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- Skeleton Crew mostra que não é preciso grandes eventos para contar uma boa história | Crítica
Série de Star Wars encanta com aventura infanto-juvenil simples, guiada pelo carisma de seus personagens (Lucasfilm/Divulgação) Não é novidade que os fãs de Star Wars são os mais difíceis de agradar. Mesmo com sucessos em sequência, como The Mandalorian , Andor e Ahsoka , bastou uma produção mais controversa como The Acolyte para uma revolta generalizada tomar conta das redes sociais. A reação acalorada (e até um pouco exagerada) dos fãs à The Acolyte acendeu um sinal de alerta em cima do projeto que viria na sequência, afinal, se uma série que prometia mostrar grandes conspirações e mistérios e que contou com vários cavaleiros Jedi, alguns dos melhores duelos de sabres de luz da franquia e cenas pós-créditos antecipando a chegada de Darth Plagueis e do mestre Yoda não agradou, ao ponto de ser cancelada, que chance teria Star Wars: Skeleton Crew , uma série com um tom mais infantil e que acompanha um grupo de crianças perdidas pela galáxia, enfrentando piratas espaciais, sem nenhuma conexão com personagens conhecidos? Mas pelo jeito estamos na "Era das Produções Desacreditadas", pois tal qual Agatha Desde Sempre , na Marvel, ou Pinguim , na DC, Skeleton Crew surpreende como uma das melhores produções de Star Wars . A trama simples e contida, que buscou inspiração em grandes clássicos dos anos 80, mostrou ser um enorme acerto, nos lembrando daquela boa e velha magia infantil que encanta o universo de George Lucas desde sua criação. A série acompanha o grupinho de crianças formado por Wim ( Ravi Cabot-Conyers ), Fern ( Ryan Kiera Armstrong ), Neel ( Robert Timothy Smith ) e KB ( Kyriana Kratter ), vivendo suas vidas comuns de estudantes no pacato planeta At Attin . Tudo muda quando os quatro descobrem e acidentalmente ativam uma antiga nave que estava enterrada. Agora, perdidos nos confins da galáxia muito, muito distante, as crianças precisam enfrentar vários perigos como piratas, monstros gigantes e até X-Wings para encontrar o caminho de casa. Para isso, elas contam com a ajuda de um misterioso e malandro usuário da Força chamado Jod Na Nawood ( Jude Law ). Desde que Luke Skywalker deu as caras no episódio final da segunda temporada de The Mandalorian , o foco da Lucasfilm para suas séries tem sido contar histórias grandiosas (como o retorno do Almirante Thrawn), com produções conectadas ao melhor estilo Marvel, apostando nas participações especiais de personagens consagrados. Quando tentou fazer algo em menor escala com O Livro de Boba Fett , a trama não se sustentou e foi preciso que Pedro Pascal sequestrasse dois episódios da produção para evitar que a série se tornasse “esquecível”. Felizmente, Skeleton Crew veio para mostrar que na imensa galáxia de Star Wars há espaço para todo tipo de narrativa e todo tipo de personagem. (Lucasfilm/Divulgação) Criada e produzida pela dupla Jon Watts e Christopher Ford ( Homem-Aranha: De Volta ao Lar ), a série, apesar de se situar no mesmo período temporal de outras produções do chamado mandoverso , não está nenhum pouco interessada em servir de escada para a próxima produção. Longe das conexões com Skywalkers, mandalorianos, Siths, impérios e rebeliões, a série consegue trazer novos ares para o universo de Star Wars , mesmo bebendo da fonte de dezenas de filmes e séries que já vimos antes. Em Skeleton Crew , Watts e Ford deixam de lado as referências a outros filmes e séries da obra de George Lucas e fazem uso de outro tipo de nostalgia. A produção se inspira em grandes clássicos do cinema como Os Goonies (1985) e E.T. - O Extraterrestre (1982) e até em Stranger Things (2016-), numa espécie de carta de amor à década de 1980. Trazer crianças para o centro da narrativa foi com certeza uma decisão ousada, pois mesmo com o apelo infantil fazendo parte da essência de Star Wars desde sua origem em 1977, muitos fãs sempre torceram o nariz para a presença de crianças e elementos infantis na franquia, vide a recepção negativa à personagem como os Ewoks, Jar Jar Binks, o jovem Anakin Skywalker e mais recentemente a versão criança da Princesa Leia, vista na série Obi-Wan Kenobi . Isso se dá porque na maioria das vezes, produtores e executivos tendem a confundir infantil com bobo (sim Obi-Wan Kenobi , ainda não nos esquecemos da famigerada cena do casaco). Skeleton Crew , no entanto, evita essa armadilha e faz do quarteto infantil o grande destaque da produção. As quatro crianças entram facilmente no Hall dos melhores personagens de Star Wars . Maravilhados com cada canto desse universo, os astros mirins são a representação dos fãs em tela, equilibrando perfeitamente o deslumbre pela exploração de um mundo completamente novo com o medo do desconhecido. A galáxia é um lugar hostil e o principal acerto da série é não fazer de Wim, Fern, Neel e KB pequenos gênios que conseguem resolver todos os problemas facilmente. Eles erram, eles se atrapalham, eles brigam e aprendem como qualquer criança, tornando muito mais fácil nos conectarmos com cada uma delas. A série deixa claro que quatro crianças perdidas no espaço com certeza não sobreviveriam, pelo menos não sem ajuda. Ao longo dos episódios, as quatro se encontram com os mais diversos habitantes da galáxia muito, muito distante que as ajuda