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  • Echo: O retorno da Marvel urbana | Crítica

    Mais próxima das produções do estúdio na Netflix, nova série da Marvel cumpre seu papel e dá o tom das futuras produções no Disney+. Echo/Marvel/Divulgação Dentre todos os personagens que foram apresentados em Gavião Arqueiro (2021), Maya Lopez ( Alaqua Cox ) com certeza não estava em primeiro na lista dos fãs para ganhar uma aventura solo. Porém, diversos fatores permitiram que a personagem ganhasse sua chance em Echo , minissérie em cinco capítulos que chegou ao Disney+ sem muito alarde, e que talvez por isso, consiga superar a desconfiança e cumprir sua missão de forma competente. Após um 2023 bastante complicado, a Marvel resolveu rever alguns conceitos e realizar mudanças em seus projetos. Filmes foram adiados e produções que já estavam em processo de filmagens foram paralisadas e passaram por uma espécie de reboot criativo, como é o caso da série Daredevil: Born Again . Mas a mudança mais significativa talvez tenha sido a criação do Marvel Spotlight , novo selo do estúdio que abrange produções mais maduras e com pouca ou quase nenhuma relação com a grande Saga do Multiverso . É aqui que Echo se encaixa. Sem a pressão de ter que se conectar tão fortemente à narrativa compartilhada dos outros títulos do Marvel Studios, a série consegue focar na jornada de sua protagonista e, com calma, dar o tom das futuras produções do estúdio no Disney+. Primeira série sob o novo selo, a produção se reaproximou do estilo artístico que era visto nas séries da Marvel na Netflix , trazendo a brutalidade das ruas de volta ao MCU . O uso da violência e do sangue, que havia chamado a atenção nos trailers lançados, não é gratuito. Nas mãos da showrunner Marion Dayre ( Better Call Saul , The Act ) e da diretora Sydney Freeland ( Deidra e Laney Assaltam um Trem ), o novo artifício se torna uma ferramenta para aprofundar a personalidade dos personagens e ligá-los dentro de um ciclo de violência difícil de ser quebrado. Outro ponto positivo proporcionado pelo novo selo são as sequências de luta. Muito bem coreografadas, é possível sentir o impacto de cada golpe dado, principalmente na rápida participação do Demolidor. Essa, aliás, era uma questão a ser respondida. Será que Maya teria condições de sustentar uma aventura solo sem ter que apelar a todo instante para o demônio de Hell's Kitchen? Felizmente, a resposta é sim. Echo não se apoia na figura do Homem sem medo. Pontual, a participação do herói nunca obstrui o brilho de Maya, pelo contrário, engrandece suas habilidades. Echo/Marvel/Divulgação Mesmo que possa servir como um prólogo de Born Again , a produção nunca perde de vista que seu principal trunfo esta em Maya e Wilson Fisk ( Vincent D’Onofrio ). A problemática relação que foi apresentada em Gavião Arqueiro , e que chegou ao fim após ela descobrir que o vilão foi responsável pela morte de seu pai, agora é trabalhada desde sua origem. A série mostra, através de vários flashbacks, como os traumas do passado moldaram essa relação, meio de tio e sobrinha, chefe e capanga, e que foi usada como uma espécie de ponto de fuga para as feridas que ambos possuem em seu interior. A narrativa então segue os eventos da série dos arqueiros após Maya decidir se vingar do Rei do Crime. Crente de que havia eliminado Fisk, ela agora aspira criar o seu próprio império criminal em Nova York, mas perseguida pelos capangas do vilão, Maya se vê forçada a retornar à reserva indígena onde nasceu e confrontar questões sobre seu passado. Esse retorno ao passado de Maya Lopez permitiu á Alaqua Cox evoluir em sua performance e crescer como atriz. Ao longo da jornada, Cox mostra todo seu talento e expressividade para dar novas camadas a uma personagem cujo grande atrativo, até então, eram as ligações que tinha com outros heróis e vilões do MCU. É visível que a atriz abrilhanta o projeto, principalmente quando se encontra ao lado de um ator já consagrado como Vincent D’Onofrio, que a cada série que passa, mostra que nasceu para interpretar o Rei do Crime. Echo/Marvel/Divulgação Além disso, explorar o passado de Maya permitiu à série explorar uma nova mitologia e trazer conceitos inéditos para o universo Marvel. Parte da nação nativo-americana Choctaw, a herança cultural da personagem e sua família não só influenciam na jornada da protagonista, como enriquecem a narrativa como um todo. Em cada inicio de episódio visitamos um período diferente da história, onde somos apresentados a uma ancestral de Maya, cuja história personalidade e habilidades ecoam através do tempo e se conectam aos dons de Maya nos dias atuais. As sequências ainda trazem um encanto único à narrativa, principalmente a do terceiro episódio que presta homenagem à história da sétima arte ao trazer um segmento inspirado no cinema mudo. Tudo isso é possível graças a uma colaboração da equipe, formada por pessoas nativo-americanas, com o povo Choctaw do mundo real. Também é válido destacar o trabalho de Rebecca Roanhorse na equipe de roteiristas. Os fãs dos quadrinhos Marvel talvez reconheçam o nome da autora de ficção científica, responsável pelo arco A Canção da Fênix: Eco , história mais celebrada da personagem e principal fonte de inspiração para a série. Outro ponto positivo de Echo é a forma como a diretora Sydney Freeland trabalha o uso da língua de sinais como forma de Maya distinguir quem ao seu redor se importa o bastante para buscar formas de se comunicar com ela. Infelizmente velhos hábitos não morrem tão rápido. Echo é uma série que foi pega no meio da mudança de posicionamento do Marvel Studios e por esse motivo, mesmo com tantas mudanças, a produção ainda apresenta alguns problemas vistos em projetos passados do estúdio. O final apressado e resoluções fáceis para as adversidades enfrentadas acabam enfraquecendo um pouco a história e prejudicando o confronto final entre Maya e o Rei do Crime, que fica aquém de seu potencial. Mesmo assim, Echo cumpre sua missão. A série faz Maya Lopez subir de patamar entre os heróis e heroínas do MCU, e estabelece o tom das futuras produções da Marvel no Disney+, mostrando que o estúdio está sim, de olho nos fãs. A reaproximação com o legado das séries na Netflix se mostrou uma decisão acertada, e pelos ganchos e possibilidades que Echo abre em sua cena pós-créditos, podem ter certeza de que muitas coisas boas estão por vir.

  • Percy Jackson é um resgate das histórias de fantasia | Crítica

    Série do universo de Rick Riordan aposta na fidelidade ao livro para corrigir os erros da adaptação anterior. (Disney+/Divulgação) Quem cresceu durante a primeira década dos anos 2000 viveu o auge das adaptações de histórias de fantasia para o cinema. Filmes como Harry Potter , O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia encantaram, durante anos, pessoas de todas as idades. Não demorou muito para que Percy Jackson , o semideus filho de Poseidon, tivesse suas aventuras transpostas para a telona. Lançada entre 2005 e 2009, a série de livros, que se passa em um mundo onde os Deuses Gregos vivem no século XXI, conquistou uma base de fãs apaixonados e que estavam ansiosos pela adaptação cinematográfica do universo criado por Rick Riordan . Infelizmente, a produção foi um completo desastre, o que resultou em dois filmes pouco inspirados, que além de ignorar as notas do autor, e alterar diversos elementos da obra original, abandonam completamente a essência da jornada de Percy. Agora, anos depois, a franquia ganhou uma nova chance com Percy Jackson e os Olimpianos . Lançada em formato de série para o streaming Disney+ , a produção prometia corrigir os erros da adaptação anterior e para a felicidade geral dos fãs a missão foi cumprida. Mesmo que deslize em alguns pequenos detalhes, a trama resgata, com muito carisma, o espírito lúdico e juvenil das histórias de fantasia. Sob o olhar de Riordan, que também assina o roteiro em diversos episódios, a série adapta uma visão muito mais fiel de O Ladrão de Raios , primeiro volume da série de livros. Na trama, Percy Jackson ( Walker Scobell ) descobre ser filho do Deus do mar, Poseidon. Junto de seus colegas do Acampamento Meio-sangue, Annabeth Chase ( Leah Sava Jeffries ), uma filha de Atena e Grover Underwood ( Aryan Simhadri ), um sátiro que é seu guardião, o jovem semideus é incumbido de recuperar o poderoso raio mestre de Zeus, que foi roubado, antes que uma guerra entre os Deuses destrua o mundo. Percy Jackson e os Olimpianos tem no trio protagonista seu principal trunfo. Ao escolher atores na faixa dos 14 a 17 anos, a produção trás para a série um olhar mais infantil, corrigindo assim uma das principais críticas da versão para o cinema. Mesmo com a pouca idade, Scobell, Jeffries e Simhadri cativam com uma química excelente e atuações que vão evoluindo episódio a episódio. Vai ser interessante acompanhar o desenvolvimento desses jovens ao longo dos próximos anos, assim como muitos de nós tivemos a oportunidade de fazer com Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint durante a saga Harry Potter . (Disney+/Divulgação) A série acerta também na tradução visual do universo criado por Riordan, marcado por mesclar o lado místico dos Deuses gregos, com o cenário urbano dos Estados Unidos dos tempos atuais. Das cabanas no Acampamento Meio-sangue, ao Monte Olimpo, situado no topo do Empire State Building, os fãs podem se deleitar vendo tudo àquilo que imaginaram, enquanto liam os livros, ganhando forma diante de seus olhos. O mesmo pode ser dito das criaturas fantásticas como o Minotauro, a Medusa e a Quimera, além é claro, dos Deuses. Com personalidades distintas, cada Deus apresentado nesta primeira temporada tem seu momento de destaque, em especial Ares ( Adam Copeland ou Edge , como é conhecido) e Zeus, interpretado pelo ator Lance Reddick , que faleceu antes do início da série. Apesar de curta, a participação de Reddick é bem marcante, mostrando toda a imponência do Rei dos Deuses. É uma pena que não poderemos mais desfrutar de seu talento nas temporadas que virão. Apesar de muitos pontos positivos, a série não está livre de algumas escorregadinhas. O ritmo irregular pode prejudicar aqueles que estão conhecendo o mundo de Percy pela primeira vez. Além disso, as sequências de ação, em especial a luta entre Percy e Ares no último episódio, não foram tão bem coreografadas, sendo necessário o uso de muitos cortes que quebram a fluidez dos movimentos. No entanto, nada disso afeta a experiência como um todo. São apenas detalhes que valem sim serem mencionados, para que a produção possa corrigi-los e entregar temporadas cada vez melhores. Percy Jackson e os Olimpianos é uma série feita com muito carinho e dedicação por uma equipe empenhada não só em recuperar a confiança dos fãs após as adaptações anteriores, como também em abrir as porta das histórias de fantasia para toda uma nova geração. A segunda temporada ainda não está confirmada, mas a julgar pelos números da série no Disney+, é só uma questão de tempo para que possamos continuar acompanhando Percy, Annabeth e Grover em sua jornada por este mundo fantástico, completando tarefas espetaculares, cumprindo previsões e entrando em combate com e para os Deuses.

