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  • Indiana Jones e a Relíquia do Destino: Volte a ser criança! | Crítica

    Na despedida do personagem, Harrison Ford entrega um filme nostálgico e emocionante para fã nenhum botar defeito. Por mais de 120 anos o cinema nos presenteou com diversos personagens marcantes. Alguns são tão icônicos que basta uma imagem ou um trecho de trilha sonora para nos lembrarmos deles. Um dos maiores exemplos é Indiana Jones . Protagonizado por Harrison Ford , as aventuras do arqueólogo criado pelos mestres George Lucas e Steven Spielberg , encantaram gerações desde sua estreia em 1981. Agora, após quatro filmes e da compra da Lucasfilm pela Disney , chega aos cinemas Indiana Jones e a Relíquia do Destino , um filme que ousa pouco, mas encerra a saga do herói de forma digna. Situado no início dos anos 1970, quase 20 anos após os eventos do controverso Reino da Caveira de Cristal (2008), a nova aventura apresenta Indy (Ford) completamente perdido e sozinho em um mundo que está mudando rapidamente. Entre a euforia da chegada do homem à Lua e os protestos contra a Guerra do Vietnã, parece não haver lugar neste novo mundo para um homem vivido como ele, nem para seus conhecimentos. É neste cenário que surge Helena (Phoebe Waller-Bridge) , afilhada do protagonista, que o coloca novamente na ativa em busca de um poderoso artefato que está ligado com seu passado. A partir dai o filme abraça todos os elementos que tornam Indiana Jones um personagem tão querido. De chicote e chapéu em mãos partimos, ao som da clássica trilha sonora, em direção a uma clássica aventura do arqueólogo, que deixa o fã com um enorme sorriso no rosto com suas viagens ao redor do mundo, perseguições eletrizantes, e com Indy fazendo o que faz de melhor: dar porrada em nazistas. É nítido que a proposta de Relíquia do Destino nunca foi estabelecer novos rumos para a franquia, ou conquistar um novo público. Pelo contrário, o filme é como um “porto seguro” para aqueles que acompanham as aventuras de Indiana Jones durante décadas, e como se trata da despedida do personagem, uma vez que Ford já anunciou sua aposentadoria da franquia, é possível enxergar o longa como uma grande homenagem ao ator, a Indy e a seus fãs. Mesmo com muitas cenas que referenciam os filmes antigos do explorador, o diretor James Mangold (Logan) não pesa a mão na nostalgia, equilibrando as homenagens à franquia com uma história que brinca com o tema tradição x modernidade. A sequencia inicial do filme é um prólogo situado no final da Segunda Guerra Mundial, mostrando um jovem Indiana Jones tentando recuperar artefatos históricos que estavam sendo roubados pelas forças alemãs. Vale destacar aqui o excelente trabalho da equipe de efeitos especiais na criação em CGI de uma versão rejuvenescida de Harrison Ford. A sequência tem como propósito mostrar o personagem no auge, bem como seu fascínio pelas relíquias do passado, para logo em seguida jogá-lo na dura realidade do inicio da década de 70, um tempo onde as pessoas olhavam mais para o futuro, e não se importam com quem ele foi ou com o que ele ama. Neste contexto, Harisson Ford entrega um Indiana Jones amargurado pelos obstáculos que surgiram durante o caminho, apegado aos dias de glória e que não demonstra apresso pelo cenário atual do mundo, mas seus olhos ainda guardam o mesmo brilho diante de uma nova jornada. Por outro lado, temos Phoebe Waller-Bridge que se destaca como a dúbia Helena. A atriz de Fleabag (2016-2019) mostra todo seu talento e charme na construção de uma personagem que serve como bom contraponto ao vivido Indiana Jones. Com certeza Helena se torna uma grande adição na galeria de companheiros de Indy. Nessa mesma toada geracional, a produção acerta novamente ao trazer de volta os vilões mais tradicionais da franquia: os nazistas. Representados na figura do Dr. Jürgen Voller (Mads Mikkelsen) , cientista do Terceiro Reich que, após a guerra, foi recrutado pelo governo americano na operação conhecida como paperclip , se tornando crucial para o sucesso do país na corrida espacial. O filme faz uma espécie de comparação entre Indiana Jones e Voller. O personagem de Mikkelsen também se mostra apegado a seus dias de glória na Segunda Guerra e, inconformado com a derrota Alemã, demonstra certo desdém pelo cenário atual do mundo. No entanto, diferente de Indy, cuja experiência e conhecimento não interessam mais à nova geração, o apego de Voller aos ideais nazistas é forte o suficiente para recrutar vários agentes governamentais americanos para sua causa. Entre eles se destaca Klaber (Boyd Holbrook) , um típico estadunidense branco que abraça a ideologia nazista movido por um delírio de pureza racial e por um saudosismo injustificável por uma época que nunca viveu. Mangold toca aqui em um tema assustadoramente moderno, mostrando que é possível se aprender muito com o passado, para bem e para o mal. Outro ponto positivo do filme é seu clímax. Nessa hora, o roteiro (assinado por Mangold, David Koepp e os irmãos John-Henry e Jez Butterworth ) parece ter sido escrito por crianças, mas não me entendam mal, não digo isso de maneira pejorativa, muito pelo contrário. A sensação que se tem vendo o ato final é de que todos os roteiristas voltaram no tempo e estavam brincando e se divertindo com seus bonecos de Indiana Jones, criando uma aventura inusitada cujo proposito é apenas esse: divertir. E se me permitem uma observação mais pessoal, foi exatamente assim que deixei a sala de cinema. Voltando a ser aquele garoto que assistiu Caçadores da Arca Perdida ( 1981) pela primeira vez, doido para pegar meus bonequinhos e brincar. Com tudo isso em mãos, é seguro dizer que Indiana Jones e a Relíquia do Destino atinge seu objetivo. O novo filme diverte e encanta especialmente aqueles que, assim como Sallah (John Rhys-Davies) , sentiam saudades do deserto, do mar, de acordar toda manhã imaginando que aventura maravilhosa o novo dia traria e buscavam exatamente essa “clássica aventura de Indiana Jones” para sair com o coração quentinho. Relíquia do Destino é um reencontro nostálgico que encerra a saga do maior arqueólogo da cultura pop de maneira gloriosa. Adeus, Indiana Jones! E obrigado, Harrison Ford!

  • Missão Impossível: Acerto de Contas parte Um prepara o final épico para a saga de Ethan Hunt | Crítica