na jornada de volta para casa. Entre esses habitantes está o misterioso usuário da Força vivido por Jude Law. (Lucasfilm/Divulgação) Jod Na Nawood é o clássico cafajeste espertalhão que sempre está metido em encrenca, mas sempre arruma um jeitinho de escapar. Jod é quase uma mistura de Han Solo com Lando Calrissian , imprimindo uma dualidade moral que deixa difícil definir se devemos amar ou odiar o personagem. A química de Law com o quarteto mirim é excelente, com o personagem alternando entre ser uma espécie de mentor para as crianças e um antagonista que precisamos ficar de olho a todo o momento. Essa dificuldade em definir Jod como sendo um herói ou um vilão faz do personagem uma das mais interessantes adições às produções recentes de Star Wars . Ao final da série lamentamos o fato de apenas termos ouvido falar sobre seu passado, mas podemos nos alegrar, pois caso uma segunda temporada venha ser confirmada, com certeza veremos um flashback de Jod. Star Wars: Skeleton Crew mostra que não é preciso grandes eventos para contar uma boa história. Uma aventurinha rápida e divertida, cujo único objetivo é nos fazer voltar a ser criança às vezes é tudo que precisamos e o que pode remeter mais à infância dos fãs do que a imagem de um criança brincando em seu quarto com bonequinhos de Jedi, ou desafiando seu amigo para um duelo de sabres de luz invisíveis. A audiência da série pode ter sido baixa, mas a recepção positiva da crítica e principalmente do público pode fazer a diferença para que o anúncio de uma segunda temporada seja realizado. Resta aguardar e torcer para acompanharmos as novas aventuras dessa carismática e divertida turminha.
- Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania busca a grandiosidade, mas falha ao apostar na segurança | Crítica
Filme da Marvel acerta com novo vilão, mas frustra pela falta de consequências. Desde que foi apresentado para o público em 2015, as aventuras do Homem-Formiga ( Paul Rudd ) nunca foram vistas com entusiasmo pelos fãs da Marvel. Seja porque seus dois primeiros filmes foram lançados logo após um filme dos Vingadores ou por apresentarem tramas mais intimistas e ameaças menos apocalípticas. Ao ser escolhido para dar inicio a Fase 5 do Universo Marvel, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania tinha como objetivo mudar esse cenário apostando em uma história muito mais grandiosa e complexa, mas o medo de que o público estranhasse a mudança de tom na trilogia mantem o filme numa zona de conforto que acaba prejudicando os próprios personagens. Na trama, vemos Scott Lang colhendo os frutos de ter salvado o mundo em Vingadores Ultimato (2019) . Scott agora é uma celebridade reconhecida por todos, escreve livros sobre suas aventuras e parece ter encontrado equilíbrio em sua vida ao lado de sua parceira Hope Van Dyne (Evangeline Lilly) e da filha Cassie (Kathryn Newton) , agora adolescente. A aventura tem início, quando toda a família, incluindo os veteranos Hank Pym (Michael Douglas) e Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) são sugados para dentro do Reino Quântico . Ao optar por explorar este novo universo, o diretor Peyton Reed e o roteirista Jeff Loveness buscaram atingir o grau de grandiosidade que faltava a franquia. Com um cenário deslumbrante e criaturas carismáticas o Reino Quântico entra para o panteão dos mundos fantásticos da Marvel junto da Asgard de Thor, do Espaço de Guardiões da galáxia e da Wakanda de Pantera Negra. No entanto, o cenário feito inteiramente por CGI, pode parecer cansativo para aqueles que preferem ver algo com um pé na realidade. Com inspirações que vão de Star Wars a Perdidos no Espaço, o filme dá a seus personagens uma simples missão: explorar as maravilhas e perigos que este local tem a oferecer a fim de encontrar uma maneira de voltar para casa. É aqui, no entanto que Quantumania começa a apresentar seus problemas e dar evidencia de que pode ter havido alterações na história desde que o primeiro trailer foi divulgado em 24 de outubro de 2022. Como visto nos trailers, os membros da família são divididos em dois grupos ao chegar ao Reino Quântico. A decisão de isolar Scott e Cassie dos demais parecia acertada, dando tempo para que a relação entre pai e filha fosse explorada ao máximo, afinal Scott perdeu cinco anos da vida de Cassie devido aos eventos de Vingadores Guerra infinita (2018) . Uma situação complexa que poderia aprofundar os dois personagens com uma história abordando a culpa que o Homem-Formiga carrega por não ter podido ver sua filha crescer, resultando numa jornada onde os dois teriam que superar tanto seus traumas quanto suas diferenças. O filme, porém, apenas arranha essa superfície com um dialogo que indica que Cassie possui certo ressentimento em relação à ausência de seu pai, mas um pedido de desculpa depois o assunto já está resolvido, e não se fala mais nisso. Apostando apenas no amor paternal para se conectar com o público, o resultado, apesar de atingido de forma satisfatória, graças ao carisma de Scott Lang, não deixa de ser frustrante diante do que havia sido prometido, uma vez que ambos os personagens acabam completamente esvaziadas numa trama clichê que não evolui em nada o que já sabíamos sobre eles. Tanto Scott quanto Cassie terminam o filme exatamente como começaram. Se essa mudança de direcionamento da trama acaba afetando