  • Avatar: A quase redenção do Último Mestre do Ar | Crítica

    Mesmo com um visual fiel e estonteante, série live-action da Netflix não apresenta o brilho da animação original. (Netflix/Divulgação) A animação Avatar: A Lenda de Aang encantou e segue encantando milhares de fãs ao redor do mundo. Desde a estreia da série animada, Hollywood tem tentado trazer a história do monge careca com a seta na cabeça para uma produção em live-action. Após um filme execrável, produzido em 2010 pelo renomado diretor M. Night Shyamalan , foi a vez da Netflix tentar adaptar a jornada de Aang ( Gordon Cormier ), agora através de uma série. Avatar : O Último Mestre do Ar consegue retirar o gosto ruim deixado pela versão anterior (o que não era muito difícil), mas ainda comete erros que impedem a produção de brilhar como a animação original. A trama conta a história de Aang, um garoto que passou os últimos 100 anos congelado em um Iceberg. Após despertar, ele descobre que o mundo está mergulhado em uma gigantesca guerra iniciada pela maléfica Nação do Fogo. Agora, Aang deve embarcar junto aos irmãos Katara ( Kiawentiio ) e Sokka ( Ian Ousley ), em uma jornada para aprender a controlar os quatro elementos – água, fogo, terra e ar – se tornar o Avatar e restaurar a paz e o equilíbrio no mundo. Quando se fala em adaptar animações para live-action, a Netflix tem alternado entre retumbantes fracassos como Cowboy Bebop e grandes sucessos como One Piece .  Encontrar o equilíbrio ideal na hora de fazer a transição entre as mídias sempre foi o maior desafio encontrado pelas equipes responsáveis por esse tipo de produção. Para chegar ao resultado desejado, Avatar: O Último Mestre do Ar optou por manter extrema fidelidade ao visual da animação ao mesmo tempo em que toma algumas liberdades na narrativa da jornada dos protagonistas. A primeira temporada da série cobre os principais eventos do Livro Um: Água – nome da primeira temporada da animação – fazendo pequenas alterações necessárias como cortar tramas irrelevantes para a narrativa principal, ou compilando diferentes enredos em um só a fim de deixar a história mais fluida. Porém em alguns casos essa aglutinação não é bem executada, deixando tudo muito corrido e superficial. O principal exemplo é a unificação dos arcos de Jato e seus Guerreiros da Liberdade com o do Rei e da cidade de Omashu, mais a história do engenheiro Sai e seu filho e ainda dão um jeito de inserir a trama de “A Caverna dos Dois Amantes”, que na animação é protagonizada por Aang e Katara, mas na série foi vivida por Katara e Sokka (uma decisão completamente equivocada que, não só altera toda a essência da história que está sendo contada, como também interfere no desenvolvimento da relação entre Aang e Katara). (Netflix/Divulgação) Tudo isso acaba prejudicando a construção do Time Avatar. Eles são uma família apenas porque a série está nos dizendo. Nunca vemos de fato essa união em tela, pois na maioria das vezes os personagens estão separados, com cada um resolvendo seus problemas. A forma como a produção não sabe trabalhar seu trio protagonista é o principal problema de Avatar: O Último Mestre do Ar. Para fugir do rótulo de “série infantil”, a equipe responsável optou por um tom mais “sombrio” para a produção, dando mais foco aos males da guerra. Isso não chega a ser exatamente um problema, pois além de dar uma dimensão maior para a crueldade da Nação do Fogo, também deixa clara a importância de Aang e a necessidade da figura do Avatar para o mundo. O problema é que a produção esquece que seus protagonistas são jovens na faixa dos 12, 15 anos de idade. Para fazer essa abordagem mais sombria funcionar, a série precisou colocar o senso de urgência no máximo, dando poucas oportunidades para que Aang, Katara e Sokka possam se comportar como crianças que ainda estão em formação. Comportamentos característicos dessa etapa da vida como imaturidade, as angústias do primeiro amor, entre outros aspectos tão presentes na animação são ignorados. Essa questão afeta cada um dos membros do Time Avatar, mas Aang é quem mais sofre. Isso porque parte do carisma do personagem na animação está no fato dele ainda ser um garoto de 12 anos que, apesar de ter um caminho muito importante para trilhar, consegue encontrar tempo para brincar e se divertir. Já o Aang do live-action, mesmo mostrando seu lado brincalhão em momentos pontuais, passa a maior parte do tempo fazendo monólogos sobre falhas e responsabilidades do que sendo uma criança. Uma pena, pois o ator Gordon Cormier esbanja carisma em todas as suas cenas. (Netflix/Divulgação) Outro personagem que sofre com alterações (essa um tanto polêmica) em sua personalidade é Sokka. Na animação o personagem é apresentado como um jovem machista que não enxerga nas mulheres a capacidade de serem grandes guerreiras. Isso se dá muito em função da forma como Sokka cresceu, perdendo a mãe muito cedo e com o pai tendo que ir lutar na Guerra, deixando-o sozinho para cuidar, não só da irmã caçula, como de toda a Tribo da Água do Sul. No entanto, ao longo da jornada, principalmente durante o arco da Ilha Kyoshi, o personagem muda sua forma de ver o mundo. Ele evolui. Após perder para “um bando de mulheres” , Sokka reconhece a força das guerreiras Kyoshi e humildemente pede para ser treinado por elas. No live-action, optou-se por retirar de Sokka seu comportamento machista (talvez pra fugir de qualquer polêmica nas redes sociais), o que acabou diluindo seu arco de amadurecimento. Na verdade, é como se ele já fosse um adulto formado que não tem nada para aprender. Sua relação com as guerreiras Kyoshi foi completamente esvaziada, transformando um arco de aprendizado em apenas um episódio que explora, de forma muito superficial, seu relacionamento com Suki ( Maria Zhang ). Por outro lado, a série conseguiu trabalhar perfeitamente todo o arco de amadurecimento do Príncipe Zuko. Ao longo dos oito episódios, o arquirrival de Aang vai aprendendo com seus erro e evolui ao confrontar se próprio passado. Uma tarefa conduzida com maestria pelo ator Dallas Liu . Outros que merecem destaque são Paul Sun-Hyung Lee , que traz toda a sabedoria e gentileza do Tio Iroh, Daniel Dae Kim , imponente como o Senhor de Fogo Ozai, e Elizabeth Yu como perversa Princesa Azula, personagem que não tem muita importância na primeira temporada da animação, mas que a série resolveu aproveitar e contar uma espécie de “história de origem” da jovem que dará a maior dor de cabeça para Aang e seu amigos em uma futura segunda temporada. Todo o elenco da Nação do Fogo está muito bem representado, com exceção o Comandante Zhao ( Ken Leung ). Se na animação o personagem é imponente, calculista e um guerreiro respeitado, o live-action transforma Zhao em um " comandantezinho " qualquer que vê na captura do Avatar uma forma de ascender rapidamente na hierarquia da Nação do Fogo e conquistar o respeito que acredita merecer. (Netflix/Divulgação) Se na parte narrativa a série oscila , Avatar: O Último Mestre do Ar tem no quesito visual sua maior virtude. Desde o primeiro minuto da série, é palpável a atenção e o cuidado com a representação de todos os elementos que tornam o mundo de Avatar tão encantador. A recriação dos cenários (com exceção do esconderijo de Jato e seus Guerreiros da Liberdade), figurinos, criaturas fantásticas e as habilidades dos personagens são realmente um espetáculo capaz de agradar o mais fanático dos fãs. No entanto, nem tudo é perfeito, pois em alguns momentos, principalmente quando os protagonistas estão em destaque, é perceptível que os atores estão em frente a uma tela verde, algo que pode tirar a imersão dos espectadores mais atentos aos detalhes, mas que passa longe de prejudicar a obra. Ao longo dos oito episódios, o que mais salta os olhos com certeza são os combates grandiosos entre dobradores (nome dado às pessoas capazes de manipular elementos). As dobras dos elementos são apresentadas com uma precisão impecável, não apenas na representação dos golpes como nos movimentos necessários para executá-los.  Assim como houve com a série de The Last of Us , certamente haverá muitos vídeos na internet comparando lado a lado as cenas de batalha do live-action com as da animação. No fim, Avatar: O Último Mestre do Ar é uma série cheia de altos e baixos. A produção é competente ao servir como porta de entrada para o mundo e a história de Aang, mas que nunca atinge o potencial e a qualidade narrativa apresentado na animação. Resta aguardar a segunda temporada para ver se a série consegue dominar seus próprios defeitos, assim como Aang ainda tem que dominar os demais elementos, algo que deveria ter sido o principal objetivo do jovem Avatar, mas que acabou ficando em segundo plano.