    Sétimo filme da franquia entrega sequências de ação de tirar o fôlego, enquanto faz planos para o futuro, diante da possível despedida de Tom Cruise Missão impossível é uma das franquias mais longevas e celebradas do cinema. A saga de Ethan Hunt conquistou público e crítica devido o carisma do astro Tom Cruise , e suas sequências de ação memoráveis, realizadas pelo próprio ator, que vão desde escalar o prédio mais alto do mundo (o Burj Khalifa em Dubai, Emirados Árabes Unidos) até se jogar de um penhasco em cima de uma moto. Agora, a franquia chega a seu sétimo capítulo com Missão Impossível: Acerto de Contas parte Um , filme que tem como função manter o alto padrão alcançado nas produções anteriores, mas também concluir de forma épica a história de Ethan (pelo menos por enquanto). O filme começa em um submarino russo de alta tecnologia, capaz de se tornar invisível para os radares de qualquer inimigo devido a uma Inteligência Artificial em seu sistema. De repente, o submarino se vê sob ataque, mas ao confrontar a ameaça, os tripulantes percebem que o alvo nunca existiu, sua presença havia sido forjada pela própria IA que se tornou autoconsciente. A partir dai a trama coloca Ethan Hunt e sua equipe em uma espécie de caça ao tesouro para encontrar duas chaves que, quando combinadas, são capazes de controlar ou destruir a IA conhecida como A Entidade. A ameaça nunca foi tão real. Claro que quando começou a ser escrito, não havia como prever o cenário atual da sociedade, mas os adiamentos que sofreu devido à pandemia de COVID-19 , acabaram beneficiando o filme, que tem como principal antagonista uma Inteligência Artificial, e é lançado justamente quando as discussões sobre o uso e os perigos da Inteligência Artificial estão em grande evidencia. Muitas pessoas estão preocupadas com o desenvolvimento desse tipo de tecnologia. Na última sexta-feira, dia 14, por exemplo, os atores de Hollywood se uniram aos roteiristas e entraram em greve contra os grandes estúdios de cinema. Uma de suas reinvindicações é a regulamentação da Inteligência Artificial, para evitar que profissionais das áreas sejam substituídos pelas máquinas. O medo e a desconfiança sobre o que é real e o que não é domina Acerto de Contas . A Entidade é capaz de redesenhar toda a sociedade moderna, e ainda é furtiva ao ponto de ser invisível para todo tipo de tecnologia eletrônica, o que a torna objeto de desejo para todos os governos do mundo, e põe um alvo na testa de qualquer um que queira destruir a IA por acreditar ser muito poder para apenas um controlar. É ai que entra a figura de Ethan, que passa a ser caçado, inclusive por seu próprio governo. Ao retirar de Hunt e seu grupo o amparo de todas as agência ou governos, o filme coloca o espectador em um cenário sufocante, onde não se pode confiar em ninguém. Durante suas 2h40 de duração, a produção oferece tensão constante, com os protagonistas tendo que se superar não apenas para concluir a missão, mas também para realizá-la. Um dos trechos que simboliza bem a pegada do filme é a sequência do aeroporto, em que Hunt e seus aliados precisam interceptar a venda de uma das partes da chave que controla A Entidade. No entanto, algo que seria simples de se resolver, acaba se complicando quando surge Grace ( Hayley Atwell ), uma ladra que furta a chave do vendedor, sem saber no que está se metendo, sendo então forçada a cooperar com Hunt, que deve resolver tudo de forma furtiva, não apenas para não alertar o vendedor, como também para se esconder da força tarefa americana designada para prendê-lo. Como se tudo isso não bastasse, a situação se torna ainda mais complexa com a chegada de Gabriel ( Esai Morales ) um homem cruel e implacável a serviço da própria Entidade e que compartilha um passado com o protagonista. Tudo isso culmina ainda numa cena em que Benji ( Simon Pegg ) precisa resolver uma série de charadas para desarmar uma bomba nuclear escondida entre as bagagens. A partir daí, o filme busca criar situações cada vez mais complexas, cuja intensidade e tensão vão aumentando progressivamente. A ação não para e o público até perde o fôlego a cada novo obstáculo que surge no caminho dos heróis, especialmente pelo escopo megalomaníaco das sequências. Tom Cruise e o diretor Christopher McQuarrie , que apoia e realiza muitas loucuras do astro, formaram a parceria ideal para criar espetáculos de ação, cada vez maiores, com o mínimo de computação gráfica possível. Após ver Tom Cruise correndo, saltando de moto do pico de uma montanha, ou lutando em cima de um trem em movimento, é impossível não parar para tomar um ar ao sair da sala de cinema. Se todos querem possuir A Entidade, nada mais justo que uma das partes interessadas seja a própria Inteligência Artificial. Ela então usa Gabriel, como uma espécie de fantoche, para conseguir a chave que a controla para si. Esse conceito é muito interessante, mas também é o ponto mais fraco do filme, uma vez que não nos é revelado às motivações de Gabriel para obedecer A Entidade, nem o contexto de sua rixa com Hunt. Provavelmente todas essas informações foram deixadas para serem respondidas na segunda parte do filme, mas ao optar por essa decisão, o vilão, nesta primeira parte, ficou reduzido apenas ao papel do “cara mau” que quer ferir o herói simplesmente porque sim. Acerto de Contas deixa claro a todo o momento que se trata de uma conclusão para a franquia, mas ao mesmo tempo o filme vai plantando elementos que podem ser aproveitados em uma nova continuação, mesmo que seja sem Ethan Hunt. A introdução de Grace, personagem de Hayley Atwell, passa essa sensação. A ladra é carismática e habilidosa, e sua lábia e humor, combinados com o todo o talento da atriz, tornam ela uma excelente adição ao time de Ethan, que acaba criando com a moça uma relação meio que de mestre e pupilo. Dessa forma o filme se torna quase que uma história de origem de uma nova agente da FMI (Força Missão Impossível). Emplacar um sucessor para Hunt logo na parte Um da conclusão não teria problema se a decisão não roubasse o espaço de rostos conhecidos e amados da franquia, como Benji, Luther ( Ving Rhames ) e Ilsa Faust ( Rebecca Ferguson ). Por se tratar de uma despedida para esses personagens, era esperado que cada um tivesse uma participação maior na trama ao invés de apenas contribuírem para o desenvolvimento da relação entre Ethan e Grace. Mas no final, não há nada que não possa ser ajeitado na parte Dois. Nenhum dos problemas do filme apaga seus pontos altos, que mantêm a alta qualidade da saga e figura a produção entre os melhores lançamentos do ano. Tom Cruise parece estar empenhado em trazer de volta a experiência cinematográfica, frente ao crescimento do streaming pós-pandemia. E assim como foi com Top Gun: Maverick em 2022, tudo indica que Missão Impossível 7 irá, mais uma vez, “salvar a bunda de Hollywood”, como dito por Steven Spielberg. Missão Impossível: Acerto de Contas parte Um é um filme eletrizante do começo ao fim. Deixa o público ansioso pela Parte Dois e prepara todo o cenário para a despedida épica de uma das melhores sagas do cinema. Mas, será este mesmo o fim? É difícil imaginar um futuro sem Ethan Hunt, e em entrevista recente, Tom Cruise, hoje com 61 anos de idade, enalteceu o trabalho de Harrison Ford , que aos 80 anos retornou a seu emblemático papel como o arqueólogo Indiana Jones . Cruise revelou que gostaria de seguir os passos de Ford e continuar em Missão Impossível até chegar aos 80. Não dá para saber o que será do futuro, mas baseado no que o filme nos mostrou, não custa sonhar com mais 20 anos de Tom Cruise correndo, lutando e se superando.

  • Oppenheimer: O épico histórico de Christopher Nolan | Crítica

    Em sua primeira cinebiografia o diretor entrega um espetáculo de tirar o fôlego, digno de ser visto no cinema. Os filmes do diretor Christopher Nolan sempre são um marco na história do cinema. Sejam elas, obras mais “complexas”, como A Origem (2010) ou Tenet (2021), histórias originais dentro de um cenário real, como Dunkirk (2017), ou até entrando no gênero de super-herói com a trilogia Cavaleiro das Trevas (2005-2012), o cineasta entrega experiências fantásticas que merecem ser vistas nas melhores salas de cinema. Esse é o caso de Oppenheimer , sua primeira cinebiografia, que acompanha a história do cientista conhecido como “pai da bomba atômica”. Cinebiografias são atrativas simplesmente por passarem a sensação de que “se a história retratada é digna de ser imortalizada em um filme, significa que o assunto é realmente extraordinário”, mas nas mãos de um gênio como Nolan, um simples filme biográfico se transforma em um épico histórico de cair o queixo, capaz de fazer o público, mesmo após 3 horas, avido por mais. Além de dirigir, Nolan ficou responsável pelo roteiro do filme. Baseado em uma premiada biografia do cientista, a produção conta a história de J. Robert Oppenheimer , físico norte-americano, responsável por liderar o Projeto Manhattan , programa que produziu as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. Desde o primeiro minuto o cineasta faz uso de sua vasta experiência, adquirida após comandar longas de diferentes gêneros, para fazer de Oppenheimer um estudo de personagem ambicioso, interessado em explorar ao máximo todas as facetas do personagem título, quando discutir sobre sua terrível criação. Para isso, a produção se divide em duas linhas narrativas: a primeira aborda toda a carreira de Oppenheimer, suas conquistas, vida pessoal, passando pelo Projeto Manhattan até o primeiro teste da bomba. Já a segunda foca nas consequências do invento para o mundo e para seu inventor. A genialidade de Nolan se faz presente na forma não linear de contar essa história, desenvolvendo ambas ao mesmo tempo, e criando assim um interesse não só na conclusão, mas nos eventos que levaram até determinado acontecimento. Assim como acontece com diversas produções que usam esse formato, as idas e vindas no tempo podem causar certa confusão no começo, porém, o filme cria para cada período, identidades próprias sem quebrar a unidade do projeto, e conforme avança, vão tornando tudo mais fácil de acompanhar, permitindo ao expectador embarcar na jornada sem problemas. Todo o espetáculo vai sendo construído para seu grande clímax: A Experiência Trinity , codinome dado ao primeiro teste nuclear da história. Nolan é conhecido por evitar o uso de computação gráfica e optar por efeitos práticos, dessa forma o diretor usa toda sua habilidade para recriar de maneira impressionante o evento histórico. A qualidade de som e imagem na cena atingem níveis extraordinários, fazendo o público ficar vidrado na cadeira do cinema, sem respirar diante de tamanho poder de destruição. A sensação de que estamos, de fato, presenciando o evento é real. Mas se engana quem acha que Christopher Nolan é um armamentista que está celebrando a bomba-atômica. Muito pelo contrário. Apesar de toda a qualidade técnica, o filme brilha mesmo ao destacar a figura do homem que foi Robert Oppenheimer, sem medo de destacar seus erros e defeitos. O cineasta demonstra respeito pela história e pelas paixões que moveram o físico, mas conduz um estudo de personagem que pende pelo lado trágico do cientista, mostrando um homem atormentado por sua monstruosa criação. Desde que foi anunciado, um dos grandes atrativos de Oppenheimer foi seu elenco estelar. Parceiro de longa data de Nolan, Cillian Murphy da vida ao complexo cientista de maneira sublime. O astro da série Peaky Blinders da um show de atuação e apresenta um personagem firme, mas ao mesmo tempo frágil, que traduz muito bem as diferentes formas como o físico era percebido pelas pessoas. Murphy é espetacular, mas sua estrela não brilha sozinha. Nomes como Emily Blunt , Florence Pugh , Matt Damon , entre outros, também marcam o expectador na saída do cinema. Cada personagem desempenha um papel importante no desenvolvimento do protagonista, ajudando a retratar uma figura no mínimo controversa, tanto em seus momentos de glória, quanto em suas desgraças. Mas, entre todos desse elenco formidável, quem mais se destaca, além de Murphy, como um dos pilares que sustentam o filme, é Robert Downey Jr. O eterno Homem de Ferro da Marvel mostra que, mesmo após se dedicar por 10 anos a um personagem tão marcante, seu talento não ficou preso a apenas um papel. Não vemos nenhum traço de Tony Stark em sua interpretação magistral do empresário americano e oficial naval Lewis Strauss , cuja relação com Oppenheimer pode ser descrita simultaneamente, como de admiração, mas também movida pela inveja. É difícil não fazer um paralelo entre Mozart e Antonio Salieri no filme Amadeus (1984) , que retrata a rivalidade entre os dois compositores, apesar do respeito mútuo que tinham pelo outro. Oppenheimer vai além do aulão de história e se torna uma experiência cinematográfica de tirar o fôlego. Com atuações memoráveis e qualidade técnica deslumbrante, o filme se coloca como um dos melhores do ano e fortíssimo candidato na próxima temporada de premiações. Não é exagero dizer que Christopher Nolan alcançou um novo nível, em sua já, invejável carreira. Resta aguardar pelos próximos projetos do diretor e pelas surpresas que ele nos reserva.

