The Mandalorian: 3ª temporada expande o universo e prepara o caminho para o grande final no cinema | Crítica
- André Keusseyan
- 26 de abr. de 2023
- 6 min de leitura
Atualizado: 25 de jan.
Apesar de irregular, o terceiro ano da série acerta ao focar no povo mandaloriano.

Quando a segunda temporada de The Mandalorian chegou ao fim, a grande pergunta que ficou era para onde a história iria. A jornada do caçador de recompensas mandaloriano, Din Djarin (Pedro Pascal), e de Grogu, pequeno alienígena nomeado carinhosamente pelos fãs como “baby Yoda” havia chegado a uma conclusão épica e satisfatória, com direito a participação especial de Luke Skywalker (Mark Hamill) no ultimo episódio.
Para o terceiro ano, os diretores John Favreau e Dave Filoni, resolveram ousar e focar não apenas em Din Djarin, mas em todo o povo mandaloriano. A decisão, acertada em minha opinião, expande o universo da série, aprofundando a história e cultura mandaloriana para além dos olhos de apenas um membro da doutrina. Personagens antes tidos apenas como secundários, passaram a ter muito mais importância, principalmente Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff). A antiga líder de Mandalore, que já havia sido apresentada nas animações Star Wars: The Clone Wars (2008 - 2020) e Star Wars: Rebels (2014 - 2018), e que fez sua estreia em live action na segunda temporada da série, assumiu aqui uma posição de protagonista. Seu desejo de reunir todos os mandalorianos, espalhado pela galáxia, para reconquistar seu planeta natal, destruído pelo Império, é o que move toda a narrativa da temporada durante seus oito episódios.
O roteiro desenvolve intimamente a relação entre Din Djarin e Bo-Katan, mostrando como a liderança e o carisma da princesa mandaloriana vão conquistando o caçador de recompensas até o ponto em que ele passa a ter o mesmo desejo de sua companheira. Ao mesmo tempo é justamente a dedicação que “Mando” tem pela doutrina que move Bo-Katan em direção a seu sonho de uma Mandalore forte, e acima de tudo unida. Vale destacar as atuações de Pedro Pascal, Katee Sackhoff e dos demais dublês e lutadores que mesmo por baixo das armaduras, conseguem passar emoções e dar para seus personagens personalidades próprias.
Seguindo a linha da “Aventura da Semana”, conceito já adotado nas temporadas anteriores e nas animações, o grupo de diretores, que incluem Carl Weathers, Bryce Dallas Howard e Rick Famuyiga, sabem entregar exatamente aquilo que os fãs de Star Wars querem ver, fazendo a série passar longe da monotonia mesmo em momentos menos explosivos. Os cineastas utilizam essas histórias episódicas para trazer uma diversidade de gêneros à franquia, destacando-se o episódio 5 “O Pirata”, um episódio marcante, repleto de ação, onde Greef Karga (Carl Weathers), magistrado do planeta Nevarro e amigo de Din Djarin, pede ajuda ao mandaloriano para lidar com violentos ataques piratas ao planeta; o episódio 6 “Armas de Aluguel”, que conta com as participações especiais de astros como Jack Black (Super Mario Bros: O Filme) e Christopher Lloyd (De Volta para o Futuro) e coloca Din Djarin e Bo-Katan como uma espécie de dupla policial, investigando uma série de casos de mau funcionamento de Droids, numa trama que envolve todos os clichês do gênero; e principalmente o episódio 3 “O Convertido”, que sai do núcleo mandaloriano, para acompanhar a rotina do Dr. Pershing (Omid Abtahi), um cientista especializado em clonagem, dentro do Programa de Anistia dado pela Nova República a soldados e cientistas que antes serviram ao Império. Um tema extremamente complexo e que faz alusão a acontecimentos reais, quando cientistas alemães que serviram o partido Nazista durante a 2º Guerra, foram acolhidos pelos Estados Unidos.