o desenvolvimento do personagem de Paul Rudd, o resultado é pior para a estreante Kathryn Newton. Sua Cassie Lang é reduzida apenas a uma adolescente descolada, com motivações rasas, capaz de conquistar a confiança de todos ao seu redor apenas por ser legal. Diferente de outras personagens já apresentadas pela Marvel, como Kate Bishop (Hailee Steinfeld) em Gavião Arqueiro e Kamala Khan (Iman Vellani) em Ms. Marvel, tudo na concepção de Cassie pode ser respondido com “porque sim”. Ela é inteligente porque sim, ela é legal porque sim, ela se importa com outros porque sim, ela tem um super traje porque sim, e se torna uma heroína porque sim. No outro grupo o resultado não é diferente. Separada de seu parceiro, a Vespa se torna somente uma ferramenta para resolver todos os problemas que se apresentam ao longo da jornada. Já Hank Pym parece estar lá só por estar. Nenhum dos dois tem um grande desenvolvimento, apenas reagindo ao que acontece ao seu redor. A exceção aqui está na personagem de Michelle Pfeiffer. Se aprofundando no passado da personagem e nos anos que passou presa no Reino Quântico até ser resgatada no final do segundo filme, a história coloca Janet como uma espécie de guia através deste ambiente desconhecido, apresentado aos personagens e ao publico toda a cultura, tecnologia e criaturas deste lugar, bem como seu morador mais ilustre: Kang, o Conquistador . É aqui que Quantumania atinge seu ponto mais alto. Prometido como “o novo Thanos”, o vilão surge como uma figura imponente e ameaçadora, digna do “nível Vingadores”. De volta ao MCU após fazer sua estreia em Loki (2021), Jonathan Majors brilha com uma atuação que combina charme com ameaça para dar à Kang uma identidade própria, que foge completamente das comparações com o “Titã Louco” interpretado por Josh Brolin. Se for para comparar com algum outro vilão da cultura pop, Kang se assemelha muito mais a Darth Vader e assim como o antagonista de Star Wars, Kang se apresenta como alguém calmo e indiferente, mas que pode ser muito perigoso quando libera sua fúria. Se utilizando de muitos flashbacks, o filme explica as origens do vilão e seus objetivos, detalhando de maneira bem expositiva todo o perigo que ele representará para o futuro do Multiverso . Porém, nem uma ameaça capaz de extinguir linhas temporais inteiras consegue tirar Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania da zona de conforto. Como dito acima, enquanto os trailers apontavam para uma história mais séria e com consequências drásticas para a franquia, o filme acabou optando por jogar no seguro numa trama mais “família” cujos obstáculos que se apresentam aos heróis são resolvidos quase instantaneamente e a seriedade é substituída pelas velhas piadas de sempre que horas são boas, horas são ruins, mas que muitas vezes tiram o peso do que está sendo visto na tela. A maior vitima desta mudança no roteiro é um velho rosto (desculpa pelo trocadilho) do MCU. Após ser dado como morto no filme de 2015, quando interpretou o vilão “Jaqueta Amarela”, Corey Stoll volta a viver o personagem, mas dessa vez com um novo codinome: MODOK . Quem acompanha os quadrinhos já devia imaginar que tornar uma figura tão bizarra quanto MODOK (uma enorme cabeça com braços e pernas), crível no cinema não seria uma tarefa fácil. E o resultado é DESASTROSO ! Com um CGI que destoa do resto do filme, a cabeça aumentada de Corey Stoll causa risos sempre que o personagem entra em cena. É impossível olhar para MODOK e não compará-lo com o Sr. Elétrico , vilão do filme As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl (2005) , um filme do inicio da moda do 3D nos cinemas, que de tão ruim consegue conquistar o público. Mas diferente de um filme que não se leva a sério desde o princípio, Quantumania vende MODOK como o grande caçador do império de Kang. O problema é que essa ameaça não é vista em nenhum momento, pelo contrário, conscientes do ridículo, fica a impressão que nem os próprios atores levam a sério o personagem. Apesar disso, MODOK entrega, pelo menos, uma grande cena de ação (um duelo contra Cassie Lang), mostrando que sim, existe potencial, mas a falta de confiança no personagem o prende em um texto que apenas o reduz a um lacaio bobão do vilão principal, e da para sua melhor cena um desfecho vergonhoso, onde ambos, Cassie e MODOK, protagonizam um dos piores diálogos da história do MCU. No final, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania não consegue dar a guinada que a franquia pretendia. Mesmo com um cenário grandioso e a apresentação do vilão que dá nome a futura quinta aventura dos Vingadores, a sensação que se tem ao deixar a sala de cinema é de que o filme é mais do mesmo. A falta de consequências para a história enfraquece cada um dos personagens, principalmente os estreantes. Até mesmo Kang sai um pouco chamuscado. As mudanças feitas no roteiro (cada vez mais perceptíveis à medida que o final se aproximava) para tornar o filme mais próximo do tom dos anteriores apenas frustram os fãs que esperavam algo mais impactante vindo do filme que, após uma Fase 4 complicada e repleta de críticas (um pouco exageradas em minha opinião), daria início a nova fase da Saga do Multiverso . Após duas cenas pós-créditos muito importantes, que conseguem levantar novamente o hype do fã, só nos resta esperar e confiar que dias melhores virão.