  • Barbie é um filme nostálgico e inovador que merece o status de fenômeno cultural | Crítica

    Greta Gerwig e Margot Robbie entregam uma história deliciosa e encantadora, sem medo de tocar em assuntos espinhosos. Quando foi anunciado, o filme da Barbie veio repleto de questionamentos. Afinal, o quão inusitado seria um filme live-action da “boneca mais famosa do mundo”? Qual história ele contaria? Por ser uma das marcas mais poderosas do planeta, com uma grande corporação como a Mattel por trás, a chance de a produção ter inúmeras restrições e ser apenas mais um produto feito para ganhar dinheiro fácil era alta. Mas então as notícias começaram a sair, o elenco foi escolhido e um teaser que conta rapidamente a história da boneca, homenageando o clássico de Stanley Kubrick, 2001: Uma odisseia no espaço (1968 ), foi divulgado. A partir dai ficou claro que este filme tinha algo de especial e o fenômeno cor-de-rosa tomou conta das redes sociais, inspirando roupas, comidas, decorações e qualquer outro material de marketing que você puder imaginar. A trama apresenta Barbie vivendo uma vida tranquila e despreocupada na Barbielândia, local onde moram todas as Barbies (e os Kens). Tudo vai bem até que a boneca começa a “dar defeito”. Seus calcanhares agora tocam o chão e ela começa a ter pensamentos profundos sobre mortalidade. Para fazer tudo voltar a ser como antes, ela deve ir até o mundo real e descobrir a causa desses problemas. Histórias onde um personagem deixa seu mundo de fantasia para se aventurar no mundo real é uma fórmula que o cinema está cansado de usar e quase nunca funciona de forma satisfatória. Felizmente, não é o caso do filme de Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres). A diretora não se prende aos clichês utilizados a exaustão em Hollywood e usa o universo da Barbie para contar uma história original e emocionante, sem medo de tocar em assuntos espinhosos. Ao retirar Barbie do ambiente ingênuo e perfeito que é a Barbielândia, a diretora a coloca em uma jornada de amadurecimento onde a boneca questiona seus próprios valores ao se deparar com os problemas do sexismo no mundo real. O roteiro de Gerwig e seu parceiro Noah Baumbach , é inteligente ao utilizar a comédia para falar sobre a forma como os papéis de homens e mulheres são vistos na sociedade ao longo dos tempos. Com muito coração, o filme conta uma história divertida que equilibra perfeitamente o humor acido e inocente com momentos de genuína emoção, principalmente quando o filme entra em seu terceiro ato. Dificilmente você não se verá rindo, para logo em seguida se pegar com uma lágrima escorrendo pelo rosto. Tudo isso é possível graças à ajuda de um elenco escolhido a dedo. Margot Robbie e Ryan Gosling parecem ter nascido para dar vida a Barbie e Ken. Robbie confere doçura e sensibilidade a sua “Barbie estereotipada” (a versão da Barbie que representa a imagem que vem na mente das pessoas ao pensarem na boneca). Já Gosling rouba a cena ao dar profundidade para Ken, mostrando que o personagem vai muito além de “apenas o companheiro da Barbie”. O ator é responsável por alguns dos momentos mais engraçados e mais dramáticos do filme. Não é exagero dizer que o desenvolvimento de seu personagem é um dos melhores dos últimos tempos. Outro grande acerto do filme está na construção da Barbielândia. O mundo cor de rosa criado pela direção de arte é maravilhoso. Cada elemento do cenário parece ter saído diretamente de uma caixa de brinquedos: as casas sem paredes, os carros que abrem e se transformam em outras coisas, os utensílios desproporcionais, e as roupas, cujas peças mais clássicas, foram recriadas nos mínimos detalhes. Esse é o momento fan service do filme, onde você pode voltar a ser criança e ficar caçando referências, ou relembrando suas próprias brincadeiras. Por fim, Barbie é tão nostálgico quanto inovador. Um filme que honra a história e o legado da personagem, mas não a poupa de críticas. Com muito bom humor, Greta Gerwig e Margot Robbie entregam uma história deliciosa e encantadora que diverte, mas que, acima de tudo, faz pensar. A coragem para falar sobre assuntos tão importantes na nossa sociedade fazem de Barbie uma produção marcante e merecedora do status de fenômeno cultural que se tornou.

  • Invasão Secreta: Começou tão bem... | Crítica

    Série da Marvel focada em Nick Fury tem inicio promissor, mas perde o foco e decepciona na reta final. (Divulgação/Disney+) Invasão Secreta é uma das sagas mais contempladas pelos fãs da Marvel nos quadrinhos. Lançada em 2008 a trama mostrava os Skrulls , uma raça alienígena com a capacidade de metamorfosear sua aparência, usando essa habilidade para se infiltrar nos escalões mais altos do governo, das forças armadas e até mesmo da comunidade super-heroica. Dessa forma, heróis eram colocados contra heróis enquanto os alienígenas usavam seus postos de poder para confundir a todos e lançar uma ofensiva maciça para conquistar a Terra. Agora, quase cinco anos depois, Invasão Secreta chegou ao MCU , em formato de minissérie no Disney+ . Logo de cara os fãs reclamaram do fato da série não ser uma adaptação fidedigna das HQs (algo que, diga-se de passagem, a Marvel nunca fez). Ao invés de realizar um megaevento crossover com vários personagens, a produção resolveu fazer algo numa escala menor, focando nos anseios e inseguranças de Nick Fury (Samuel L. Jackson) , em uma trama de espionagem que prometia criar um clima de suspense e tensão em cima da ameaça dos Skrulls. Como dito acima, a série se inspira na trama dos quadrinhos e mostra que os Skrulls estão vivendo secretamente na terra durante anos. Tendo perdido seu planeta natal na época do filme Capitã Marvel (2019), a raça alienígena passou a migrar para a Terra sob a promessa de Nick Fury, de que encontraria um novo lar para os Skrulls, caso eles o ajudassem em certas missões. No entanto, a promessa nunca foi cumprida, o que leva Fury a ter que lidar com a revolta de toda uma raça que, além de se sentir traída pelo ex-diretor da SHIELD, já está espalhada e infiltrada em todas as organizações ao redor do mundo. A sensação de paranoia é muito bem construída durante os primeiros episódios, onde não sabemos em quem podemos confiar. Um belo exemplo é a sequência inicial do primeiro episódio, onde o agente Everett Ross ( Martin Freeman ) é perseguido pelas ruas e telhados de Moscou, terminando em uma reviravolta que faz você questionar tudo o que viu, não apenas nesses primeiro minutos da série, mas em outras produções do MCU. (Divulgação/Disney+) Tentar descobrir se aqueles que vemos em tela são os personagens de verdade ou Skrulls disfarçados é divertido, mas o grande acerto de Invasão Secreta está no desenvolvimento de seus personagens. Após anos vendo-o coordenar todo o universo dos Vingadores , era de se esperar que já soubéssemos tudo sobre o “Grande” Nick Fury, mas acabamos descobrindo muito mais detalhes sobre sua misteriosa vida. Da verdade por trás de sua meteórica ascensão dentro da SHIELD, até detalhes pessoais apenas pincelados em produções passadas do MCU, Samuel L. Jackson está impecável no papel, e por atuar como o personagem por mais de 10 anos, o astro se mostra confortável para trabalhar outras camadas de Fury. O elenco da série sempre foi um de seus principais atrativos. Ben Mendelsohn , que retorna a pele de Talos, ex-general dos Skrulls, entrega um personagem profundo e “cansado da guerra”, criando com Fury uma dinâmica muito interessante que rende alguns dos melhores diálogos da série. Mas quem rouba a cena é Olivia Colman . Fazendo sua estreia no MCU, a ganhadora do Oscar da vida a Sonya Falsworth, uma personagem que não existe nos quadrinhos, e que por isso, dá a Colman total liberdade para criar uma personagem misteriosa e cativante. Certamente uma grande adição para o Universo Marvel . Dentre tantos nomes pesados, um que merece destaque é Kingsley Ben-Adir , ator inglês que da vida a Gravik. O líder da facção radical dos Skrull é um personagem tão complexo que é difícil tratá-lo apenas como um vilão. Há certa validade nos argumentos trazidos por Gravik para justificar a invasão, principalmente quando seus ideais entram em conflito com os de Fury, nos fazendo questionar qual lado está certo na história. O plano dos Skrulls é simples. Usar suas habilidades para manipular os bastidores da política mundial e assim criar uma crise diplomática tão grande que a humanidade será levada a sua própria extinção. Os Skrulls sabem que um planeta engajado em se autodestruir é um planeta muito mais vulnerável para uma invasão, e a série aproveita para mostrar o quão frágil é a nossa sociedade. Basta uma provocaçãozinha aqui, uma explosão ali, para que duas nações com poderio militar gigante fiquem em pé de guerra. (Divulgação/Disney+) Tudo isso mostra que Invasão Secreta tinha o potencial para ser uma das melhores séries da Marvel, mas infelizmente, apesar do início promissor, a série acaba abandonando seu conceito inicial em seus momentos derradeiros, e todo o clima de suspense criado é substituído pela velha ação megalomaníaca das produções de super-heróis. Fica a impressão de que a série não sabia como manter o clima de tensão, algo essencial para uma boa história de espionagem, durante seus seis episódios, entregando todos os mistérios de forma apressada e pouco impactante, além de criar obstáculos no caminho de Fury e de seus companheiros que estão lá apenas para preencher os espaços vazios nos episódios, resultando assim em sequências de ação bem coreografadas, mas cansativas, que não passam nenhuma sensação de perigo, uma vez que suas adversidades são superadas com muita facilidade, quase que imediatamente após serem apresentadas. Invasão Secreta deixa um misto de emoções. Apesar de uma história instigante, que explora profundamente cada um de seus personagens, e gera grandes consequências a longo prazo para o MCU, seu final é tão decepcionante que faz os pontos negativos da série sobreporem os positivos. Num momento em que o público está cansado de tantas produções genéricas de super-heróis, que entregam roteiros medianos e adotam a ação pela ação, deixar de lado aquilo que fazia a série ser única, para talvez, torná-la mais fácil para o público geral, não se mostrou uma decisão sensata. No final, fica a sensação de que a Marvel desperdiçou uma de suas melhores histórias em uma série que poderia ter sido resolvida em um filme de duas horas. Com a greve dos atores e roteiristas de Hollywood a todo vapor, resta torcer para que a Marvel aproveite essa pausa para avaliar todos os erros de suas produções recentes, sobretudo as voltadas para o streaming, e volte a entregar conteúdos de qualidade, como a própria série mostrou ser possível em seu primeiro episódio.