Entre todos os temas abordados na temporada, o que mais se destaca é a questão sobre pertencimento. Praticamente todos os personagens estão buscando se sentir como parte de algo. Din Djarin, após ser excomungado de seu clã, uma vez que quebrou as regras da doutrina ao retirar seu capacete em público no final da segunda temporada, inicia o novo ano procurando uma maneira para restaurar sua honra e poder voltar a ser um Mandaloriano. Já Bo-Katan aparece desolada após seus súditos a abandonarem devido sua falha em recuperar o Sabre Negro e desesperada por pertencer a algum lugar, a princesa de Mandalore acaba cedendo e entrando para o clã de “Mando”, mesmo sem acreditar na tradição de nunca retirar o capacete. Dr. Pershing, por sua vez, procura seu lugar dentro do novo governo, mesmo que no seu intimo, sinta falta de algo tão simples, como um biscoito que comia nos tempo do Império. Até mesmo os Droids apresentados no sexto episódio estão preocupados com seu lugar na sociedade, uma vez que temem o momento em que os humanos não precisem mais deles.
Tanto conteúdo, no entanto, resulta numa pressa desnecessária em amarrar todas as tramas apresentadas até aqui, o que diminui o impacto de todos os conflitos do terceiro ano. Soluções convenientes, como a forma que o Sabre Negro deixa de pertencer a Din Djarin e retorna, enfim, para as mãos de Bo-Katan podem até passar, mas a ameaça do vilão Moff Gideon (Giancarlo Esposito) acaba prejudicada. A sombra do vilão paira sobre a galáxia a temporada inteira, mas seu retorno apenas nos episódios finais, apesar da aura imponente de Esposito, resulta numa conclusão sem peso. Gideon surge apenas como um obstáculo na retomada de Mandalore e revela seus planos de dominação de forma bem didática, apenas para vê-los destruídos quase imediatamente.
Apesar disso, o vilão protagoniza uma das melhores cenas da temporada ao lado do Conselho das Sombras, um grupo de remanescentes do Império que tentam cada um a sua maneira, reviver o antigo governo. Seja através dos Mandalorianos como Gideon, do Projeto Necromante (retorno do Imperador), ou apostando chegada de uma nova Era sob a liderança do Grande Almirante Thrawn, algo que veremos em Ahsoka.
Precisamos também falar do elefante na sala, ou melhor, do Jedi na sala. Quando Grogu vai embora com Luke, no final da segunda temporada, sua jornada se conclui perfeitamente. Contudo, o potencial comercial do personagem praticamente obrigou John Favreau e Dave Filoni a encontrarem uma forma de trazê-lo de volta. Assim, a dupla utilizou dois episódios de O Livro de Boba Fett para justificar sua volta para o lado de “Mando”. Por um lado a decisão foi acertada, pois Din Djarin e Grogu formaram uma dupla tão marcante que é difícil imaginar os dois juntos, mas por outro, todo o peso emocional do final da segunda temporada acabou se esvaindo e o ficou claro que o personagem não fazia parte dos planos iniciais para essa temporada. Quase sem função no novo ano, Grogu apenas segue Din Djarin aonde quer que o mandaloriano vá, aparecendo apenas para protagonizar algum momento de fofura ou como uma das soluções convenientes do roteiro para os problemas enfrentados pelo mandaloriano. No entanto, o personagem rende alguns momentos bastante épicos e importantes para a saga.
O principal deles com certeza é a revelação de como o pequeno sobreviveu ao ataque clone ao templo Jedi durante a Ordem 66. Um momento importante dentro e fora das telas por contar com a participação do ator Ahmed Best, que interpretou o personagem Jar Jar Binks nos Episódios I, II e III. Seu personagem foi tão desaprovado que Best considerou cometer suicídio. Mas agora o ator retorna ao universo de Star Wars para uma merecida redenção na pele do mestre Jedi Kelleran Beq.

O saldo final da 3ª temporada de The Mandalorian com certeza é um misto de sentimentos. Seus altos e baixos deixam o terceiro ano abaixo dos anteriores (talvez seja bem complicado superar um Luke Skywalker), mas assim como “O retorno de Jedi” está abaixo de “O Império Contra-ataca”, ambas as produções se encerram de forma épica e satisfatória, encontrando defensores mesmo em seus momentos mais divisivos. Apesar de um episódio final muito corrido e com muitas soluções simples, as cenas de ação são memoráveis, tornando a batalha entre o exercito mandaloriano e os novos Dark Troopers, ou melhor, dizendo “Mando Troopers”, um dos momentos mais marcantes de toda a saga.
Recentemente a Lucasfilm reestruturou todo o seu calendário de lançamentos. Filmes foram cancelados e outros foram anunciados. Entre eles está o filme que será dirigido por Dave Filoni e que promete encerrar a saga de Din Djarin e Grogu no cinema. Por este motivo, a terceira temporada parece ter ficado responsável por amarrar todas as pontas soltas antes que seus criadores possam se dedicar aos outros títulos da franquia. Porém, diferente de que aconteceu em O Livro de Boba Fett ou na Trilogia Sequência, os showrunners parecem saber exatamente para onde querem levar a história. Mesmo que feito de forma apressada, o caminho está pavimentado para que Ahsoka (prevista para ser lançada em agosto desse ano) assuma o posto de carro-chefe da franquia e leve todos esses personagens para uma grandiosa conclusão na tela grande, numa espécie de “Vingadores Ultimato” do “Mandoverso”.