  • Duna: Parte 2 cumpre seu destino com um filme digno da frase “Isso é Cinema!” | Crítica

    Segunda parte da saga expande o grandioso universo criado por Frank Herbert (divulgação/Warner Bros.) Duna: Parte 2 chegou repleto de expectativas. Afinal, a primeira parte da saga que adapta o clássico livro de Frank Herbert terminou, literalmente, com a frase “isso é apenas o começo”. Após quase 2h40, onde constrói lentamente as engrenagens culturais, políticas e religiosas que regem o universo de Duna, o primeiro filme chega ao fim antes de alcançar alguns dos pontos altos da história, algo que é justificado pela impossibilidade de compilar em um único longa toda a obra original, mas que acabou resultando em um final anticlimático que jogou uma enorme responsabilidade para a continuação. Felizmente, Duna: Parte 2 cumpre seu destino com um filme épico, digno da frase “Isso é Cinema!”. O segundo filme começa exatamente de onde seu antecessor parou, com Paul ( Timothée Chalamet ) e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson ), pedindo abrigo aos Fremen após o massacre de toda a Casa Atreides. O grupo, nativo do planeta Arrakis, aceita receber mãe e filho pela possibilidade dos dois estarem ligados a uma antiga profecia. Assim, Paul precisa aprender os costumes dos Fremen, se tornar um deles e convencê-los de que pode ser útil na batalha final contra os Harkonnen pelo controle de Arrakis. O diretor Denis Villeneuve abraça o gênero de aventura com a jornada de Paul para se tornar um Fremen. Cada nova descoberta é conduzida com empolgação e deslumbramento pelo diretor, e junto ao jovem Atreides vamos aprendendo como funciona essa sociedade, suas tradições, hierarquias, táticas de guerra e principalmente suas diferenças ideológicas, uma vez que parte dos Fremen acredita que Paul é o Messias prometido, já a outra enxerga tudo isso como uma grande besteira. Estes dois pontos de vista são amplamente discutidos durante a primeira etapa do filme, na qual Villeneuve fala sem o menor pudor sobre o poder da religião no controle de massas. Nesse momento Duna: Parte 2 deixa de lado o senso de aventura e deslumbramento tão marcantes no primeiro filme e se aprofunda em temas que marcaram não apenas a obra de Frank Herbert, mas que estão em pauta até os dias de hoje. Conflitos por combustível, política e crenças estão presentes na narrativa que não se contenta em repetir o que deu certo no longa anterior, dando passos importante em direção ao contraste que torna a segunda parte muito mais grandiosa. (divulgação/Warner Bros.) A fé é um dos elementos mais importantes para a ascensão de Paul Atreides, que é conduzida com perfeição por um Chalamet confortável no papel do predestinado que apesar de não acreditar ser um Messias prometido, sabe que a possibilidade pode ser útil em sua vingança contra os Harkonnen, e por isso aceita esse destino mesmo que a contragosto. Todas essas dúvidas e questionamentos fazem de Paul um personagem complexo e enriquecem não só sua evolução, como dos demais personagens que o cercam. O embate entre fé e ceticismo é muito bem representado por duas figuras centrais para ascensão de Paul. De um lado temos Stilgar ( Javier Bardem ), que vê sinais proféticos em cada ação do protagonista e rouba a cena sempre que aparece. Do outro temos Chani ( Zendaya ), que acredita que quem deve salvar os Fremen da opressão deve ser os próprios Fremen, não um estrangeiro prometido a milhares de anos. É dela, inclusive, que sai uma das frases mais emblemáticas do filme: “se quiser controlar as pessoas, prometa a elas um salvador e elas o esperarão pelo resto da vida” . O primeiro filme foi bem direto ao dividir os heróis, representados pelos Atreides, e os vilões, encarnados na Casa Harkonnen e no impiedoso Barão ( Stellan Skarsgard ). Mas a Parte 2 se dedicada a diluir a linha que separa o “bem e mal”, trazendo para a narrativa alguns tons de cinza que podem ser vistos tanto na decisão de Paul em aceitar seu destino, mesmo que isso resulte em uma sangrenta Guerra Santa, quanto em Lady Jessica, que deixa de lado a mãe amorosa e preocupada vista no longa anterior para se tornar uma figura controversa e manipuladora, cheia de interesses escusos. A primeira parte de Duna terminou com um duelo um tanto quanto monótono entre Paul e o Fremen Jamis ( Babs Olusanmokun ), no qual o protagonista vence sem grandes problemas. Isso deixou a sensação de que, por se tratar de uma narrativa alimentada por profecias, a imprevisibilidade da trama acabaria se perdendo. Afinal, se tudo está escrito, onde se encontra a ameaça? (divulgação/Warner Bros.) Felizmente, Villeneuve contorna esse problema nos apresentando o outro lado do conflito. O cineasta confere mais espaço para a Casa Harkonnen, nos apresentando um pouco de suas tradições, funcionamento interno e mostrando como os feitos de Paul junto aos Fremen tem afetado o controle da Casa sobre o planeta Arrakis e principalmente sobre a Especiaria, principal recurso do universo de Duna. O grande destaque desta etapa do filme é a chegada de Feyd-Rautha . O psicótico sobrinho do Barão Vladimir Harkonnen é apresentado como uma espécie de versão sombria de Paul, uma vez que ambos estão sendo moldados, cada um a sua maneira, para governar Arrakis. Tal paralelo é explorado de maneira sublime pelo ator Austin Butler ( Elvis ), que domina praticamente todas as cenas em que aparece. Além dos dois núcleos, o filme também dedica parte de seu tempo acompanhando aqueles que não tomam lados, em especial a Princesa Irulan ( Florence Pugh ), que nos contextualiza sobre as reverberações da queda da Casa Atreides em outros pontos do Imperium. Apesar de curta, a participação de Pugh é uma boa introdução para a personagem, que terá muito mais destaque nas possíveis continuações. Duna: Parte 2 é a consagração da carreira de Denis Villeneuve, combinando tudo que o cineasta aprendeu em projetos passados como Os Suspeitos (2013), A Chegada (2016) e Blade Runner 2049 (2017). Ao lado de Greig Fraser, o diretor cria uma fotografia irretocável retratando mundos diversos, das dunas de areia que moldam o deserto de Arrakis aos sombrios corredores de Gieidi Prime (terra natal da Casa Harkonnen) – com destaque para a espetacular sequência em preto e branco que marca a apresentação de Feyd-Rautha. A grande batalha pelo controle de Arrakis é impressionante, elevando o projeto a níveis vistos apenas em obras como O Senhor dos Anéis (2001 – 2003). Apesar de rápido, o embate final é a culminação de todos os conflitos vistos até aqui e graças aos tais tons de cinza, podemos nos atentar ao fato de que não há um lado certo, e assim, temer por cada um dos envolvidos. Villeneuve já disse anteriormente que cinema é muito mais sobre imagens do que diálogo, e através delas o diretor consegue traduzir toda a grandiosidade da obra de Frank Herbert, tornando Duna um espetáculo que merece ser visto na tela grande, de preferencia em salas com a melhor qualidade de som e imagem. Duna: Parte 2 é um filme gigante, tão grande quanto um Shai-Hulud (vermes que habitam as areis do deserto de Arrakis). Villeneuve criou um épico que, assim como a obra original, não foge dos temas mais espinhosos, e que tem tudo pra ficar marcado na história do cinema, atingindo um patamar que só pode ser comparado à trilogia da Terra Média de Peter Jackson . Que venha Duna: Parte 3 !