  • Besouro Azul é uma origem de super-herói comum, mas cativante | Crítica

    Apesar de mergulhar nos clichês, o novo filme da DC faz da cultura latina seu grande diferencial em uma história que diverte e emociona. Divulgação/Warner Bros. 2023 tem sido um ano muito complicado para as produções da DC . Em meio a uma mudança nos rumos de seu universo compartilhado, com a chegada de James Gunn , a Warner Bros. tinha que lidar com quatro filmes da gestão passada que ainda estavam para sair, mas não possuíam nenhuma ligação com o futuro do novo DCU . Loucos pra se verem livres das amarras do antigo universo, os executivos da Warner resolveram lançar todos os quatro filmes no mesmo ano, e ainda colocaram James Gunn para anunciar seus projetos futuros antes mesmo desses quatro filmes estrearem, revelando de vez o descaço da atual gestão com as produções antigas. Decisões equivocadas que fizeram o público se questionar: “se os próprios produtores não ligam para esses filmes, por que devemos ligar?”. Como era de se esperar, tais decisões refletiram nas bilheterias e após os fracassos de Shazam! Fúria dos Deuses e The Flash , todas as atenções se voltaram para o menor entre todos eles. Promovido de filme exclusivo do streaming da HBO , para uma produção de cinema, Besouro Azul chega, sob muita desconfiança, no apagar das luzes de um universo fracassado. Ou talvez, no despertar de um novo e esperançoso futuro. Besouro Azul não se importa em explicar qual Superman voa pelos céus de Metrópolis, ou qual Batman vigia as ruas de Gothan, e ao fazer isso, o personagem pode tanto ser deixado de lado, quanto reaproveitado por James Gunn sem que fiquemos fazendo perguntas sobre onde o filme se encaixa na cronología. Livre da obrigação de “salvar” um universo em decadência, ou ser o início de uma nova franquia, o filme foca em contar uma história de origem que, pode soar repetitiva, mas diverte e emociona. O longa conta a história de Jaime Reyes (Xolo Maridueña) , um jovem que, na busca por um emprego que o permita ajudar sua família, acaba entrando em contato com o Escaravelho, um artefato alienígena que, ao se unir a um hospedeiro, lhe concede um uniforme altamente tecnológico com poderes fantásticos. Divulgação/Warner Bros. O filme é uma mistura de Homem-Aranha , com Homem de Ferro e Venon . Jaime Reyes tem os mesmo dilemas e responsabilidade que Peter Parker , possui uma armadura tecnológica que parece ter sido feita por Tony Stark , e tem de enfrentar a ameaça de uma industrial megalomaníaca que pretende unir o parasita alienígena com seres humanos, assim como Eddie Brock faz em Venon (2018). Tudo isso deixa a produção como uma cara muito familiar. Não há nada de novo na parte super heroica da história, cujo roteiro segue a risca a fórmula da “origem de super-herói”, com o protagonista tentando controlar suas habilidades, recusando seus novos deveres, e aprendendo que “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades” . Numa época em que o gênero de super-herói está tão saturado, é compreensível que algumas pessoas sintam que o filme é mais do mesmo, uma vez que histórias de origem já foram contadas a exaustão. Mas, gostemos ou não, as histórias de origem têm, em sua maioria, pontos em comum que são difíceis de ignorar, e o Besouro Azul não é um Superman, nem um Batman, muito menos um Homem-Aranha, cujas histórias já foram contadas e recontadas inúmeras vezes. Trata-se de um personagem inédito, completamente desconhecido para o publico geral e que por esse motivo, precisava ter sua origem contada, mesmo que isso significasse repetir elementos e situações tão utilizadas em produções passadas. Mas se essa fórmula já te esgotou, saiba que Besouro Azul ainda guarda uma carta na manga que faz a produção se destacar das demais: a origem latina do personagem. O filme vai além do retrato estereotipado comum a Hollywood, graças a um primoroso trabalho realizado pelo roteirista mexicano Gareth Dunnet-Alcocer e pelo diretor porto-riquenho Ángel Manuel Soto que, junto do elenco, colocaram suas próprias experiências de vida na concepção da família Reyes. A dinâmica entre os membros dessa numerosa e barulhenta família é cativante e acolhedora desde o primeiro minuto e parte fundamental para o desenvolvimento de Jaime. Divulgação/Warner Bros. As influências trazidas por uma equipe majoritariamente latina criam um retrato afetuoso dessa comunidade e retiram o filme de seu status genérico. Todas as referências presentes na produção não estão ali apenas para agradar o fã, mas também para auxiliar na jornada de Jaime, tanto na ação quanto na comédia. Além da representatividade, é preciso elogiar o trabalho de Xolo Maridueña na caracterização de Jaime, levando o personagem para além do rótulo de “herói latino”. Esbanjando carisma, o astro confere personalidade ao herói da DC, dando a ele conflitos e motivações próprias. Mas o destaque vai mesmo para Bruna Marquezine . A brasileira interpreta Jenny Kord, cuja função na trama vai muito além do par romântico do herói. Marquezine mostra confiança sempre que entra em cena, não se intimidando diante de uma atriz consagrada como Susan Sarandon (que interpreta Victoria Kord, tia de Jenny e vilã da história), muito menos pela pressão de sua estreia em Hollywood. Mesmo recheado de clichês, Besouro Azul é uma aventura divertida, carismática, feita com muita paixão e que merece ser assistida. Fácil de embarcar, a jornada de Jaime Reyes nos faz torcer para que a promessa de James Gunn, de que o personagem será parte do novo Universo DC , seja cumprida e que, agora que já foi devidamente apresentado, possa alçar voos mais ousados.