- Creed III: Rocky faz falta? | Crítica
Em seu terceiro round, Creed estabelece seu legado, mas a sombra de Balboa ainda paira sobre o ringue. Iniciada em 1976 com o filme Rocky: Um Lutador , a história de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) um pugilista ítalo-americano fracassado, que trabalha como cobrador de dívidas de um agiota, mas que recebe uma chance de enfrentar o campeão mundial de pesos pesados vem conquistando o público há gerações. Com um orçamento de pouco mais de US$1 milhão, e ganho de US$225 milhões em bilheteria global, o filme lançou o nome de Stallone ao estrelato, e o sucesso de público rendeu à franquia mais quatro filmes até 1990. Apostando menos no drama e mais ns veia pop do personagem, a qualidade dos filmes foi caindo gradativamente (o que não quer dizer que Rocky IV não seja um clássico digno da reverencia dos fãs). Mas após um quinto capitulo muito criticado, inclusive por seus fãs, a franquia entrou em hiato até ser resgatada em 2006 com Rocky Balboa , filme que volta às origens do personagem, mostrando um Rocky mais velho e calejado pela vida. O filme encerra de forma digna a carreira de Rocky nos ringues, um alívio para os fãs que estavam ávidos por uma conclusão mais respeitosa para a saga de seu herói. Nove anos depois a franquia encontrou novo gás com Creed: Nascido para Lutar (2015) . O filme que conta a história de Adonis Creed (Michael B. Jordan) , filho do antigo campeão, rival e amigo de Rocky, Apollo Creed (Carl Weathers) , que quer entrar para o mundo do boxe e para isso busca pela ajuda do “Garanhão Italiano” em pessoa, foi um sucesso de público e crítica. Stallone e Michael formaram a dupla ideal, ambos brilham na pele de seus personagens, com atuações emocionantes. O filme ainda rendeu a Stallone uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante no ano de 2016. Sua segunda indicação desde o Oscar de Melhor Ator em 1977, exatamente por Rocky. O sucesso garantiu uma continuação em 2018. Creed II aprofunda o laço entre os personagens, amarra todas as pontas da história de Rocky, permitindo que o ex-lutador finalmente possa descansar, e mostra toda a força do personagem de Jordan, permitindo que Adonis possa finalmente voar solo. Eis que temos Creed III (2023) . O terceiro filme da saga de Adonis chega com algumas duvidas a sanar. Afinal, ainda há histórias para serem contadas depois de nove filmes (somando toda a antologia Rocky)? Creed tem força para segurar o filme sem a presença de Balboa? Estreando na direção, Michael B. Jordan responde que sim! Na trama, encontramos Adonis curtindo a aposentadoria ao lado da esposa Bianca (Tessa Thompson) e da filha Amara (Mila Davis-Kent) . Promovendo as lutas ao invés de trava-las, as batalhas de Adonis agora são um pouco mais mundanas, como ensinar a filha, fascinada pelo mundo do boxe, que nem tudo pode ser resolvido com um soco. A dinâmica familiar é com certeza o coração do filme, Michael e Tessa estão em perfeita sincronia, entregando momentos divertidos e tocantes, mas é a pequena Mila que rouba a cena com sua doçura e inocência, cativando o público desde o primeiro minuto em tela. A relação dos três é perfeitamente natural, passando a sensação de que são de fato uma família. Ver Adonis fingindo perder uma luta para Amara e a pequena desfilando com o cinturão pelo ringue é um dos momentos mais preciosos do filme. Mas tudo muda com a chegada de Damian Anderson (Jonathan Majors) , um amigo de infância de Adonis que esteve preso por muitos anos e retorna agora com apenas um desejo: se tornar o Campeão Mundial dos Pesos Pesados. Sentido que deve algo ao velho amigo, Adonis se compromete a ajudar, mas não demora muito para perceber que Damian não medirá esforços para conseguir o quer. Majors novamente entrega uma atuação de primeira, comprovando todo seu talento e versatilidade, dando a Damian uma profundidade até então nunca vista nos antagonistas da saga. Desde o momento em que são reveladas as motivações de Damian, já se sabe que o filme caminha para o momento em que Adonis larga a aposentadoria para subir no ringue e enfrentar não só o amigo, mas também seu passado. Mas apesar do roteiro previsível, Jordan não deixa seu filme cair na mesmice. Além de focar nas relações entre os personagens, o novo diretor tem nas sequencias de luta seu grande trunfo para tornar o filme uma experiência emocionante e inesquecível para toda uma nova geração. Não é segredo pra ninguém o quanto Michael B. Jordan é fã de animes, e o ator usa as animações japonesas como inspiração