  • Rebel Moon: Parte 2 consegue piorar o que já estava ruim | Crítica

    A segunda parte do épico espacial de Zack Snyder desperdiça a chance de corrigir o curso após os erros do primeiro filme (Netflix/Divulgação) Desde que foi anunciado, Rebel Moon , novo projeto de Zack Snyder na Netflix , tinha grandes planos para o futuro. Como disse em minha crítica passada, a franquia contava (e ainda conta até o momento) com versões estendidas, jogos de videogame, animações entre outros projetos derivados antes mesmo da Parte 1: A Menina do Fogo estrear.  Entre altos e baixos, o longa não atingiu a expectativa esperada nem pelo diretor, muito menos pelo streaming vermelho. Porém, Snyder construiu um universo fascinante o suficiente para manter viva a esperança de o projeto vingar (mesmo que em detrimento da própria história). O problema é que Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes consegue a proeza de perder todos os pontos fortes do filme anterior e piorar tudo que já estava ruim. O novo longa começa exatamente de onde o anterior parou, com Kora ( Sofia Boutella ) e seu grupo de rebeldes retornando a lua de Veldt. Claramente inspirada em Os Sete Samurais de Akira Kurosawa , a história coloca os heróis para ensinar a pacata comunidade de agricultores que lá vive a lutar e se preparar para o inevitável confronto com o maligno império do Mundo-Mãe. Se o primeiro filme teve como seu ponto forte a exploração do universo criado por Snyder, repleto de planetas com culturas, arquiteturas, maquinários e criaturas próprias, ostentando um trabalho impecável dos departamentos de arte, o segundo optou por se passar quase que em sua totalidade na lua de Veldt. Uma decisão que poderia ajudar na narrativa do projeto ao diminuir um pouco o escopo da produção e finalmente focar no desenvolvimento de cada um de seus personagens, mas o resultado apenas tira de Rebel Moon sua maior virtude. A comunidade de fazendeiros da lua de Veldt é completamente desinteressante. Tirando meia dúzia de cavalos alienígenas (que depois desaparecem inexplicavelmente), você poderia facilmente achar que o filme se passa em alguma comunidade agrícola do planeta Terra, visto que as habitações e o figurino usado por seus habitantes (vestidos simples, calças com suspensórios, camisas, boinas, entre outros) contrastam com a estética fantasiosa apresentada nos demais elementos da produção. A sensação que se tem é a de que os atores simplesmente saíram de suas casas e foram filmar com suas próprias vestimentas. Sem o visual para se sustentar, A Marcadora de Cicatrizes ressalta tudo que havia de errado na parte um. A falta de desenvolvimento do grupo rebelde cobra seu preço logo em sua primeira cena, quando o general Titus, personagem de Djimon Hounsou , se coloca diante da comunidade de Veldt e faz um discurso extremamente raso sobre confiança e união. Só que há um problema: a essa altura do filme (somando as duas partes) nós ainda não nos importamos nem com aquele povo, nem com quem os defende. O filme parece gritar para que nos importemos com ele. Como se só um passado trágico bastasse para criar conexão entre personagens e público, Snyder usa e abusa dos flashbacks para dar alguma razão para as ações do grupo. Porém, tudo é construído da pior maneira possível, com os personagens literalmente se sentando em uma mesa e contando um a um suas histórias. Cada uma, intercalada por intermináveis sequências de flashback em câmera lenta e com os personagens narrando os acontecimentos, mostrados em tela, com um tom de voz profundo e sofrido, que tenta passar para o espectador uma sensação de seriedade na situação, mas sem nunca fazer valer o real perigo. (Netflix/Divulgação) Por que devemos nos importar com o massacre da família de Tarak ( Staz Nair ), ou com o fato de Nêmesis ( Bae Doona ) ser uma mãe que perdeu os filhos, se nenhuma dessas informações tem impacto na história que estamos acompanhando? Mais uma vez, o grupo de rebeldes não passa de coadjuvantes de luxo, esperando a hora de serem úteis à narrativa. Narrativa essa que luta pra ser minimamente crível. O roteiro escrito por Snyder em parceria com Kurt Johnstad ( 300 ) e Shay Hatten ( John Wick 3 ), busca desesperadamente (e falha miseravelmente) nos convencer de que, com um bom discurso motivacional e com muita autoconfiança, um bando de fazendeiros, com 2 dias praticando tiros em alvos parados e lutas corporais contra bonecos de feno, pode enfrentar um exercito altamente treinado e fortemente armado. Há momentos em que o texto parece abrir mão da coerência e simplesmente entrega qualquer coisa só para fazer a história andar. Isso fica evidente quando o Mundo-Mãe decide, de uma hora para outra, bombardear a comunidade de Veldt, mesmo que isso signifique destruir as reservas de grãos, que eram o principal interesse do império naquele lugar. Fica claro que essa mudança abrupta nos planos tem somente um propósito: dar uma urgência na batalha final entre Kora e o Almirante Noble ( Ed Skrein ). Por falar em Kora e Noble, A Marcadora de Cicatrizes escancara o fato de que Rebel Moon tem uma péssima heroína e um péssimo vilão. Kora não tem carisma, seu desenvolvimento, mesmo com duas longas sequências de flashback , é superficial e suas cenas de ação, apesar de bem coreografadas, estão longe de serem memoráveis. Principalmente seu duelo de espadas lazer (porque não podemos chamar de “sabres de luz”) contra Noble, que não passa de um estereótipo do militar fascista, cruel e histérico, que varia sua força de acordo com a necessidade do roteiro. Ao longo das duas horas e quinze minutos, o projeto se mostra incapaz de gerar um pingo de emoção ou surpresa. Todo o conflito em Veldt se resolve da forma mais previsível possível, com cenas de ação pouco inspiradas que ficam aquém de outras obras do diretor. Com destaque para a estranha sequência de disparos de lazer, cruzando a tela, de um lado para o outro, em câmera lenta. (Netflix/Divulgação) Para não dizer que Rebel Moon é desprovido de pontos positivos, vale falar no robô Jimmy, interpretado por Anthony Hopkins . De longe o personagem mais bem desenvolvido da história, com o visual mais marcante e criativo de toda a franquia, mas que infelizmente não é bem utilizado por Snyder que o cozinha por quase quatro horas se juntarmos os dois filmes, para no final restringi-lo apenas a uma conveniência de roteiro.   “eu queria ser Star Wars, mas não sou” . Essa frase resume bem o que é Rebel Moon . Snyder parece uma criança mimada que, incapaz de aceitar a recusa da Lucasfilm por suas ideias, resolveu fazer a sua própria versão do clássico de George Lucas , mas sem um pingo do carisma e genialidade da obra original. Os fãs mais devotos do diretor talvez digam: “Ah, mas a versão estendida que ele vai lançar será melhor”. Com todo respeito, ninguém aguenta mais essa desculpa para os filmes de Zack Snyder. Esse papo furado existe desde o fracasso de Batman v Superman (2016) no já extinto DCEU. CHEGA! JÁ DEU! Se no caso de seu “snyderverso” da Liga da Justiça existia certa justificativa para a produção de versões estendidas, uma vez que houve limites, impostos pelo estúdio, para a duração dos longas (um filme de duas horas é muito mais vantajoso para o estúdio do que um filme de três ou quatro horas, pois podem ser passados mais vezes ao dia nas salas de cinema), com Rebel Moon isso não se aplica, pois estamos falando de uma produção feita para o streaming, ou seja, não há limite de tempo. A impressão que se tem é de que o cineasta se perdeu dentro do próprio personagem. Faz duas versões do mesmo filme apenas para massagear o próprio ego e até para se defender das críticas caso a primeira versão venha a fracassar. No fim, Rebel Moon Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes falha em tudo que se propõe a fazer. O longa desperdiça a chance de corrigir o curso após os erros do primeiro filme e com tantos derivados anunciados previamente, Snyder já tratou de avisar que planeja entre seis a nove filmes para Rebel Moon (qualquer semelhança com outra famosa franquia espacial é mera coincidência, só que não). O gancho deixado no final do filme clama, mais uma vez, pela confiança do público nos planos do diretor. Resta saber se essa história, algum dia, deixará de ser uma promessa e terá, enfim, alguma relevância. Por enquanto, o “não” parece ser a resposta mais coerente.

  • X-Men ’97 é um triunfo do Marvel Studios | Crítica

    Continuação da série dos anos 1990, a animação reafirma a força desses personagens mesmo depois de 30 anos. (Marvel Studios/Reprodução) Entre 1992 e 1996, a série animada dos X-Men se tornou uma das adaptações mais cultuadas da equipe de heróis da Marvel e abriu caminho para as adaptações em live-action , lançadas nos cinemas durante os anos 2000. Após um começo estrondoso, os filmes live-action dos mutantes foram perdendo sua força original. Por outro lado, quase 30 anos depois, a popularidade da animação continua grande. Diante de uma nova versão cinematográfica dos X-Men, agora comandados por Kevin Feige, no MCU , fazia sentido tentar repetir o mesmo efeito causado anteriormente e utilizar o amor pela série animada para reviver o interesse do público no grupo de mutantes. É nesse contexto que surgiu X-Men ’97 , produção do Disney+ que dá sequência a clássica animação da década de 90. Se utilizar da nostalgia para reascender o apetite do público pelos mutantes pode parecer uma ideia óbvia, mas felizmente a série triunfa ao equilibrar originalidade com as glórias do passado. A trama não só resgata a essência daqueles X-Men que o público assistia quando criança, como evita jogar no seguro e repetir o que foi feito anteriormente. Como esperado, X-Men ’97 começa exatamente de onde o original parou com a equipe que dá nome a produção tendo que lidar com a ausência de seu líder, o Professor Xavier, após este ser vítima de um atentado na ONU. A trama então segue as consequências deste episódio que vão desde a equipe sendo liderada pelo Magneto, devido a um testamento deixado por Xavier, até o aumento das hostilidades entre humanos e mutantes. Durante 10 episódios, o criador da série, Beau DeMayo , e o time de roteiristas composto por Charley Feldman , JB Ballard e Anthony Sellitti , fizeram um trabalho impecável no resgate dos diversos elementos marcantes da história dos X-Men, como os embates contra vilões clássicos como as Sentinelas ou o temível Sr. Sinistro, mas principalmente ao tocar fundo em questões sociais como preconceito, ódio e genocídio (temas que muita gente esquece, mas que a série original já tocava) e é claro nos dramas internos que humanizam os personagens. (Marvel Studios/Reprodução) O motivo pelo qual os X-Men são tão amados é o fato de que o público consegue se identificar com cada um deles. Eles são uma família, e como toda boa família, tem seus problemas internos.  O principal trunfo de DeMayo foi trabalhar essa dinâmica familiar sem se esquecer de manter esses dramas pessoais diretamente conectados à narrativa. Reviravoltas como a do impecável e surpreendente episódio cinco, só são possíveis porque conhecemos e nos importamos com esses personagens. X-Men ’97 é um grande novelão de super-heróis. E isso é ótimo! A escolha de Magneto para liderar a equipe faz com que Scott Summers, o Ciclope, se questione quanto líder ao mesmo tempo em que tem que lidar com sua relação com Jean Grey, a chegada de um clone de Jean, o nascimento de seu filho Nathan e toda a jornada de um pai de primeira viajem. O núcleo da família Summers traz alguns dos momentos mais emotivos da série.  Já o triângulo amoroso Scott, Jean e Wolverine é deixado um pouco de lado para o desenvolvimento da relação entre Vampira, Gambit e Magneto (os três protagonizam um dos melhores episódios da série). Enquanto isso, Tempestade passa por uma jornada de autodescoberta, após um evento traumático. Além, é claro, da presença espirituosa dos coadjuvantes como Wolverine, Jubileu, Fera, Mancha Solar, Morfo e Noturno, que, cada um a sua maneira, contribui para a narrativa. Outro ponto marcante nas histórias dos mutantes sempre foram as metáforas nada sutis com problemas sociais do mundo real. DeMayo ressalta a força do discurso político dos X-Men, sem se importar com o que uma parcela barulhenta da Internet possa falar e aborda supremacia branca nos discursos de Bastion, identidade de gênero com Morfo e até faz um paralelo com a descoberta da sexualidade em cena do episódio sete, “Olhos Brilhantes”, na qual Roberto da Costa, o Mancha Solar, revela ser um mutante para sua mãe. Também não podiam faltar os conflitos ideológicos entre Xavier e Magneto, com o segundo, vilão que num primeiro momento se torna herói, ganhando muito mais destaque e nos fazendo questionar quem está certo nesse interessante do debate sobre tolerância que a série propõe. É claro que a série não está isenta de alguns tropeços. A narrativa cria certa barriga no episódio de Jubileu com Motendo (apesar da divertida homenagem aos games dos X-Men), e na desinteressante história de Xavier com o Império Shi’ar, além de correr para concluir algumas tramas que demandavam mais tempo, como no arco “Morte em Vida”, protagonizado por Tempestade e Forge. Felizmente, nada disso tira o brilho do roteiro de DeMayo, que compensa nas tramas da família Summers ou na jornada da Vampira. (Marvel Studios/Reprodução) Se o roteiro de X-Men ‘97 é digno de elogios, a parte visual não deixa a desejar. Correndo o risco de soar datada, visto que produções como a série Arcane da Netflix ou a franquia Aranhaverso da Sony Pictures revolucionaram as técnicas de animação nos últimos anos, a série do Disney+ buscou manter o visual clássico de heróis e vilões, bem como as técnicas de animação da produção original. Uma decisão que se mostrou acertada e que contou com um trabalho primoroso do Studio Mir e da Tiger Animation para equilibrar o clássico com o moderno, aplicando uma simples camada de alta definição que dá aos episódios uma identidade própria. A equipe de diretores, liderados por Jake Castorena , realizaram um excelente trabalho na representação visual dos diferentes poderes dos heróis e vilões, bem como na recriação fidedigna de momentos icônicos das HQs da Marvel. X-Men ’97 é um triunfo do Marvel Studios . Uma produção feita com muita paixão que reafirma a força desses personagens mesmo depois de 30 anos. A série não só aponta o norte para a vindoura adaptação live-action do MCU, mas também caminha com as próprias pernas em direção a um universo único, independente e acima de tudo especial. Com uma segunda temporada já confirmada, só nos resta aguardar, ávidos por mais. A mim, meus X-Men!