  • One Piece: A Série honra o legado de Eiichiro Oda, abraçando seu criativo e inusitado universo | Crítica

    A adaptação live-action é um verdadeiro presente para os fãs e serve como porta de entrada para navegantes de primeira viagem. One Piece: A Série/Netflix/Divulgação Se você é fã de mangá ou anime, com certeza já deve ter ficado com calafrios sempre que ouvia alguma notícia sobre as obras japonesas estarem sendo adaptadas para live-actions americanos. Não era pra menos, dado o desastroso histórico dessas produções. Filmes como Dragon Ball Evolution , Death Note e a série de Cowboy Bebop , falharam tanto em agradar os fãs de longa data das franquias quanto conquistar um novo público que nunca teve contato com esses universos. Por isso, quando surgiu a ideia de adaptar One Piece , um dos mangás mais aclamados da história, em uma série live-action da Netflix (responsável pelas adaptações de Death Note e Cowboy Bebop), muitos fãs ficaram desesperados diante da possibilidade de um novo fracasso. Tal desconfiança era válida, não apenas pelo histórico das adaptações live-action, mas também pela complexidade da obra de Eiichiro Oda . Como um fã das aventuras de Monkey D. Luffy , compartilhei dessa desconfiança durante todo o período de produção da série. Mas é com extrema felicidade que digo: One Piece: A série é a melhor adaptação de um mangá para live-action. A produção honra o material original e abraça sem medo todas as peculiaridades deste inusitado e maravilhoso universo. A história começa com execução de Gold Roger , o homem que conseguiu dar a volta ao mundo e encontrar um grande tesouro, se tornando assim o Rei dos Piratas. Prestes a morrer, Roger brada suas últimas palavras: “Minhas riquezas e tesouros? Se vocês o quiserem, eu os deixo pegar. Procurem por ele, deixei tudo naquele lugar!” Inflamados pelas palavras de Roger, milhares de pessoas se lançam aos mares para encontrar o lendário tesouro – o One Piece. E assim começa a Grande Era dos Piratas! Anos depois, Monkey D. Luffy, um garoto que possui um corpo de borracha, após comer uma fruta que lhe concedeu habilidades elásticas, parte em busca do tesouro de Roger e do sonho de se tornar o Rei dos Piratas. Para isso, ele precisa de duas coisas: um mapa para a Grand Line (uma faixa do oceano que leva até o One Piece) e encontrar uma tripulação leal. O Bando do Chapéu de Palha. Netflix/Divulgação A primeira temporada da série adapta os primeiros arcos do mangá ( Romance Dawn , Orange Town , Vila Syrup , Baratie e Arlong Park ), mostrando Luffy construindo pouco a pouco seu bando pirata. Encontrar as atores certos para viver cada membro do Bando do Chapéu de Palha, não seria uma tarefa fácil, mas felizmente a série da Netflix tira de letra e apresenta um grupo carismático que incorporou cada um de seus respectivos personagens. Começando pelo capitão. Interpretar Luffy não é simples, uma vez que o protagonista de One Piece possui uma personalidade bem caricata e um tanto peculiar, inimaginável fora do papel/animação. No entanto Iñaki Godoy entrega uma versão de Luffy que abraça o humor bobão do personagem, sem deixar estranho para aqueles que não estão acostumados aos exageros do mangá. Mas seu principal acerto está na representação do coração e do espirito sonhador de nosso protagonista, sempre pronto para ajudar seus companheiros e pessoas em perigo, mesmo rejeitando ser chamado de herói. Os demais membros do bando não ficam atrás. Mackenyu nasceu para ser Roronoa Zoro, trazendo à tona a força e determinação do espadachim. Já Emily Rudd destaca todo o charme e esperteza de Nami. Jacob Gibson entrega um Usopp digno de ser “um bravo guerreiro do mar”, mas claro, sem perder aquele tom covarde tão marcante do personagem. E Taz Skylar incorpora a personalidade galanteadora de Sanji e entrega algumas das melhores cenas de ação da temporada. O Cozinheiro do bando nos deixa com água na boca, ávidos por mais. Entre os papéis secundários, se destacam Steven John Ward como Mihawk e Peter Gadiot como Shanks. Ambos impressionam pela fidelidade com que retratam seus respectivos personagens. O primeiro traz toda a calma e a serenidade do maior espadachim do mundo, já o segundo diverte e comove em uma das sequências mais importantes da obra — o flashback de Luffy. Mas quem rouba a cena é Jeff Ward , dando vida ao pirata Buggy, o palhaço. O ator incorpora a personalidade caótica do vilão, fazendo você ir de um momento relaxado e divertido para um momento de tensão num piscar de olhos. Buggy, o palhaço. Netflix/Divulgação Um dos pontos de maior acerto do live-action é a fidelidade na representação visual dos personagens e do mundo de One Piece . A produção abraçou a criatividade de Eiichiro Oda na criação dos seres e das habilidades especiais presentes neste universo fantástico. Tudo isso, somado a efeitos especiais realmente impressionantes, faz a Netflix colocar fim a um dos principais receios dos fãs, e mostrar que o que antes parecia inimaginável, agora é possível. No entanto, ter o visual parecido, atuações cativantes, ou recriar cenas icônicas do mangá, de nada adiantaria, se a adaptação não transmitisse a essência da obra original. Eiichiro Oda criou uma verdadeira odisseia pelo mar, abordando temas complexos, numa densa trama histórica e política. Felizmente, One Piece: A Série honra o legado de Oda, e celebra o espirito de aventura da jornada de Luffy e de seus companheiros com tudo que faz a história ser tão amada pelos fãs: a ação, o sonho de liberdade, e o humor, principalmente o humor. Mesmo assim, a produção de Matt Owens e Steven Maeda , não fica apenas no “copia e cola” da obra original. E isso é muito bom, pois estamos falando de um mangá que tem 26 anos de duração. Com tanta coisa para ser contada, as alterações que o live-action traz em relação ao mangá, estão aqui para amarrar alguns eventos e narrativas de forma mais dinâmica no novo formato, mas sem trazer prejuízos à trama. Por outro lado, essas mudanças acabam acelerando demais o ritmo de algumas subtramas, como o passado de Usopp e Nami, que não entregam toda a carga dramática que deveriam ter. Mas os fãs não precisam se preocupar, a cena mais emocionante do arco de Arlong Park (o pedido de ajuda de Nami para Luffy) está lá e é belíssimo. Mesmo que não esteja isenta de tropeços, a 1ª temporada da série live-action de One Piece supera as expectativas e acerta onde as produções anteriores falharam. A série agrada os fãs de longa data e é um convite para que navegantes de primeira viagem possam mergulhar neste universo inusitado, incrível e acima de tudo único. One Piece: A Série é um verdadeiro presente e mostra que mangás e animes podem sim ser adaptados para um novo formato, basta valorizar e apreciar com muito carinho tudo aquilo que os tornam especiais.

  • Ahsoka expande o universo de Star Wars para além da galáxia tão, tão distante | Crítica

