamados pelas palavras de Roger, milhares de pessoas se lançam aos mares para encontrar o lendário tesouro – o One Piece. E assim começa a Grande Era dos Piratas!
Anos depois, Monkey D. Luffy, um garoto que possui um corpo de borracha, após comer uma fruta que lhe concedeu habilidades elásticas, parte em busca do tesouro de Roger e do sonho de se tornar o Rei dos Piratas. Para isso, ele precisa de duas coisas: um mapa para a Grand Line (uma faixa do oceano que leva até o One Piece) e encontrar uma tripulação leal.

A primeira temporada da série adapta os primeiros arcos do mangá (Romance Dawn, Orange Town, Vila Syrup, Baratie e Arlong Park), mostrando Luffy construindo pouco a pouco seu bando pirata. Encontrar as atores certos para viver cada membro do Bando do Chapéu de Palha, não seria uma tarefa fácil, mas felizmente a série da Netflix tira de letra e apresenta um grupo carismático que incorporou cada um de seus respectivos personagens.
Começando pelo capitão. Interpretar Luffy não é simples, uma vez que o protagonista de One Piece possui uma personalidade bem caricata e um tanto peculiar, inimaginável fora do papel/animação. No entanto Iñaki Godoy entrega uma versão de Luffy que abraça o humor bobão do personagem, sem deixar estranho para aqueles que não estão acostumados aos exageros do mangá. Mas seu principal acerto está na representação do coração e do espirito sonhador de nosso protagonista, sempre pronto para ajudar seus companheiros e pessoas em perigo, mesmo rejeitando ser chamado de herói.
Os demais membros do bando não ficam atrás. Mackenyu nasceu para ser Roronoa Zoro, trazendo à tona a força e determinação do espadachim. Já Emily Rudd destaca todo o charme e esperteza de Nami. Jacob Gibson entrega um Usopp digno de ser “um bravo guerreiro do mar”, mas claro, sem perder aquele tom covarde tão marcante do personagem. E Taz Skylar incorpora a personalidade galanteadora de Sanji e entrega algumas das melhores cenas de ação da temporada. O Cozinheiro do bando nos deixa com água na boca, ávidos por mais.
Entre os papéis secundários, se destacam Steven John Ward como Mihawk e Peter Gadiot como Shanks. Ambos impressionam pela fidelidade com que retratam seus respectivos personagens. O primeiro traz toda a calma e a serenidade do maior espadachim do mundo, já o segundo diverte e comove em uma das sequências mais importantes da obra — o flashback de Luffy. Mas quem rouba a cena é Jeff Ward, dando vida ao pirata Buggy, o palhaço. O ator incorpora a personalidade caótica do vilão, fazendo você ir de um momento relaxado e divertido para um momento de tensão num piscar de olhos.

Um dos pontos de maior acerto do live-action é a fidelidade na representação visual dos personagens e do mundo de One Piece. A produção abraçou a criatividade de Eiichiro Oda na criação dos seres e das habilidades especiais presentes neste universo fantástico. Tudo isso, somado a efeitos especiais realmente impressionantes, faz a Netflix colocar fim a um dos principais receios dos fãs, e mostrar que o que antes parecia inimaginável, agora é possível.
No entanto, ter o visual parecido, atuações cativantes, ou recriar cenas icônicas do mangá, de nada adiantaria, se a adaptação não transmitisse a essência da obra original. Eiichiro Oda criou uma verdadeira odisseia pelo mar, abordando temas complexos, numa densa trama histórica e política. Felizmente, One Piece: A Série honra o legado de Oda, e celebra o espirito de aventura da jornada de Luffy e de seus companheiros com tudo que faz a história ser tão amada pelos fãs: a ação, o sonho de liberdade, e o humor, principalmente o humor.
Mesmo assim, a produção de Matt Owens e Steven Maeda, não fica apenas no “copia e cola” da obra original. E isso é muito bom, pois estamos falando de um mangá que tem 26 anos de duração. Com tanta coisa para ser contada, as alterações que o live-action traz em relação ao mangá, estão aqui para amarrar alguns eventos e narrativas de forma mais dinâmica no novo formato, mas sem trazer prejuízos à trama.
Por outro lado, essas mudanças acabam acelerando demais o ritmo de algumas subtramas, como o passado de Usopp e Nami, que não entregam toda a carga dramática que deveriam ter. Mas os fãs não precisam se preocupar, a cena mais emocionante do arco de Arlong Park (o pedido de ajuda de Nami para Luffy) está lá e é belíssimo.
Mesmo que não esteja isenta de tropeços, a 1ª temporada da série live-action de One Piece supera as expectativas e acerta onde as produções anteriores falharam. A série agrada os fãs de longa data e é um convite para que navegantes de primeira viagem possam mergulhar neste universo inusitado, incrível e acima de tudo único. One Piece: A Série é um verdadeiro presente e mostra que mangás e animes podem sim ser adaptados para um novo formato, basta valorizar e apreciar com muito carinho tudo aquilo que os tornam especiais.