  • Furiosa é um brutal estudo de personagem ao melhor estilo Mad Max | Crítica

    Quase dez anos depois de Estrada da Fúria, George Miller promove, novamente, um espetáculo épico. Warner/Reprodução Quase dez anos após surpreender o mundo com o grandioso Mad Max: Estrada da Fúria , George Miller, criador de toda a saga Mad Max , retorna a franquia com Furiosa: Uma Saga Mad Max , derivado do filme de 2015, que supera qualquer desconfiança a respeito de sua “necessidade” com um brutal estudo de personagem repleto de adrenalina, explosões e, é claro, muitas perseguições de carro. Novamente dirigido e coescrito por Miller, o novo filme conta a história de Furiosa ( Anya Taylor-Joy ) desde sua infância até se tornar a guerreira durona que rouba a cena em Estrada da Fúria . Testemunhamos como ela, ainda pequena, foi sequestrada por Dementus ( Chris Hemsworth ) e seu doentio bando de motoqueiros do Deserto, fazendo com que a jovem tenha que lutar para sobreviver neste inóspito e violento mundo pós-apocalíptico. Enquanto Estrada da Fúria se movia em um ritmo acelerado, focando na intensa perseguição de Immortan Joe ( Hugh Keays-Byrne ) ao grupo de Max ( Tom Hardy ) e Furiosa ( Charlize Theron ), o novo filme permite que Miller de uma respirada para expandir seus personagens e o mundo que os cerca. Dividido em cinco capítulos, o longa explora as várias camadas que fazem de Furiosa uma protagonista diferente de outras versões jovens de heróis da cultura pop. Desde pequena, Furiosa já é corajosa e astuta, características que veremos em sua versão adulta, mostrando que, apesar da brutalidade do mundo em que está inserida, não são apenas suas tragédias e traumas que moldaram a guerreira que vemos em Estrada . Assumir um papel que ficou tão marcado pelo talento e carisma de Theron pode parecer uma tarefa ingrata. Felizmente, a tarefa é superada com maestria tanto pela jovem Alyla Browne , que da vida (por uma boa parte do filme) a versão criança da personagem quanto pela experiente Anya Taylor-Joy, que faz a ponte entre a infância roubada e os dias como Imperatriz na Cidadela de Immortan Joe. Mesmo com pouco mais de 30 linhas de diálogo, Taylor-Joy consegue transmitir toda a imponência e os sentimentos conflitantes de Furiosa apenas com o olhar e os gestuais, que vão mudando conforme a personagem vai amadurecendo. Um resultado atingido, não só pelo talento da atriz, como também pela direção de Miller e a fotografia de Simon Duggan que buscam sempre closes do rosto de Joy. Warner/Reprodução Todo bom protagonista precisa também de um bom vilão, e Dementus é um personagem tão caótico que além de ser responsável pelas desgraças na vida de Furiosa e alvo de sua vingança, ele também desestabiliza todo o equilíbrio econômico e político entre facções e territórios da Wasteland . Chris Hemsworth entrega uma das melhores atuações de sua carreira, utilizando sua veia cômica, tão elogiada em filmes como Thor: Ragnarok , para apresentar um antagonista caricato, tão engraçado quanto ameaçador. Um trabalho que assemelha Dementus (até pelas vestimentas do personagem, uma vez que a capa vermelha traz recordações do astro caracterizado como Thor) a um clássico vilão de histórias em quadrinhos. O amadurecimento da personagem é contado ao melhor estilo Mad Max, com cenas de ação explosivas e perseguições em alta velocidade repletas de adrenalina. Miller expõe todo seu talento para criar espetáculos memoráveis com muitos efeitos práticos, chicotes de câmera e alguns retoques em computação gráfica que podem causar alguma sensação de artificialidade, mas que é abraçada por Miller e Duggan na criação da estética surrealista que permeia todo esse universo. Furiosa deu a Miller a oportunidade de explorar com mais detalhes as sociedades pós-apocalípticas apresentadas em Estrada da Fúria . Da Cidadela de Immortan Joe, passando pela Vila Gasolina até a Fazenda das Balas, vemos como esses três poderes comandam o Deserto, como funciona o comércio entre as cidades e como, apesar de possuírem armas poderosas e exércitos lunáticos, prontos para morrer por seus líderes, a simples presença de um homem como Dementus pode desestabilizar esse equilíbrio ao ponto de causar uma nova Grande Guerra na história da humanidade. Mais que um filme de origem, Furiosa: Uma Saga Mad Max é uma reflexão sobre vingança. A produção busca a todo tempo nos passar a sensação de que a vida no Deserto “fortalece” e que ódio e violência são as únicas maneiras de sobreviver neste ambiente hostil. Porém, a história usa a jornada de sua protagonista para questionar essas crenças e refletir a respeito do que resta após a missão. Se vingança é o que te move, para onde você vai após concluí-la? Ainda que não atinja o mesmo nível de Estrada da Fúria (e esse nem parecer ter sido o objetivo de Miller), Furiosa é um raro caso de spin-off que tem sua razão de existir. Assim como um Rogue One de Star Wars , Furiosa vai além das referências ao filme anterior e traz histórias e personagens interessantes e complexos.  Quase dez anos depois, Miller mostra que é o verdadeiro “guerreiro da estrada”, promovendo, novamente, um espetáculo épico digno do título Mad Max .

  • The Acolyte traz o melhor e o pior de Star Wars | Crítica

    Mesmo com ótimas ideias, a nova série da franquia peca na execução e não atinge todo seu potencial. Disney+/divulgação Nos últimos anos, a franquia Star Wars tem sido uma verdadeira montanha russa, entregando grandes produções como Andor (2022) ou Ahsoka (2023), mas também projetos duvidosos como o desastroso A Ascensão Skywalker (2019) ou O Livro de Boba Fett (2021). Com The Acolyte , a nova série da saga espacial, não foi diferente. A produção, que pretendia apresentar um período, até então inédito da galáxia tão tão distante, nos filmes e séries, até tem ideias excelentes, mas acaba ficando aquém de todo seu potencial. Ambientada no período da Alta República (100 anos antes da saga Skywalker), quando os Jedi estavam no auge de seus poderes como guardiões da paz, a trama acompanha a investigação de uma série de assassinatos de mestres Jedi com todas as evidências levando a crer que a culpada é a ex-padawan Osha Aniseya ( Amandla Stenberg ). Porém, sem demorar muito, a série revela que, na verdade, os crimes estão sendo cometidos por Mae, irmã gêmea de Osha (também vivida por Stenberg), dada como morta há dezesseis anos, após um evento que destruiu o clã de poderosas bruxas da Força da qual faziam parte. A partir de então, Osha se junta a seu antigo mestre, Sol ( Lee Jung-Jae ), e parte em uma caçada por Mae, desembocando na descoberta de uma grande conspiração que vai alterar o destino das irmãs e da Ordem Jedi. Toda essa premissa mostra que as ideias da showrunner Leslye Headland tinham o potencial para fazer de The Acolyte uma das melhores produções da franquia. A série, porém, peca na maneira que conduz sua narrativa com algumas tramas, como a revelação de Mae como a assassina, se resolvendo de forma fácil e rápida, enquanto outras como a verdade por trás do passado das gêmeas, se arrastam ao longo dos oito episódios da produção. O ritmo inconstante é sentido especialmente nas jornadas de Osha e Mae. Amandla Stenberg ( Jogos Vorazes ) faz o que pode para conferir algum carisma para as irmãs, mas o texto raso dificulta a atuação da jovem atriz. Na primeira metade da temporada, Osha é desprovida de qualquer tipo de personalidade, sendo literalmente guiada pelos demais personagens. Quase esquecemos que se trata de uma das protagonistas. Enquanto isso, Mae é um pouco mais trabalhada, mas suas constantes mudanças de objetivos ao longo da série impedem que construamos qualquer tipo de conexão emocional com ela. A situação muda na segunda metade, quando as irmãs invertem os papeis. Se Mae não convencia como vilã, passa a convencer muito menos como heroína. Por outro lado, medida que vai se aproximando da verdade por trás de seu passado, mas também do Lado Sombrio, Osha começa a atrair nossa atenção numa trama que fala sobre liberdade, sentimentos e desejo. Disney+/divulgação Se as protagonistas alternam entre bons e maus momentos, o mesmo não pode ser dito de seus mestres. Lee Jung-Jae ( Round 6 ) confere a seu Mestre Sol uma personalidade dúbia. Ao mesmo tempo em que transmite serenidade e compaixão, características que o tornam comparável a outros grandes mestres de Star Wars , como Obi-Wan Kenobi e Qui-Gon Jinn , o astro leva à tela um homem instável emocionalmente, disposto a tudo para fazer o que acha certo, mesmo sem pensar nas consequências. Tudo isso fica ainda mais impressionante devido ao fato do ator coreano não falar inglês, tendo se dedicado para aprender foneticamente todas as falas de seu personagem. Ainda assim, o destaque fica mesmo com Manny Jacinto ( The Good Place ), que dá via ao misterioso Qimir. O astro rouba a cena de tal maneira que consegue potencializar tudo e todos ao seu redor, sendo o principal responsável pela melhora na personalidade de Osha. Dissimulado, carismático e extremamente ameaçador, Qimir, ou “o Estranho” (nome oficial do personagem) já cavou um lugar no panteão dos grandes vilões de Star Wars , ao lado do Imperador Palpatine , Darth Maul , Vader e Kylo Ren . Outra personagem que merece destaque é a Mestra Vernestra ( Rebecca Henderson ). Assim como seu maravilhoso sabre-chicote, a personagem ficou mais como uma promessa para uma eventual segunda temporada do que como uma peça essencial para a história que estamos acompanhando no momento. Entretanto, seu arco apresenta uma das discussões mais interessantes da série: O que fazer quando um Jedi falhar em controlar o incontrolável, ou seja, suas emoções? O diálogo entre a mestra Jedi e o Senador Rayencourt, vivido pelo ator David Harewood ( Supergirl ), é um dos melhores momentos da série e expõe a desconfiança da República para com o poder e a influência da Ordem Jedi, além de revelar o medo da própria Ordem de perder esse poder. Toda essa cena é o primeiro passo para a sucessão de eventos que vai terminar no extermínio dos Jedi por toda galáxia pelas mãos do Império e de Anakin Skywalker , o Jedi falhou em controlar suas emoções. Atuando como uma espécie de porta-voz entre a Ordem Jedi e o Senado da República, Vernestra traz para The Acolyte um tom político que eleva a qualidade do roteiro, aproximando a produção de outras obras mais maduras e bem avaliadas da franquia, como Andor . Apesar de compreensível diante dos demais assuntos abordados pela série, fica sendo uma pena que este núcleo tenha sido tão pouco explorado. Pelo menos por enquanto. Disney+/divulgação Vale uma menção honrosa para Carrie-Anne Moss ( Matrix ) como a Mestra Indara. Apesar de curta, a participação da atriz é maravilhosa e um grande acréscimo para toda a franquia. Além, é claro, de Dafne Keen (Logan), que da vida a Jecki, a atual padawan de Sol, que conquista nossos corações com seu ar jovial, impetuosidade e ingenuidade, nos fazendo lembrar da jovem Ahsoka Tano nas primeiras temporadas da animação The Clone Wars (2008 – 2020). Outro ponto positivo da produção (talvez o melhor) está nas empolgantes batalhas e duelos de sabre de luz. Do embate entre Indara e Mae logo nos primeiros minutos da série, até o confronto final entre o Qimir e Sol, The Acolyte entrega coreografias marcantes, inspiradas em filmes de artes marciais orientais como o clássico O Tigre e o Dragão (2000). Cada luta é única e cada personagem tem seu estilo próprio. Indara é calma e luta usando mais a Força do que seu sabre; Sol é um exímio espadachim, assumindo poses do Kendo antes de cada movimento; Qimir utiliza um estilo de luta conhecido no universo de Star Wars como Tràkata, que consiste em ligar e desligar o sabre durante o combate; já o mestre Kelnacca entrega a força bruta que esperávamos de um Wookie Jedi. No final, The Acolyte traz o melhor e o pior de Star Wars . Apesar das batalhas empolgantes e de personagens memoráveis, a impressão que fica ao finalizar a série é de que a Disney entregou mais uma produção "apenas legal” num momento em que estamos ávidos por algo realmente grande na franquia, principalmente depois do fatídico episódio IX (nunca vou te perdoar por isso J.J. Abrams). Mas sem esperança os Rebeldes nunca teriam derrotado o Império, e caso uma segunda temporada seja confirmada, The Acolyte tem tudo para melhorar (o retorno de um velho conhecido dos fãs e a chegada de um Sith a muito aguardado, comprovam isso). A Disney tem um diamante nas mãos, basta lapidá-lo corretamente.