    Nova produção de Dave Filoni reverência o passado e olha para um brilhante futuro Crédito: Lucasfilm/Divulgação Poucas pessoas sabem trabalhar com o universo Star Wars com tanta paixão e reverencia quanto Dave Filoni . Desde as animações The Clone Wars e Rebels (dirigidas e criadas por ele) até as séries em live-action, The Mandalorian e O Livro de Boba Fett , é palpável a devoção que o produtor tem por cada um dos habitantes desta galáxia tão, tão distante. Mas sua maior contribuição para a franquia com certeza é a Cavaleira Jedi Ahsoka Tano . A aprendiz de Anakin Skywalker ( Hayden Christensen ) , que apareceu pela primeira vez no filme animado de The Clone Wars (2008) e fez sua estreia em live-action na segunda temporada de The Mandalorian , conquistou os fãs da saga com seu carisma e complexidade. Agora, a personagem ganha uma série própria, que reúne tudo aquilo que faz Star Wars ser tão querido pelos fãs e pavimenta o caminho para o brilhante futuro da franquia. Em Ahsoka , a Jedi vivida por Rosario Dawson , acompanhada da general Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead) e de sua nova aprendiz, a mandaloriana Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), velhas conhecidas dos fãs das animações, buscam impedir que forças sombrias consigam trazer de volta o Grão Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) como “Herdeiro do Império”. Uma missão complicada e difícil para cada uma, pois o paradeiro do temível imperial pode revelar a localização de Ezra Bridger (Eman Esfandi), jovem Jedi que se sacrificou para exilar o vilão, no final da animação Star Wars Rebels (2014 – 2018). A série funciona como uma 5ª temporada de Rebels , o que pode fazer muitas pessoas questionarem se é preciso assistir as animações para entender a série. A resposta é não. Ahsoka faz sim muitas citações a eventos passados, mas ao mesmo tempo em que acena para os fãs mais “ hardcore ”, o texto de Filoni não se perde dentro de uma autorreferência e se torna acessível para os fãs casuais. Mas cá entre nós, se você arrumar um tempinho e se dedicar em assistir as animações, a jornada se tornará muito mais prazerosa. Crédito: Lucasfilm/Divulgação Mesmo diante da ameaça de uma nova guerra, Ahsoka é antes de tudo uma história sobre o legado entre mestres e aprendizes. Filoni coloca Ahsoka Tano em uma jornada interior, onde a personagem revisita momentos específicos de seu passado que moldaram sua personalidade. Desde a criação como um soldado na Guerra dos Clones, passando pela relação com seu mestre, Anakin Skywalker, até a culpa pela queda do mesmo para o Lado Sombrio, e o medo de que ela própria possa acabar seguindo o mesmo caminho. Tudo isso é entregue com perfeição por Rosario Dawson, que carrega todo o peso do passado da personagem e mostra que nasceu para viver a Jedi. O elenco é com certeza um dos trunfos da produção. Além de Dawson, Natasha Liu Bordizzo incorporou a personalidade de Sabine, e a conturbada relação entre a mandaloriana e a Jedi, exemplifica perfeitamente toda a discussão que a série se propõe a contar sobre o legado de professor e aluno. Além das questões dos Jedi, a série também se dedica a contar o lado político de Star Wars . Aqui brilha a estrela de Mary Elizabeth Winstead, que com sua Hera, tem a difícil missão de convencer os relutantes senadores da Nova República do eminente retorno de Thrawn e da ameaça que os Remanescentes do Império representam para a frágil paz do recém-instaurado governo. Do lado dos vilões não tem como não falar dele. Prometido como o grande vilão pós- O Retorno de Jedi , o Grão Almirante Thrawn estreia em live-action de forma sublime. Vivido pelo mesmo Lars Mikkelsen que deu voz ao vilão em Star Wars Rebels , a frieza e calculismo de Thrawn, e a forma, quase sagrada, como seus seguidores o veem, fazem do Grão Almirante uma ameaça assustadora para toda a galáxia. Mas o destaque fica mesmo com a dupla Baylan Skoll ( Ray Stevenson ) e Shin Hati (Ivanna Sakhno). É interessante como a relação entre mestre e aprendiz dos antagonistas faz um excelente contraponto com a relação entre as heroínas Ahsoka e Sabine. Enquanto as duas ainda estão tentando se conectar como Mestra e Padawan, Skoll e Hati já estão em perfeita sincronia, mesmo que seus objetivos estejam em caminhos opostos. Crédito: Lucasfilm/Divulgação Em busca de alguma solução para o fim do sofrimento na galáxia, Stevenson rouba a cena na pele de um Jedi caído e transmite todo o fardo dos erros que a velha Ordem Jedi cometeu em seus últimos anos antes do expurgo. É uma pena que o ator tenha falecido meses antes da estreia da série. Não se sabe qual será o destino do personagem, mas com certeza a interpretação de Stevenson deixará saudade. Ahsoka é uma série ambiciosa que expande a franquia criada pelo mestre George Lucas para territórios jamais explorados em mais de 40 anos de filmes, séries, animações, quadrinhos, livros e videogames. Além de trazer para o live-action conceitos já apresentados em outras mídias, como a sociedade das Irmãs da Noite e o Mundo entre Mundos , a série quebra os limites da galáxia que conhecemos e nos leva, junto de nossos heróis, a descobrir novos planetas, sociedades e culturas que mudam completamente tudo que sabíamos sobre os Jedi, os Sith e as origens da nossa galáxia tão, tão distante. E julgando pelo gancho deixado pelo arco de Baylan Skoll, as surpresas não irão parar por aqui. Ainda não temos uma segunda temporada confirmada, mas seja num eventual segundo ano da série, ou diretamente no filme, já anunciado, de Dave Filoni, é seguro afirmar que o futuro de Star Wars é brilhante. Além da promessa de mergulhar fundo na mitologia da Força, com a continuação da jornada de Skoll, Ahsoka pavimenta o caminho para a grande guerra contra Thrawn, que reunirá todos os personagens apresentados em The Mandalorian , O Livro de Boba Fett , na vindoura Skeleton Crew e na própria Ahsoka , para a épica conclusão do chamado “mandoverso”. Ahsoka mostra que há espaço para todo tipo de histórias em Star Wars . Sejam elas mais densas e políticas, como na espetacular Andor , ou fábulas fantásticas com bruxas, magia e baleias espaciais. Embalada por batalhas espaciais eletrizantes, duelos de sabre de luz muito bem coreografados e efeitos visuais dignos de cinema (não à toa o belíssimo quinto episódio, “ O Guerreiro das Sombras ”, foi exibido em algumas salas dos Estados Unidos), a série atinge aquilo que sempre foi o trunfo de Star Wars : nos fazer sonhar. Que venham mais aventuras pelas, agora, galáxias muito, muito distantes.

  • Loki se consolida como a melhor série da Marvel no Disney+ | Crítica

    Segunda temporada da série deixa de lado conexões com outros projetos para encerrar o arco do Deus da Mentira de forma primorosa Crédito: Marvel Studios/Divulgação Quando a primeira temporada de Loki estreou em 2021, o momento era bem diferente. O mundo ainda não havia entrado na tal “fadiga de super-heróis” e o tema multiverso era algo pouco explorado nas telas. De lá pra cá os estúdios perderam a mão na administração do gênero, aumentando a quantidade das produções, que são lançadas quase sem nenhum respiro entre si e a temática do multiverso passou a ser usada por quase todos os universos de super-heróis. Tudo isso contribuiu para o desinteresse por parte do público pelo gênero. Felizmente o segundo ano da série do Deus da Mentira supera tais problemas com uma história que, apesar de ser o pilar da Saga do Multiverso da Marvel , está mais focada no desenvolvimento de seus personagens. A segunda temporada de Loki começa exatamente de onde o primeiro ano parou. Com a morte de Aquele Que Permanece ( Jonathan Majors ), uma das variantes do vilão Kang, o Conquistador, pelas mãos de Sylvie ( Sophia Di Martino ), sua variante feminina, Loki ( Tom Hiddleston ) se vê preso entre o passado e o futuro, tendo que correr contra o tempo para salvar a AVT (Agência de Variância Temporal) da completa destruição, após o crescimento de infinitas ramificações na Linha do Tempo Sagrada. Com roteiro de Eric Martin e direção da dupla Justin Benson e Aaron Moorhead , a segunda temporada de Loki acerta ao deixar de lado a ânsia dos fãs por conexões com outras produções da Marvel, e focar em seu protagonista. Há quase 12 anos no papel, Tom Hiddleston entrega sua melhor performance como o Deus da Mentira, variando entre momentos de drama, ação e comédia. Ao longo de seis episódios, acompanhamos Loki numa jornada de autodescobrimento que conclui com maestria a busca do personagem por seu verdadeiro propósito glorioso, culminando num dos maiores momentos de toda a história do MCU . Se Loki está em busca de seu verdadeiro propósito, o mesmo pode ser dito de sua variante feminina. Di Martino da mais um show de atuação ao trazer uma Sylvie que, após alcançar seu objetivo e matar Aquele Que Permanece no final da primeira temporada, finalmente consegue viver uma vida de paz, mas as consequências de suas ações fazem com que a personagem questione sua própria noção de certo e errado. A química entre Di Martino e Hiddleston continua incrível, com diálogos emocionantes e reflexivos, trazendo a tona tudo o que, de fato, faz de Loki “um Loki”. Crédito: Marvel Studios/Divulgação O segundo ano de Loki se passa quase que exclusivamente nos corredores da AVT, dando muito mais tempo de tela para os demais membros do “Time Loki” se destacarem. A caçadora B-15 ( Wunmi Mosaku ), o simpático Casey ( EugeneCordero ), e é claro, nosso querido Mobius ( Owen Wilson ), retornam com importantes decisões para tomar. Agora que sabem que são todos Variantes, o grupo está dividido entre a vida que conhecem na AVT e a que lhes foi tirada na Linha do Tempo Sagrada. Aqui Owen Wilson apresenta novas facetas para Mobius e mostra mais uma vez que sua parceria com Hiddleston segue sendo o coração da série. Mas o destaque fica por conta do estreante Ke Huy Quan ( Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo ), que rouba a cena como o divertido Ouroboros e se torna mais um acerto da Marvel para o seu já imenso catálogo de atores e personagens. Vale destacar também a jornada de Ravonna Renslayer ( Gugu Mbatha-Raw ), que retorna tentando entender seu papel neste jogo de poder orquestrado por Aquele Que Permanece. Para isso ela tem como guia o relógio de desenho animado favorito de todos, a Srta. Minutos , que mostra o quão maligna e manipuladora pode ser. Também é preciso falar mais uma vez de Jonathan Majors . O astro mostra toda sua versatilidade para dar vida a mais uma versão de Aquele Que Permanece. Após viver o próprio criador da AVT na primeira temporada e sua variante mais perigosa, Kang, o Conquistador , em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania , Majors assume agora o papel de Victor Timely, um brilhante cientista, responsável pela descoberta do Multiverso. Por falar em Multiverso, apesar de não ter as conexões com o futuro da Saga como seu objetivo principal, Loki não esquece que é a base fundamental para uma história muito maior. Seu último episódio joga várias citações e referências para os fãs ficarem teorizando sobre os próximos projetos da Marvel, além de definir qual será o papel da AVT na grande Guerra Multiversal que está por vir. Em sua segunda temporada, Loki se consolida como a melhor série da Marvel no Disney+ e encerra o arco de seu protagonista de forma grandiosa. A série prova que ainda há força no gênero de histórias de quadrinhos, basta os estúdios (e os fãs) entenderem que a formula do sucesso não está nas batalhas grandiosas de computação gráfica ou nas participações especiais de “explodir a mente”, mas sim no desenvolvimento das histórias e personagem que habitam esses infinitos universos.