para dirigir suas lutas, dando um ar de novidade a franquia. As referencias estão por todo lugar, desde o calção vermelho usado por Adonis que remete a roupa do personagem Shotaro Kaneda em Akira (1988) , até golpes que parecem ter saído direto do anime Dragon Ball Z . Quem não se lembra dos famosos socos de Goku, que de tão poderosos, afundavam o estomago dos oponentes até quase sair pelas costas, como se eles fossem feitos de borracha? Não, o filme não tem nada tão exagerado, mas Jordan homenageia o estilo de Akira Toriyama ao focar na curvatura das costas dos personagens no momento do golpe. As longas encaradas entre os oponentes, a câmera que se move de baixo para cima, valorizando os corpos musculosos dos dois guerreiros, são outros elementos da franquia que inspiram a composição do filme. Creed III é um filme excelente, e compre seu propósito. Mantem a franquia viva e estabelece o legado de Adonis Creed como um personagem forte e icônico para toda uma nova geração. No entanto, por mais que o filme funcione sem Sylvester Stallone, a falta de Rocky é sentida em alguns momentos. É difícil não imaginar que Creed buscaria os concelhos de Balboa sobre toda a situação com Damian, assim como é estranha à ausência do antigo mentor em momentos chave da história, principalmente quando Adonis sobe no ringue. Falta a presença de Balboa no corner de Adonis, falta sua vivencia, sua sabedoria, àquela química entre os dois que era tão incrível nos filmes anteriores. A disputa pelos direitos de Rocky entre Stallone e Irwin Winkler , produtor de longa data da franquia, seria o maior motivo para a ausência do astro no filme. Stallone, ingenuamente, vendeu os direitos da franquia Rocky a Winkler, quando ainda era um ator iniciante. A disputa piorou após o anuncio de um spin-off focado no vilão Ivan Drago (Dolph Lundgren) , pois Stallone alega que não foi consultado sobre a utilização do personagem que ele criou para Rocky IV (1985) . Como um fã, espero que essa disputa possa ser resolvida para que possamos ver Adonis e Rocky reunidos novamente. E que venha Creed IV!
- The Last of Us decreta o fim da “maldição das adaptações de videogame” | Crítica
A nova produção da HBO, baseada no game de sucesso, entrega tudo que prometeu e muito mais. Quando a HBO anunciou que faria uma série baseada no game The Last Of Us (2013) muitos fãs ficaram preocupados, afinal o histórico das adaptações de videogame para TV ou cinema nunca foi positivo. Apesar de alguns filmes e séries como, Sonic (2020) e Arcane: League of Legends (2021) conseguirem se destacar, virando sucesso de público e critica, a maioria das produções do gênero não só fracassavam em agradar os fãs dos jogos como também em conquistar um novo público. A série vinha então com a promessa de quebrar de vez a “maldição das adaptações de videogames” . Comandada por, Neil Druckmann , diretor criativo do jogo e por Craig Mazin , da premiadíssima série Chernobyl (2019) , a produção conta a história de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bela Ramsey) de maneira primorosa, não só reproduzindo com extrema fidelidade as principais cenas e diálogos do jogo, mas também expandindo a história dos protagonistas e de todos que os cercam. Durante nove episódios a série cobre todos os eventos do primeiro jogo. Neil e Craig formaram a dupla ideal e escreveram um roteiro exemplar que mescla perfeitamente momentos de narrativa com momentos de gameplay, como Joel e Ellie revistando gavetas atrás de suprimentos, ou com o personagem de Pedro Pascal erguendo a companheira até um lugar alto para que esta lhe desça uma escada. No entanto, momentos com muito gameplay foram cortados, como os confrontos com os infectados. No jogo, a quantidade de inimigos precisa ser alta e constante para que o jogador tenha o que fazer e não fique apenas assistindo. Na série, onde o espectador não tem o controle na mão, ficar assistindo os personagens passarem por situações de quase morte a cada cinco minutos, para depois nada ocorrer, poderia se tornar cansativo e tirar todo o peso da ameaça, afinal porque temer algo que você mata a todo instante? Por esse motivo,tivemos poucos momentos em que os monstros realmente são o foco, tendo inclusive episódios inteiros sem a aparição deles. Mas quando aparecem, causam impacto! Misturando maquiagem, efeitos práticos e CGI para a criação de todos os infectados pelo Cordyceps , temos como resultado monstros realmente assustadores que parecem ter saído diretamente do jogo, com destaque para os temidos Estaladores e para o