  • Deadpool & Wolverine celebra o legado da Marvel no cinema | Crítica

    Ryan Reynolds usa e abusa da nostalgia na despedida ao universo da 20º Century Fox (divulgação/Disney) Quando a compra da 20º Century Fox pela Disney foi confirmada, o anúncio foi recebido com muita empolgação, mas também despertou algumas dúvidas. Se por um lado os fãs da Marvel comemoravam a iminente chegada dos X-Men e do Quarteto Fantástico ao MCU, por outro se perguntavam como Kevin Feige e companhia iriam inserir em seu universo tão organizado um personagem tão caótico quanto o Deadpool . O tom paródico e desbocado dos dois primeiros filmes do mercenário tagarela parecia não se encaixar com o estilo adotado pela casa do Mickey Mouse para os longas do Marvel Studio. Porém se tem alguém que se dedicou de corpo e alma por esse personagem, esse alguém é Ryan Reynolds . Desde que a aquisição da Fox foi oficializada, Reynolds deu início a uma campanha massiva pela realização do terceiro capítulo da história de Wade Wilson. Após muitas reuniões, e roteiros apresentados, o longa teve sinal verde com direito a "autorização da Disney" para o astro fazer tudo o que sempre quis fazer com o personagem. O resultado vem cinco anos após a fusão entre os estúdios com Deadpool & Wolverine , um filme divertidíssimo, recheado de humor, autocrítica e fan service, celebrando o legado da Marvel no cinema da maneira que só mesmo o Deadpool poderia proporcionar. Único personagem da Fox a ter sua franquia continuada no Marvel Studios, a trama brinca com essa situação colocando a AVT (aquela mesma de Loki ) para revelar ao Deadpool que o universo ao qual ele pertence será destruído, mas que o mercenário foi escolhido para ser salvo e ingressar na Linha do Tempo Sagrada do MCU. Incapaz de deixar sua família e amigos para trás, o herói parte em uma louca aventura pelo multiverso da Marvel em uma tentativa de alterar o destino do seu universo. Para isso, ele conta com uma ajuda muito especial: o Wolverine de Hugh Jackman . Tirar Hugh Jackman da “aposentadoria”, após o astro se despedir do personagem em Logan (2017), talvez tenha sido a jogada de mestre de Reynolds. Considerado um dos rostos mais icônicos do cinema de super-heróis, Jackman retorna ao papel de Wolverine trazendo para as telonas uma versão que é, ao mesmo tempo, uma celebração de toda sua história como o personagem, mas que também explora aspectos inéditos do Carcaju. Culpando-se pela morte dos X-Men em seu universo, o mutante surge ainda menos heroico do que em sua ultima aparição nos cinemas, sendo mais arrastado para a missão do Deadpool, do que aceitando ajudar de bom grado. Não há dúvidas de que Hugh Jackman e seu Wolverine foram os grandes responsáveis por todo o hype que foi construído em torno do filme, mas mesmo assim, a produção nunca esquece quem é o dono da festa. Completamente à vontade no uniforme apertadinho do mercenário tagarela, Reynolds mostra porque é a personificação da franquia. O astro chega ao terceiro filme com a mesma energia (ou até mais) de quando vendeu o projeto para a Fox com um vídeo feito por ele mesmo. Entre lutas violentas e piadinhas obscenas, Reynolds traz a tona todo o humor característico do personagem, rindo da Marvel, da finada Fox e de si mesmo. A trama de Deadpool & Wolverine segue a mesma pegada de comédia buddy cop – em que dois policiais com personalidades opostas precisam superar suas diferenças para salvar o dia – vista em Deadpool 2 (2018) com Wade Wilson e Cable ( Josh Brolin ). Isso poderia dar a narrativa um ar de repetição, mas a dinâmica entre Deadpool e Wolverine, definida pelas brigas brutais e sanguinárias da dupla ao longo do filme, é tão maravilhosa que fica fácil ignorar os clichês do roteiro e simplesmente curtir a aventura. Essa química só foi possível graças ao carisma e pela amizade entre Ryan Reynolds e Hugh Jackman. Desde que anunciaram o filme, os dois tem se provocado nas redes sociais, alimentando a “rivalidade” entre os personagens que interpretam, e criando uma campanha de marketing tão natural que deixou claro o quanto a dupla se divertiu fazendo esse filme. (divulgação/Disney) Contexto é tudo. Se formos analisar friamente a história de Deadpool & Wolverine , vamos nos deparar com um filme um tanto quanto raso. Tirando a dupla protagonista, todos os demais personagens têm pouco ou nenhum desenvolvimento, um problema que atinge, especialmente, a vilã Cassandra Nova ( Emma Corrin ). O filme ainda conta com muitos diálogos expositivos que até tentam trazer elementos dramáticos para a trama, mas que se perdem dentro de um turbilhão de referências e participações especiais. Se fosse qualquer outro filme, todas essas questões fariam a qualidade cair vertiginosamente. Mas é ai que está. Não estamos falando de um filme qualquer, esse é um filme do Deadpool, cujo humor pastelão e a habilidade de quebrar a quarta parede, permitem ao personagem rir da própria aventura e fazer com que qualquer patinada do roteiro seja parte da experiência de assistir ao filme. Ao lado de Jackman e de seu parceiro de longa data, o diretor Shawn Levy ( Free Guy , Projeto Adam ), Reynolds, que também assina o roteiro, navega pelo multiverso da Marvel sem nenhuma vergonha de ser galhofa. O trio abraça o status de filme-evento, deixando claro que seu grande objetivo é simplesmente agradar os fãs. Parece até que Reynolds escreveu esse roteiro ao lado de uma lista com os pedidos e teorias mais malucos feitos pelos fãs, que rondam o Universo Marvel desde Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022). Deadpool & Wolverine é uma carta de despedida ao universo da 20º Century Fox. É como se estivéssemos terminando um longo relacionamento que passou por águas turbulentas, mas que também teve bons momentos. Com direito a muitas participações nostálgicas e referências que só quem acompanhou a história de perto pode perceber, o longa trata as produções do estúdio com muita zoeria, mas também com uma merecida reverência, afinal os filmes de X-Men, Quarteto Fantástico, Demolidor , Justiceiro , Blade e Elektra , pavimentaram a estrada para o atual Universo Compartilhado da Marvel, produzido pela Disney. Não havia lugar melhor para essa homenagem, uma vez que Jackman se transformou no rosto dos X-Men na Fox, e o mercenário tagarela de Reynolds trouxe um, muito bem vindo, respiro para a franquia mutante e ao gênero super-heroico. Vale destacar que este filme também é a realização do sonho de um jovem Kevin Feige, que muitos anos antes de se tornar o "Poderoso Chefão" do Marvel Studios, estava lá, atuando como produtor no primeiro filme dos X-Men, e sendo, talvez, o principal responsável por Hugh Jackman aceitar o papel de Wolverine. Mas essa é uma história para outra hora. Deadpool & Wolverine não é a grande revolução do Universo Marvel (se é que tal revolução seja realmente necessária) que muitos esperavam, mas sinceramente, não precisa ser e nem o próprio filme está interessado nisso. Reynolds sabe o que seu público deseja e entrega o clássico cinemão pipoca de super-herói e junto de Jackman e Levy, mostra que o gênero continua tão vibrante quanto às cores nos uniformes de seus personagens. Tudo isso ao som de uma excelente playlist dos anos 2000.

  • Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice honra seu legado, embalado no mais puro suco de Tim Burton | Crítica

    Continuação do clássico de 1988 é uma excelente porta de entrada para o estranho mundo de seu diretor (Warner/Divulgação) Nos últimos anos Hollywood tem apostado em continuações tardias de filmes clássicos, colecionando alguns sucessos e muitos fracassos. Uma das sequências mais pedidas pelos fãs sempre foi a continuação de Os Fantasmas Se Divertem , grande sucesso do diretor Tim Burton . Mesmo assim, havia uma dúvida se a produção teria realmente uma história que merecesse ser contada, ou se seria apenas uma continuação sem alma que simplesmente repete a fórmula que deu certo no passado. Felizmente, Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice dribla essa desconfiança com uma história nova, divertida e encantadora, embalada no mais puro suco de seu diretor. Ambientada décadas após o longa original, a trama traz Lydia Deetz ( Winona Ryder ) de volta à pequena cidade de Winter River, após uma tragédia familiar. Usando seus poderes mediúnicos para viver como uma estrela da TV, Lydia tem que lidar com a relação conturbada com a filha, Astrid ( Jenna Ortega ), e enfrentar os fantasmas de seu passado, incluindo o espírito zombeteiro vivido por Michael Keaton . O grande destaque da produção está em agir como se o filme tivesse sido realizado imediatamente após o primeiro. Burton não demonstra a menor preocupação em parecer “moderno” e evita o uso de efeitos visuais muito realistas, mantendo a estética cartunesca e lúdica que o consagrou durante os anos 80 e 90. Os efeitos especiais toscos, os cenários e figurinos inspirados no surrealismo alemão, além, é claro, do humor mórbido do diretor estão de volta, trazendo para a produção a dose certa de nostalgia e fan service que agrada os fãs de longa data do diretor, mas que também encanta a nova geração. Em Os Fantasmas Ainda Se Divertem , o trio protagonista é a alma do espetáculo. Completamente a vontade no papel, Michael Keaton não deixa transparecer seus 72 anos de idade, esbanjando toda a loucura anárquica de Beetlejuice.  O astro corre, pula, dança e até canta como se fosse 1988. (Warner/Divulgação) Já Winona Ryder rouba a cena com uma Lydia mais madura, fazendo com perfeição a mudança da adolescente gótica problemática para uma mãe que tenta se reconectar com sua família. Ao seu lado, brilha a estrela de Jenna Ortega. A intérprete de Wandinha, na série de mesmo nome da Netflix , tem a importante função de trazer o público jovem para o filme, e se você, assim como eu, receava que a personagem fosse, não só uma cópia da primogênita da Família Addams, mas também uma cópia da própria Lydia pode ficar sossegado. Astrid passa longe da garota trevosa e mostra que Ortega é uma atriz versátil que não ficará presa a apenas um tipo de papel. Os filmes de Tim Burton estão repletos de personagens estranhos e cativantes e em Beetlejuice Beetlejuice não é diferente. Há espaço para coadjuvantes como Willem Dafoe , que vive um ex- ator canastrão que, em vida, atuava em filmes policiais e que, agora na morte, usa seus talentos para atuar como uma espécie de detetive do mundo dos mortos. Já Monica Bellucci surge como uma noiva cadáver em busca de vingança de Beetlejuice. Se o longa patina em algum momento, é na quantidade de núcleos presentes no roteiro assinado pela dupla Alfred Gough e Miles Millar ( Wandinha , Smallville ). Ao longo das quase duas horas, o filme conta várias histórias que parecem não estar conectadas, e que as vezes acabam ficando esquecidas até que sejam convenientes para a narrativa. Felizmente, esse problema é contornado com uma sequência final divertidíssima, que amarra todas as tramas de forma satisfatória. Falando à imprensa em coletiva no Festival de Veneza, Burton afirmou que Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice é um dos projetos mais pessoais da carreira. A afirmação ousada se justifica em uma produção que honra o passado de seu diretor ao mesmo tempo em que olha para o presente, fazendo de Beetlejuice Beetlejuice , uma excelente porta de entrada para o Estranho Mundo de Tim Burton.

  • Coringa: Delírio a Dois faz um estudo ousado e polêmico de seu personagem | Crítica

    Entre altos e baixos, sequência do aclamado filme de 2019 reflete sobre glamorização das produções True Crime Warner/Divulgação No ano de 2019, Coringa chacoalhou a fórmula dos filmes baseados em quadrinhos com uma versão inédita do Palhaço Príncipe do Crime. O longa solo do arqui-inimigo do Batman tinha uma pegada mais séria, realista e causou diversas reações no público. Alguns amaram, outros odiaram, alguns temeram que a produção gerasse uma onda de violência no mundo real e ouve até quem enxergou o supervilão como uma espécie de justiceiro. Aclamado por público e crítica, o filme atingiu a marca de Um bilhão de dólares arrecadados nas bilheterias mundiais, e foi indicado em diversas categorias no Oscar 2020 , entre elas a de Melhor Filme, rendendo ao astro Joaquin Phoenix o prêmio de Melhor Ator. Mesmo tendo sido criado como uma história única, o sucesso atingido pela produção tornou uma continuação da história de Arthur Fleck quase que obrigatória. Com carta branca para fazer o que quisesse o diretor e corroteirista da produção, Todd Phillips , optou por não repetir a fórmula e fez de Coringa: Delírio a Dois uma continuação ousada e polêmica ao levar o filme original a julgamento, explorando novas faces de seu protagonista e analisando a repercussão de seus atos. A trama de Delírio a Dois , acompanha o cotidiano de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) dentro do sistema opressivo do Asilo Arkham enquanto espera o dia em que irá responder em tribunal pelos crimes que cometeu. Chamado de “O Julgamento do Século”, a data é aguardada com grande expectativa por toda Gothan City, principalmente pela mídia que busca, de qualquer maneira, explorar a imagem do Palhaço do Crime. Quando a sequência de Coringa foi anunciada, muitos fãs imaginavam que a nova produção fosse focar na consolidação do personagem como um dos maiores chefões do crime de Gothan. No entanto, o roteiro de Todd Phillips e Scott Silver subverte essa expectativa e opta por regredir o personagem à figura de Arthur Fleck. Apesar de polêmica, a decisão permite que mergulhemos mais fundo na mente deste complexo personagem, colocando em xeque a existência do mesmo. A final existe realmente um Coringa, ou seria a figura do palhaço apenas fruto da mente de Arthur, uma personalidade extravagante criada por um homem sofrido a fim de fugir dos males que lhe afligem desde a infância? Phillips faz então, uma evolução natural do estudo do personagem que criou, mesmo que para isso tenha que sacrificar uma das principais virtudes do longa original que era deixar que o público tirasse suas próprias conclusões para as perguntas e situações apresentadas em tela. Warner/Divulgação Ao trazer o primeiro filme a julgamento, Delírio a Dois acaba tendo que responder muitas dessas perguntas. Uma decisão ousada que pode deixar um gosto amargo na audiência, principalmente em que passou os últimos cinco anos criando teorias e refletindo se tudo aquilo aconteceu exatamente da forma que foi mostrado, mas ao mesmo tempo dá liberdade para Joaquin Phoenix explorar novas facetas de Arthur. Após se consagrar com uma performance premiada, Phoenix teve a chance de brilhar novamente no papel. O ator domina a produção, trazendo à tona um Arthur ainda mais versátil, transitando entre fragilidade, raiva, felicidade e até amor. O palhaço agora busca por sua própria identidade, mesmo que o mundo ao redor tente defini-lo da forma que lhes for mais conveniente. Uma tarefa executada com perfeição por Phoenix e que, quem sabe, possa lhe render novos prêmios. Se em Coringa vimos como a “Sociedade” levou Arthur a cometer seus crimes, Delírio a Dois se propõe a mostrar como essa mesma “Sociedade” lida com os monstros que ajudou a criar. Seja para tratá-lo como um criminoso sem compaixão ou para transformá-lo em uma espécie de mártir, vemos a imagem do Coringa sendo explorada ao máximo através de julgamentos midiáticos, entrevistas sensacionalistas ou até mesmo em dramatizações para a TV. Nesse ponto, o filme lança uma reflexão sobre a forma como produções True Crime são exploradas e consumidas. Filmes e séries que retratam crimes e assassinos reais tem se tornado cada vez mais populares. A série Dahmer: Um Canibal Americano , lançada pela Netflix , por exemplo, se tornou um dos maiores sucessos da plataforma de streaming, porém a produção causou a revolta de vários parentes das vítimas do serial killer Jeffrey Dahmer que alegaram que a ficcionalização desse tipo de crime é algo cruel e retraumatizante. Além disso, criticaram o fato de muitos fãs da série estarem comprando fantasias inspiradas no visual do criminoso para se vestirem no Halloween. Se pararmos para analisar, essa situação não é muito diferente do que vemos em Delírio a Dois – e também no mundo real – com a imagem do Coringa sendo cultuada por diversos fãs do Palhaço do Crime (alguns inclusive se vestindo igual a ele) e as várias menções a produção de um filme para TV retratando os cinco assassinatos cometidos por Arthur Fleck. Em um dos momentos mais emocionantes do filme temos o depoimento de Sofie ( Zazie Beetz ), vizinha pela qual Arthur tinha obsessão, onde a personagem expõe como sua vida foi engolida pelo circo midiático que se tornou o “Caso Coringa”, com sua imagem sendo explorada pela imprensa sem seu consentimento, além de sofrer com o assédio e ameaças dos seguidores do palhaço. Warner/Divulgação Quanto mais a fama de Arthur cresce, mais fanáticos vão aderindo a sua “causa”. Esse fascínio pelo ideal que a figura do Coringa se tornou está presente em diferentes níveis durante todo o filme, mas o maior representante deste séquito de seguidores está no grande acréscimo da produção: A Arlequina , interpretada por Lady Gaga . Dar vida a uma personagem tão popular quanto a Arlequina já seria uma tarefa difícil, mas a responsabilidade aumentou depois que Margot Robbie conquistou o mundo ao interpretar a personagem nos dois filmes do Esquadrão Suicida (2016 e 2021) e em Aves de Rapina (2020). Não que a Arlequina de Delírio a Dois possa ser comparada a versão de Robbie (nem deve, afinal estamos falando de universos diferentes com propostas diferentes), mas assumir esse papel agora não deixa de ser uma missão ingrata. Felizmente, a tarefa é cumprida à risca por Lady Gaga. A estrela pop não se intimida diante da delicada missão, e brilha ao acrescentar novas camadas para a personagem. Assim como o Coringa, Harleen Quizel surge como uma versão totalmente diferente da Arlequina dos quadrinhos. Ao invés da origem tradicional onde a jovem psicóloga se apaixona por seu paciente mais ilustre, o filme apresenta Harleen – chamada apenas por “Lee” – como uma admiradora do Palhaço do Crime que cruza com o caminho dele dentro do Asilo Arkham. A partir daí a produção constrói o romance entre os dois malucos em torno da imagem idealizada de Arthur Fleck. O relacionamento abusivo entre Coringa e Arlequina já foi explorado diversas vezes por diversas mídias, sempre retratando a palhacinha como uma jovem alienada e manipulável. Sem medo da reação negativa dos fãs mais quadrinheiros, o roteiro de Phillips e Silver acerta ao inverter a dinâmica de poder da relação, apresentando uma Arlequina muito mais insana, manipuladora e acima de tudo, incontrolável. Warner/Divulgação Vamos falar do grande elefante na sala. Desde que foi anunciado, a grande polêmica era se o filme seria ou não um musical. Apesar de declarações contraditórias da equipe, podemos dizer que sim, ele é um musical. O gênero pode não ser o preferido do grande público, mas não dá pra negar que a música é algo que faz parte da personalidade de Arthur desde o primeiro filme. Sempre que praticava atos violentos, o personagem extravasava com dança, representando o Coringa se libertando das amarras que o prendiam. O que a continuação faz é elevar essa sensação ao máximo, nos colocando dentro da mente insana de Arthur e Lee. A escolha por um filme musical está longe ser um problema. A grande questão é a forma como os momentos musicais são inseridos na trama. Quando bem utilizada, a parte musical ajuda a definir a dinâmica entre Coringa e Arlequina, sem abandonar o tom sombrio da produção. Como todo bom palhaço, Joaquin Phoenix está disposto a dar um show. O astro abraça o conceito e surpreende em cada sequência de canto e dança. Lady Gaga, por sua vez, abrilhanta o espetáculo com seu talento, mas claro, nunca deixando que sua personalidade nos palcos se sobreponha à personagem. Por outro lado, o diretor Todd Phillips apresenta problemas para encaixar algumas das sequências musicais dentro da história, fazendo com que algumas delas soem desnecessárias e interrompam o ritmo da narrativa. Quando isso ocorre, a impressão que temos é de que estamos vendo apenas uma exibição dos talentos de Phoenix e Gaga, sem uma clara evolução na jornada de seus personagens. Ao final das mais de duas horas de duração, até o maior fã do gênero pode se sentir cansado. É difícil definir Coringa: Delírio a Dois como bom ou ruim. O filme é muito pessoal e deve variar de pessoa pra pessoa. De qualquer modo, é inegável que, mesmo com altos e baixos, Todd Phillips, entregou uma conclusão satisfatória para a história que iniciou em 2019, trazendo ao mesmo tempo temas bem interessantes e que merecem serem debatidos, mas os quais o público, talvez, não esteja disposto à discutir no momento. No final, como era de se esperar, o Coringa segue dividindo opiniões.