  • As Marvels supera uma história mediana com a força de suas protagonistas | Crítica

    Apesar de a aventura ser pouco impactante, a dinâmica do trio de heroínas torna o filme bem divertido. (As Marvels/Divulgação) O ano de 2023 foi um ano complicado para a Marvel . Com muitos altos e baixos, devido a um público que já sente o cansaço do gênero depois de mais de uma década de filmes baseados em quadrinhos e que mudou drasticamente seus hábitos de consumo de entretenimento após a pandemia de COVID-19 . Some-se há isso uma greve de roteiristas e atores que paralisou toda a indústria de Hollywood e impediu a divulgação de diversas produções por mais de 100 dias. Como se não bastasse tudo isso, As Marvels , filme que chegou aos cinemas na última quinta-feira, dia 09 de novembro, teve que enfrentar o ódio e o machismo de parte do fandom, nas redes sócias, contra sua protagonista principal, além da missão de ser ao mesmo tempo uma continuação do filme Capitã Marvel (2019), da série Ms. Marvel (2022) e do arco da personagem Monica Rambeau ( Teyonah Parris ), iniciado na série Wandavision (2021). Sem perder muito tempo explicando as origens das personagens (o que pode dificultar para aqueles que não estejam totalmente contextualizados sobre os atuais eventos do MCU ), As Marvels já começa na ação, com o trio formado por Carol Danvers ( Brie Larson ), Kamala Khan ( Iman Vellani ) e Rambeau trocando de lugar sempre que utilizam seus poderes ao mesmo tempo. Para reverter esse fenômeno, as três embarcam em uma viagem pela galáxia atrás de Dar-Benn ( Zawe Ashton ), a nova líder dos Kree que está usando um antigo artefato, ligado ao bracelete de Kamala, para roubar os recursos naturais de diversos planetas, com o objetivo de salvar Hala, capital do Império Kree, da completa destruição. Assinado por Megan McDonnell , Elissa Karasik e pela própria diretora Nia DaCosta , o roteiro tem na “aventura da semana” seu ponto mais fraco. Muito corrida, a história pouco explica o porquê de certas coisas acontecerem, os conflitos são resolvidos com extrema facilidade e até mesmo a batalha final não passa a sensação de que há um perigo real. Mesmo que tenha sido escrito como uma aventura descompromissada que só quer entreter, a falta de consequências não deixa de ser frustrante. Isso se dá por dois motivos. Primeiro porque o longa precisa manter a fórmula Marvel e ser “mais um capítulo de uma história maior”, segundo porque, apesar de contextualizar as motivações de Dar-Benn e sua rixa com a Capitã Marvel, a vilã é mais uma a entrar na categoria “vilões esquecíveis do MCU”. Pouco cativante, a personagem cumpre seu propósito, mas se trata apenas de criar um pretexto para impulsionar Carol, Monica e Kamala em sua jornada por planetas diversos, com populações e culturas próprias. (As Marvels/Divulgação) Mesmo assim, o filme está longe de ser uma experiência negativa. Nia DaCosta utiliza o artifício da troca de posições entre as personagem para criar cenas de ação eletrizantes e muito bem coreografadas. O CGI também não deixa a desejar, permitindo que o expectador aprecie os efeitos especiais em ambientes claros e com muita luz, ao invés de tentar decifrar o que está acontecendo em lugares mais escuros. O visual é outro acerto do filme, com a arquitetura e o figurino de cada lugar visitado se diferenciando entre si e se destacando entre outras espécies e culturas já vistas ao longo do MCU. Mas o grande trunfo de As Marvels para superar todos seus obstáculos está justamente nas Marvels. A dinâmica entre o trio de protagonistas é um deleite. DaCosta foi precisa quando disse, em entrevista, que a relação entre as personagens seria semelhante a um relacionamento entre irmãs, com Carol sendo a irmã mais velha e bem sucedida, e que por conta deste sucesso, acabou sem querer, negligenciando Monica, a irmã do meio, que nutre um amor e admiração por Carol, mas deixa claro a mágoa pelos anos de ausência da heroína. Já Kamala é a irmã caçula, que nunca viveu com a irmã mais velha, mas a vê como um modelo a ser seguido. Sem o peso de ser “aquela que irá salvar o universo de Thanos”, Brie Larson está mais leve no papel de Carol Danvers. A Atriz mostra todo seu talento tanto nas cenas cômicas, como nas mais dramáticas, revelando os sentimentos e inseguranças da Capitã Marvel, finalmente humanizando a personagem que anteriormente era retratada apenas como uma entidade extremamente poderosa. O carisma de Brie faz com que ela tenha química com todos os atores com quem contracena. Principalmente com seu amigo veterano Samuel L. Jackson , que retorna como o espião Nick Fury e com a jovem Iman Vellani. Por falar nisso, a luz de Vellani com certeza é a que brilha mais forte. A atriz mostra mais uma vez que nasceu para viver Kamala Khan. A empolgação da personagem de atuar ao lado de sua de sua heroína favorita reflete a empolgação de Vellani de estar em uma produção deste tamanho, ao lado de grandes nomes do MCU. Ao longo do filme, Kamala passa por uma jornada de amadurecimento ao perceber que mesmo sendo uma super-heroína, às vezes não é possível salvar todo mundo, e que mesmo aqueles que mais admira também tem suas falhas. (As Marvels/Divulgação) Dentre as três, Teyonah Parris é quem menos se destaca. Não por demérito da atriz, mas pelo pouco espaço dado a Rambeau. Mesmo assim, o filme encerra o arco da personagem iniciado em Wandavision e deixa Monica como uma das figuras centrais para o que está por vir no futuro da Marvel. Nia DaCosta entrega um filme que caminha com as próprias pernas, sem sacrificar a construção do hype para o que vem pela frente na Saga do Multiverso e a cena final do longa, referenciando o momento mais icônico e que começou toda a história do MCU, evidencia isso. E eles não poderiam ter escolhido alguém melhor para protagoniza-la. Com pouco mais de uma hora e meia de duração, As Marvels entrega exatamente o que prometeu: um filme dinâmico e divertido, guiado pela força de suas protagonistas. Mesmo que tenha algumas imperfeições, o filme encanta aqueles com a mente e coração dispostos a aceitar que, antes do próximo “ Vingadores: Ultimato ” é preciso construir o cenário e os laços entre os personagens. A final, essa sempre foi a principal virtude do universo criado pelo Marvel Studios há quase quinze anos.

  • Aquaman 2: O Reino Perdido: Sessão da tarde descompromissada no ultimo ato do DCEU | Crítica