poderosos Baiacu. Claro que é impossível não ficar com um gostinho de “quero mais”, mas ao escolher mostrar os infectados apenas quando eles realmente impactam na narrativa, como no desfecho do arco de Henry e Sam no quinto episódio, a série eleva o grau de periculosidade das criaturas. Desde o primeiro minuto fica claro que a HBO não poupou esforções para fazer de The Last of Us um exemplo de adaptação. A fotografia, montagem e sonorização andam em perfeita sincronia para transmitir ao espectador ora sensibilidade, como no flashback de Ellie no episódio sete, ora tensão, como o encontro com os Estaladores no segundo episódio. O elenco é outro acerto da produção. Pedro Pascal brilha como Joel, dando ao personagem novas camadas, principalmente nos momentos de maior dramaticidade. Mas quem rouba a cena mesmo é Bella Ramsey que incorporou toda a personalidade de Ellie de forma sublime. De sua inocência a sua selvageria, de seu lado cômico ao dramático, a forma como olha, a forma como sorri, até a forma como fala, fazem de Bella mais Ellie do que a própria Ellie (sem desmerecer Ashley Johnson obviamente). Com certeza a atriz surge como uma das principais candidatas na próxima temporada de premiações. Por falar em Ashley Johnson, vale destacar as homenagens que a série faz aos atores que deram vida a seus personagens no jogo. Merle Dandridge , que da vida a personagem Marlene, repete o mesmo papel na série. Já os atores Troy Baker e Jeffrey Pierce , Joel e seu irmão Tommy respectivamente, fazem uma ponta como membros dos dois grupos de inimigos a cruzar o caminho dos protagonistas. Quanto a Ashley Johnson, nossa querida Ellie, a série homenageia a atriz da maneira mais bonita possível, dando a ela o papel de Anna, mãe de Ellie. A aparição da atriz é curta, mas importante, revelando pela primeira vez o porquê de Ellie ser imune ao fungo Cordyceps. No elenco secundário, meus destaques vão para Nico Parker como Sarah, filha de Joel, com uma atuação que, apesar de curta, conquista o público desde o primeiro minuto, Scott Shepherd no papel do odioso vilão David, e Nick Offerman e Murray Bartlett como Bill e Frank respectivamente, contando uma história de amor que encanta e comove o espectador. A história de Bill e Frank, provavelmente é o momento mais polêmico da série, pois aqui o diretor Neil Druckmann optou por alterar os acontecimentos do jogo para dar mais destaque ao relacionamento dos personagens e expandir uma história que, no videogame, é apenas mencionada. Com certeza é o episódio com mais diferença entre jogo e série, mas o resultado é uma aula de construção de personagens que, a principio, pode soar como uma espécie de “filler”, mas tem impacto direto no desenvolvimento de Joel e em sua grande decisão no episódio final. A importância do episódio vai além das telas por tratar de forma tão sensível o relacionamento entre dois homens. Não é segredo que os desenvolvedores do jogo sempre presaram pela diversidade e além de Bill e Frank, tanto o jogo de 2013 quanto sua sequencia, The Last of Us part II (2020) , possuem um grande número de personagens LGBTQIA+. Como a própria Ellie, cujo passado é explorado com imensa sensibilidade e sutileza, em uma história que fala sobre a descoberta da sexualidade. The Last of Us encerra a “maldição das adaptações de videogames” de forma triunfal, e mostra que para fazer uma adaptação live-action consistente de um game, basta respeitar sua essência, que é o que torna a franquia tão amada pelos fãs. A série consegue não só agradar seus fãs de longa data, mas também conquista pessoas que nunca ouviram falar na obra e com uma segunda temporada já confirmada, as expectativas não poderiam ser melhores. É gratificante ver que após 10 anos, The Last of Us continua tão impactante quanto foi em seu lançamento em 2013.
- Super Mario Bros: O Filme é um deleite para os fãs | Crítica