  • A Casa do Dragão frustra os fãs com segunda temporada morna | Crítica

    Mesmo mantendo a qualidade, segundo ano fica aquém do que foi prometido em sua divulgação (HBO/Divulgação) Após o decepcionante final de Game of Thrones , os fãs da saga de George R.R. Martin tiveram um alento com o lançamento de A Casa do Dragão , série spin-off focada na Casa Targaryen. Com uma primeira temporada exemplar, que apresentou e estabeleceu seus principais personagens, era esperado que o segundo ano da produção desse início ao conflito conhecido como “Dança dos Dragões”, a guerra civil Targaryen que devastou o reino e terminou com muito sangue derramado em ambos os lados, mas o que se viu foi uma temporada irregular, que apesar de manter a qualidade e brilhar nos momentos de ação, acabou andando em círculos com arcos que pouco evoluíram a trama. A primeira temporada chegou ao fim com os Sete Reinos divididos em dois grupos: os Pretos, que juraram fidelidade à Rhaenyra ( Emma D'Arcy ) como rainha, e os Verdes, que apoiaram a reinvindicação de Aegon II ( Tom Glynn-Carney ) ao Trono de Fero.  A partir dai era esperado que a produção da HBO mergulhasse de vez no conflito, entregando toda a grandiosidade de uma guerra entre dragões. Logo nos primeiro episódios do novo, ano a série cumpre o que promete com dois momentos marcantes que agitaram as redes sociais. O primeiro episódio, “Um filho por um filho” , adaptou o arco “Sangue e Queijo” e abriu a segunda temporada com “dois pés no peito”, entregando uma das sequências mais cruéis de toda a saga. Já o capítulo “O Dragão Vermelho e o Dourado” (o melhor da temporada) mostra o quão terrível um confronte entre as criaturas aladas pode ser. O problema é que esse ritmo não se mantém ao longo dos oito episódios. Não que isso fosse atrapalhar, afinal Game of Thrones sempre se destacou por balancear momentos de ação com diálogos impactantes, tornando os embates falados tão (ou até mais) relevantes que as batalhas físicas. A segunda temporada de A Casa do Dragão , no entanto, falha em manter esse delicado equilíbrio, fazendo dos momentos em que não estamos nas costas de um dragão, mornos e enfadonhos. Essa situação é sentida, principalmente, quando acompanhamos as jornadas de Rhaenyra e Daemon ( Matt Smith ). Após os eventos ocorridos no primeiro episódio da temporada, a relação dos dois fica conturbada e o casal acaba se separando fisicamente ao longo de vários episódios. A decisão se mostrou equivocada, pois a química entre D’Arcy e Smith foi um dos pontos mais altos da temporada passada, e colocá-los para trilharem jornadas distantes um do outro, apenas serviu para enfraquecer os dois. Não ajuda o fato de que essas jornadas não levaram a lugar nenhum. Rhaenyra, por exemplo, passa os oito episódios da temporada tentando encontrar uma solução pacifica para o conflito e assim evitar o derramar de sangue inocente. O problema é que o derramar de sangue começou no momento em que seu filho Lucerys ( Elliot Grihault ) foi morto, e segue ocorrendo ao longo da trama. Pela expressão no rosto da herdeira de Viserys ( Paddy Considine ) ao saber da morte de seu filho, na cena final do primeiro ano, era esperado que víssemos uma Rhaenyra com sede de vingança contra os Verdes. Não é o que acontece. (HBO/Divulgação) Já o arco de Daemon, talvez seja o ponto mais fraco da temporada. Toda a passagem do personagem por Harrenhal, com a missão de reunir um exército para lutar por Rhaenyra, poderia ter sido resolvida em, pelo menos, dois episódios. No entanto, a produção estica essa trama, ao longo de vários episódios e abusa da paciência dos fãs com sequências de sonhos e visões intermináveis que só trazem peso para a história quando a série apela para a nostalgia e força a lembrança de que Casa do Dragão se passa no mesmo universo de Game of Thrones . Além disso, o arco acaba sem nenhum propósito, por colocar Daemon exatamente no mesmo lugar em que estava. Apesar do caráter duvidoso, a lealdade do Rei Consorte para com sua esposa já havia sido estabelecida, portando fazer todo um arco onde essa lealdade é questionada, apenas para reforça-la no final, passou a impressão de que o showrunner Ryan J. Condal estendeu essa passagem da trama, contada por George R.R. Martin no livro “Fogo e Sangue”, apenas para estender a duração da série um pouco mais. A catarse da sequência quando eles se reencontram deixa claro como a temporada pecou ao separar os dois atores. No lado dos Verdes, a situação meio que se repete com Alicent ( Olivia Cooke ). Em lados opostos do conflito, a tensa relação entre a Rainha viúva e Rhaenyra, foi um dos destaques do primeiro ano. Porém, o óbvio distanciamento entre as duas (Rhaenyra em Dragonstone e Alicent em King’s Landing) acabou por enfraquecer a personagem de Cooke, que passa a temporada completamente perdida, apenas reagindo ao que acontece ao seu redor. Tudo bem, eu entendo que a trama de Alicent na temporada teve como objetivo mostrar o quão impotente e solitária a personagem foi ficando, a mediada que sua família vai desmoronando diante de seus olhos, mas não precisava tornar esse arco tão monótono ao ponto de termos um episódio onde Alicent sai da Fortaleza Vermelha apenas para refletir sobre a vida enquanto boia em um lago. Se o trio protagonista deixou a desejar, o 2º ano de A Casa do Dragão deu maior destaque para seus coadjuvantes. No lado dos Verdes, a relação entre os irmãos Aegon e Aemond ( Ewan Mitchell ) foi aprofundada, com o segundo assumindo de vez o papel de vilão, se tornando uma ameaça tanto para seus inimigos quanto para seus familiares. Já no lado dos Pretos, os destaques foram a princesa Rhaenys Targaryen ( Eve Best ), que esbanja imponência em todas as suas cenas, e para a perspicaz Mysarya ( Sonoya Mizuno ), uma personagem pouco aproveitada na temporada anterior, mas que agora se mostra uma exímia estrategista, sendo responsável não só por trazer o povo para o lado de Rhaenyra, mas também por suprir a carência que Daemon e Matt Smith deixaram no núcleo da rainha. Frustrante talvez seja a palavra ideal para definir essa segunda temporada. Ela não foi ruim, apenas fica a sensação de que a série não atingiu todo o potencial que a divulgação da própria HBO havia prometido. Mesmo que tenha apresentado toda a grandiosidade de uma guerra entre dragões, foi em apenas um episódio. Os outros sete, incluindo o episódio que encerrou o segundo ano, foram mornos e arrastados, e apenas montaram o tabuleiro para a guerra que ainda está por vir. É consenso entre os fãs que Game of Thrones começou a decair no momento em que começou a se distanciar dos livros e a esticar tramas somente para que a série durasse mais. Ao olhar a temporada com um todo, era possível sentir uma pontada de medo de que os produtores pudessem estar cometendo o mesmo erro novamente. Porém, a notícia divulgada, um dia após o lançamento do último capítulo, de que A Casa do Dragão terminará em sua quarta temporada traz um alento, pois indica que tal temor não será justificado. Resta agora ficar na torcida para que os problemas narrativos que aconteceram no segundo ano sejam corrigidos, e que a série retorne com a mesma força que um exército de dragões.

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