    Segundo filme do rei dos mares joga no seguro tentando se encontrar em meio ao caos dos bastidores Aquaman 2: O Reino Perdido/Warner/Reprodução Quando Aquaman (2019), primeiro filme do herói submarino da DC , chegou aos cinemas em 2019, o cenário era completamente diferente. O mundo não havia passado por uma pandemia que mudou drasticamente a forma de consumir entretenimento, Hollywood não havia enfrentado uma greve de atores e roteiristas que paralisou toda a indústria, e a direção que a Warner queria dar para seu universo de super-heróis era bem clara. Quatro anos depois tudo mudou e não tem como não ficar com a sensação de que Aquaman 2: O Reino Perdido é um filme que chegou atrasado para a festa. Com uma trama que diverte, mas pouco empolga o filme basicamente repete a fórmula que funcionou no primeiro, tentando se manter relevante em meio a um universo que não existe mais. “O último que sair apague a luz”. Essa expressão define perfeitamente o contexto no qual Aquaman 2 foi produzido. Após ser oficializado como o novo chefe criativo da DC, James Gunn anunciou seus projetos para um novo universo de filmes da Liga da Justiça , decretando assim um reboot no então chamado Universo Estendido da DC (DCEU) . A partir dai o que se viu foi um completo desinteresse do público pelos quatro filmes da antiga gestão que ainda precisavam ser lançados, e à medida que Shazam 2 , The Flash e Besouro Azul se tornavam grandes fracassos de bilheteria, mais mudanças eram encomendadas por executivos da Warner na tentativa de tornar essas produções mais atrativas para o público. Hora os filmes eram anunciados como produções independentes, sem ligação nenhuma com projetos passados, hora participações especiais de membros da Liga da Justiça eram inseridas numa tentativa de passar uma falsa ideia de continuidade. Aquaman 2 é, com certeza, um dos filmes que mais foi afetado pela bagunça nos bastidores da Warner Bros. A indefinição sobre o futuro do personagem vivido por Jason Momoa resultou em um filme confuso que nunca sabe exatamente o tom que quer adotar, passando de momentos sérios com temáticas importantes, como o aquecimento global, para uma comédia pastelão de forma abrupta, atrapalhando assim a forma como o público e os próprios personagens encaram a gravidade das situações. Warner/Reprodução A nova aventura apresenta o herói submarino tendo que conciliar seus deveres como Rei de Atlântida, com a criação de Arthur Júnior, o filho que teve com Mera ( Amber Heard ). Tudo fica mais complicado quando o Arraia Negra ( Yahya Abdul-Mateen II ) retorna com sede de vingança, agora portando um antigo artefato que pode condenar o mundo todo. Para enfrentar a ameaça, o herói deve então unir forças com Orm ( Patrick Wilson ) seu meio irmão e antigo rival. A premissa é até interessante, e a aposta na manutenção da equipe responsável pelo primeiro filme (o melhor do DCEU em minha humilde opinião), além de repetir a combinação entre galhofa e o espetáculo de ação com toques de terror que funcionou tão bem na produção anterior, parecia uma boa ideia. É uma pena que as disputas de poder dentro da Warner e as constantes trocas no comando da DC tenham afetado tanto o roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick que falha em criar uma narrativa coesa, com personagens entrando e saindo de cena sem maiores explicações. Ciente de seus problemas, o filme até tenta disfarçar suas fragilidades criando motivações e diálogos emocionantes, como a conversa entre Arthur e seu pai sobre paternidade, além é claro de cenas de ação eletrizantes. Mas tudo acaba sendo uma grande “forçada de barra”, pois a falta de um direcionamento claro e de consequências para as situações enfrentadas compromete o desenvolvimento do arco de todos os personagens, em especial de Orm, que tem sua previsível redenção feita de forma apressada sem que realmente sintamos qualquer sinal de arrependimento por seus atos passados. Mesmo assim, O Reino Perdido pode agradar quem estiver procurando por um filme sessão da tarde sem nenhum compromisso em ser mais do que precisa ser. Assim como em seu anterior, o filme acerta ao abraçar sem nenhum pudor toda a galhofa que compõe o universo do Aquaman. Com direito a cavalos-marinho gigantes, um exército de baleias e até um polvo espião, o diretor James Wan , cada vez mais confortável no gênero de super-herói, constrói um espetáculo audiovisual de tirar o folego. As cenas embaixo d’agua estão ainda melhores do que no primeiro filme. Ponto positivo para o filme que mesmo com tantos problemas na produção conseguiu superar a crise dos efeitos especiais que atingiu diversas produções nos anos pós- pandemia. Warner/Reprodução Outro ponto alto de Aquaman 2 está no relacionamento entre Arthur e Orm. Os dois irmãos são colocados em uma jornada onde devem superar suas diferenças e trabalhar em conjunto para derrotar o grande vilão da trama. Não tem como não perceber as semelhanças entre o desenvolvimento de Arthur e Orm com o que foi construído entre Thor e Loki no Universo Cinematográfico da Marvel . E mesmo que o filme não permita que a relação dos irmãos atinja o mesmo nível de excelência do que foi feito (até pelo tempo que tiveram para se dedicar a construção de seus personagens) por Chris Hemsworth e Tom Hiddleston , as interações entre Momoa e Wilson são genuinamente divertidas e resultam em algumas das melhores cenas de ação do DCEU, como a fuga de Orm de uma prisão guardada por criaturas aterrorizantes e fantásticas que expandem o que já conhecíamos desse universo. No final, Aquaman 2: O Reino Perdido é um filme que joga no seguro, e que deixa claro desde sua primeira cena que seu objetivo é entregar uma brincadeira descompromissada que busca agradar aqueles que esperam apenas se entreter com uma aventura de super-herói bem básica. Por outro lado, pode decepcionar quem for esperando um final épico para o ultimo ato de um universo da Liga da Justiça. Adeus DCEU! Foi uma jornada difícil, muito conturbada e marcada por executivos amadores e arrogantes, cujas disputas de ego resultaram em um universo mal construído, bagunçado e que raramente fez jus a seus personagens. Tivemos bons momentos (Aquaman (2019), O Esquadrão Suicida (2021), Mulher Maravilha (2017)), outros não vão deixar saudades ( Liga da Justiça (2017), Esquadrão Suicida (2016), Mulher Maravilha 1984 (2020)). Seja bem vindo DCU ! Que James Gunn tenha sucesso na condução de um universo mais coeso e com produções a altura dos maiores heróis do mundo.

  • Rebel Moon: Parte 1 tem boas ideias, mas não passa disso | Crítica

    Em seu novo filme, Zack Snyder está tão focado em construir o universo que se esqueceu do principal: a história Netflix/Divulgação Depois de uma conturbada passagem pela DC com seu “snyderverso” da Liga da Justiça, Zack Snyder parece ter encontrado uma nova casa para executar suas ideias. A Netflix tem investido pesado nos projetos do cineasta e a mais nova produção resultante dessa parceria, Rebel Moon , é um projeto tão ambicioso que antes mesmo de estrear já tinha uma continuação anunciada (com versões do diretor para cada uma das partes do filme), jogos de videogame, animações, entre outros projetos derivados. A empolgação de Snyder com sua criação é perceptível desde o primeiro minuto de Parte 1: A Menina do Fogo . É uma pena, no entanto, que o diretor tenha focado tanto em estabelecer seu universo que acabou esquecendo o principal: a história. O primeiro filme da saga espacial apresenta Kora ( Sofia Boutella ), uma misteriosa mulher que busca uma vida de paz em uma pacata comunidade de agricultores da lua de Veldt. Tudo muda quando o maligno império do Mundo-Mãe se interessa pelo local. Para proteger o povo que a acolheu, a jovem parte em busca de um grupo de rebeldes que luta contra o poderoso império para restaurar a paz e a justiça na galáxia. Parece familiar? Para quem não sabe, Rebel Moon surgiu a partir de um roteiro de Snyder para Star Wars que foi recusado pela Disney/Lucasfilm . Por esse motivo, as semelhanças com a obra de George Lucas são constantes, indo além da trama de rebeldes enfrentando um império opressor para vários locais, personagens e situações inspiradas na saga da família Skywalker. Nada disso chega a ser um problema uma vez que Snyder, responsável por direção, fotografia e roteiro, ao lado de Kurt Johnstad ( 300 ) e Shay Hatten ( John Wick 3 ), não está nem um pouco interessado em reinventar a roda. O longa bebe da fonte de várias outras óperas espaciais, mas o cineasta é competente na criação de um universo tão interessante quanto único. É neste ponto que Rebel Moon oferece seu melhor.  Ao longo da jornada de Kora em busca de aliados, somos apresentados a inúmeros planetas dotados de cultura, arquiteturas, maquinários e criaturas próprias. Cada novo território é explorado com todo capricho, ostentando o trabalho impecável dos departamentos de arte que equilibram efeitos práticos com computação gráfica. Tudo isso realçado pela bela fotografia e direção de Snyder. Outro ponto forte do filme está na ação, algo que não chega a ser surpresa para quem está familiarizado com o trabalho do diretor. Seja em um combate corpo a corpo, em tiroteios eletrizantes, ou até mesmo ao domar uma criatura fantástica, Snyder faz questão de mostrar com muita precisão cada detalhe desses momentos de adrenalina. Com direito a muita câmera lenta, Rebel Moon entrega cenas de ação vistosas e empolgantes que se alinham perfeitamente a já citada fotografia do diretor. Netflix/Divulgação No entanto, quando digo que cineasta faz uso de muita câmera lenta, é muuuuuuuita câmera lenta mesmo. O uso do efeito de cinco em cinco minutos acaba deixando a experiência um pouco maçante para quem não é fã do diretor, além de tirar o impacto de muitas cenas que deveriam passar ao público a sensação de estar presenciando um momento épico, mas perdem impacto, pois cinco minutos atrás vimos uma cena, que não precisava de tanto destaque, receber o mesmo tratamento. Para se ter uma ideia, o cineasta chegou ao ponto de colocar câmera lenta em uma cena que já estava em câmera lenta. É uma pena que mesmo com tantos pontos altos, o saldo final seja negativo. Zack Snyder está tão focado em construir o universo que se esqueceu de amarrar tudo em uma trama instigante com personagens capazes de conquistar a afeição do público. Isso acontece porque conforme a história avança, muitos personagens que já foram apresentados são simplesmente descartados, não sendo mais importantes para o restante da narrativa e aqueles que vão aparecendo parecem servir apenas como desculpa para Snyder apresentar um planeta novo. Tirando Kora, que tem uma longa sequência de flashback, boa parte dos personagens estão lá apenas orbitando a protagonista e esperando a hora de serem úteis à narrativa. Não há desenvolvimento de suas personalidades, motivações e objetivos. Aliás, o roteiro nem se esforça para criar uma motivação convincente para que o grupo passe a trabalhar junto, usando como justificativa apenas o ódio que todos sentem pelo Mundo-Mãe. Isso quando não encontramos pelo caminho personagens que ainda necessitam de certo convencimento para se juntar à luta. Nesse caso basta um rápido discurso sobre justiça e liberdade para que tudo se resolva. Ao final das duas horas e quinze minutos fica claro que Rebel Moon: Parte 1 tem boas ideias, mas não consegue passar disso. É possível se divertir conhecendo esse novo universo espacial e apreciando a grandiosidade das batalhas, mas como os personagens são o que nos conectam com a história, quando são mal resolvidos, fica difícil se importar com a causa pela qual estão lutando. Resta torcer para que as versões estendidas das duas partes de Rebel Moon , com mais de 45 minutos extras, consiga desenvolver melhor a trama, e se esse for o caso, ficará a pergunta se não valia a pena ter lançado logo essas versões completas. Vamos esperar. Por enquanto, a nova aventura de Zack Snyder segue sendo uma promessa.

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