Filme baseado no personagem da Nintendo diverte com uma trama simples feita com muito coração. Lançado em 1993, o filme Super Mario Bros , baseado jogo de sucesso da Nintendo , foi a primeira tentativa de adaptar um videogame para o cinema. Apesar da aposta forte do estúdio, essa versão em live action do encanador italiano, foi um completo desastre. O filme pouco tinha a ver com o jogo, optando por uma atmosfera mais realista, sombria e apocalíptica, diferente do colorido e humorado game. A produção deu início a famosa “maldição das adaptações de videogames” , e desde então o personagem foi deixado de lado por Hollywood. Hoje, 30 anos depois, muita coisa mudou. As recentes produções baseadas em videogame botaram fim na maldição e o cenário se mostrava favorável para um retorno de Mario aos cinemas. Super Mario Bros: O Filme acerta ao capturar a essência do videogame. A animação da Nintendo em parceria com a Illumination , estúdio de animação responsável pela franquia de sucesso Meu Malvado Favorito , joga no seguro com uma história que coloca o protagonista para trilhar a famosa “Jornada do Herói” , mas a atenção aos detalhes e o cuidado colocado em cada elemento do filme aquece o coração dos fãs. A história começa quando os irmãos Mario (Chris Pratt) e Luigi (Charlie Day) , uma dupla de encanadores do bairro do Brooklyn, são sugados por um cano verde, durante um serviço, e levados para um universo mágico ameaçado pelo poderoso Bowser (Jack Black) , que conseguiu um artefato capaz de lhe permitir conquistar o mundo. Assim, os dois irmãos unem forças com a Princesa Peach (Anya Taylor-Joy) para derrotar o vilão e voltar para casa. A decisão da Nintendo de fazer o filme como uma animação e não um novo live action , se mostrou acertada, pois permitiu que toda a estética fantástica e já consagrada dos jogos fosse transportada para a tela grande de forma belíssima. Aprimorando as técnicas já demonstradas em projetos passados, a equipe de animação da Illumination conseguiu dar realismo ao filme, sem perder a estética cartunesca que torna a franquia tão querida para seus fãs. O resultado torna palpável cada um dos cenários e criaturas apresentadas, do Reino Cogumelo com seus adoráveis habitantes, passando pelo reino de Donkey Kong (Seth Rogen) , até a fortaleza voadora de Bowser com os famosos Koopas. O roteiro de Matthew Fogel ( Minions 2: A Origem de Gru ) se move de forma ágil, e sua estrutura, lembrando as fases do game, consegue transmitir para o espectador a sensação de se estar jogando o jogo. Uma das diversões do filme é descobrir junto de Mario como funciona cada um dos elementos do mundo e vê-lo tentar e falhar até conseguir superar um obstáculo, exatamente como se controlássemos cada um de seus movimentos. O filme empolga justamente ao costurar sua narrativa com elementos que fazem parte dos 40 anos de história de Mario, como a roupa de guaxinim que permite o personagem voar, ou o fato de Luigi acabar caindo em uma mansão mal-assombrada. Mas o momento mais empolgante com certeza é a sequência dos Karts. Os diretores Aaron Horvath e Michael Jelenic ( Jovens Titãs em Ação ) aproveitam a animação estonteante para criar uma corrida pela Rainbow Road eletrizante, como se fosse um “ Mad Max para crianças ”. Quanto aos personagens, apesar de possuírem pouca profundidade, o filme sabe fazer uso da personalidade de cada um e da dinâmica entre eles, com destaque para a relação de Mario com Donkey Kong, para torna-los carismáticos. Vale destacar aqui a princesa Peach, que deixa de ser apenas a donzela em perigo para ganhar mais importância na trama, se tornando uma personagem forte e destemida, que serve como uma guia para Mario durante o desbravamento deste mundo deslumbrante, e Bowser cujo motivo por trás de seus planos de dominação é tão inusitado que o vilão acaba por cair nas graças do público, mas claro, sem perder sua maldade. O elenco do filme é formado por nomes de peso como Chris Pratt (Guardiões da Galáxia) , Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha) e Jack Black (Kung fu Panda) , mas é preciso destacar o excelente trabalho da equipe de dublagem brasileira. Composta por Raphael Rossatto , Manolo Rey , Carina Eiras , Márcio Dondi entre muitos outros, a versão nacional do filme consegue ser até melhor que a versão original. Um trabalho que é reconhecido até mesmo fora do país. Uma história simples, mas feita com muito coração. Durante sua uma hora e meia repleta de ação e comédia, Super Mario Bros: O Filme mantém a recente escrita das adaptações de videogames focando em emular a sensação de estar jogando e não em reproduzir o gameplay em si. Mesmo sendo uma produção voltada para o público infantil, o filme conquista os adultos com uma representação genuína de tudo aquilo que tornou a franquia tão querida para gerações que cresceram com as aventuras do encanador de luvas brancas que interage com cogumelos falantes e enfrenta soldados-tartaruga. Cumprindo seu propósito, o de divertir, Super Mario Bros deixa a porta aberta para uma continuação, e, com todo o sucesso do filme, quem sabe a porta não está aberta para que mais filmes baseados nas produções da Nintendo sejam realizados com a mesma paixão. Talvez um Zelda ?
- The Mandalorian: 3ª temporada expande o universo e prepara o caminho para o grande final no cinema | Crítica
Apesar de irregular, o terceiro ano da série acerta ao focar no povo mandaloriano. Quando a segunda temporada de The Mandalorian chegou ao fim, a grande pergunta que ficou era para onde a história iria. A jornada do caçador de recompensas mandaloriano, Din Djarin (Pedro Pascal) , e de Grogu , pequeno alienígena nomeado carinhosamente pelos fãs como “baby Yoda” havia chegado a uma conclusão épica e satisfatória, com direito a participação especial de Luke Skywalker (Mark Hamill) no ultimo episódio. Para o terceiro ano, os diretores John Favreau e Dave Filoni , resolveram ousar e focar não apenas em Din Djarin, mas em todo o povo mandaloriano. A decisão, acertada em minha opinião, expande o universo da série, aprofundando a história e cultura mandaloriana para além dos olhos de apenas um membro da doutrina. Personagens antes tidos apenas como secundários, passaram a ter muito mais importância, principalmente Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff) . A antiga líder de Mandalore, que já havia sido apresentada nas animações Star Wars: The Clone Wars (2008 - 2020) e Star Wars: Rebels (2014 - 2018) , e que fez sua estreia em live action na segunda temporada da série, assumiu aqui uma posição de protagonista. Seu desejo de reunir todos os mandalorianos, espalhado pela galáxia, para reconquistar seu planeta natal, destruído pelo Império, é o que move toda a narrativa da temporada durante seus oito episódios. O roteiro desenvolve intimamente a relação entre Din Djarin e Bo-Katan, mostrando como a liderança e o carisma da princesa mandaloriana vão conquistando o caçador de recompensas até o ponto em que ele passa a ter o mesmo desejo de sua companheira. Ao mesmo tempo é justamente a dedicação que “Mando” tem pela doutrina que move Bo-Katan em direção a seu sonho de uma Mandalore forte, e acima de tudo unida. Vale destacar as atuações de Pedro Pascal, Katee Sackhoff e dos demais dublês e lutadores que mesmo por baixo das armaduras, conseguem passar emoções e dar para seus personagens personalidades próprias. Seguindo a linha da “Aventura da Semana”, conceito já adotado nas temporadas anteriores e nas animações, o grupo de diretores, que incluem Carl Weathers , Bryce Dallas Howard e Rick Famuyiga , sabem entregar exatamente aquilo que os fãs de Star Wars querem ver, fazendo a série passar longe da monotonia mesmo em momentos menos explosivos. Os cineastas utilizam essas histórias episódicas para trazer uma diversidade de gêneros à franquia, destacando-se o episódio 5 “O Pirata”, um episódio marcante, repleto de ação, onde Greef Karga (Carl Weathers), magistrado do planeta Nevarro e amigo de Din Djarin, pede ajuda ao mandaloriano para lidar com violentos ataques piratas ao planeta; o episódio 6 “Armas de Aluguel”, que conta com as participações especiais de astros como Jack Black (Super Mario Bros: O Filme) e Christopher Lloyd (De Volta para o Futuro) e coloca Din Djarin e Bo-Katan como uma espécie de dupla policial, investigando uma série de casos de mau funcionamento de Droids, numa trama que envolve todos os clichês do gênero; e principalmente o episódio 3 “O Convertido”, que sai do núcleo mandaloriano, para acompanhar a rotina do Dr. Pershing (Omid Abtahi) , um cientista especializado em clonagem, dentro do Programa de Anistia dado pela Nova República a soldados e cientistas que antes serviram ao Império. Um tema extremamente complexo e que faz alusão a acontecimentos reais, quando cientistas alemães que serviram o partido Nazista durante a 2º Guerra, foram acolhidos pelos Estados Unidos. Entre todos os temas abordados na temporada, o que mais se destaca é a questão sobre pertencimento. Praticamente todos os personagens estão buscando se sentir como parte de algo. Din Djarin, após ser excomungado de seu clã, uma vez que quebrou as regras da doutrina ao retirar seu capacete em público no final da segunda temporada, inicia o novo ano procurando uma maneira para restaurar sua honra e poder voltar a ser um Mandaloriano. Já Bo-Katan aparece desolada após seus súditos a abandonarem devido sua falha em recuperar o Sabre Negro e desesperada por pertencer a algum lugar, a princesa de Mandalore acaba cedendo e entrando para o clã de “Mando”, mesmo sem acreditar na tradição de nunca retirar o capacete. Dr. Pershing, por sua vez, procura seu lugar dentro do novo governo, mesmo que no seu intimo, sinta falta de algo tão simples, como um biscoito que comia nos tempo do Império. Até mesmo os Droids apresentados no sexto episódio estão preocupados com seu lugar na sociedade, uma vez que temem o momento em que os humanos não precisem mais deles. Tanto conteúdo, no entanto, resulta numa pressa desnecessária em amarrar todas as tramas apresentadas até aqui, o que diminui o impacto de todos os conflitos do terceiro ano. Soluções convenientes, como a forma que o Sabre Negro deixa de pertencer a Din Djarin e retorna, enfim, para as mãos de Bo-Katan podem até passar, mas a ameaça do vilão Moff Gideon (Giancarlo Esposito) acaba prejudicada. A sombra do vilão paira sobre a galáxia a temporada inteira, mas seu retorno apenas nos episódios finais, apesar da aura imponente de Esposito, resulta numa conclusão sem peso. Gideon surge apenas como um obstáculo na retomada de Mandalore e revela seus planos de dominação de forma bem didática, apenas para vê-los destruídos quase imediatamente. Apesar disso, o vilão protagoniza uma das melhores cenas da temporada ao lado do Conselho das Sombras , um grupo de remanescentes do Império que tentam cada um a sua maneira, reviver o antigo governo. Seja através dos Mandalorianos como Gideon, do Projeto Necromante (retorno do Imperador), ou apostando chegada de uma nova Era sob a liderança do Grande Almirante Thrawn , algo que veremos em Ahsoka . Precisamos também falar do elefante na sala, ou melhor, do Jedi na sala. Quando Grogu vai embora com Luke, no final da segunda temporada, sua jornada se conclui perfeitamente. Contudo, o potencial comercial do personagem praticamente obrigou John Favreau e Dave Filoni a encontrarem uma forma de trazê-lo de volta. Assim, a dupla utilizou dois episódios de O Livro de Boba Fett para justificar sua volta para o lado de “Mando”. Por um lado a decisão foi acertada, pois Din Djarin e Grogu formaram uma dupla tão marcante que é difícil imaginar os dois juntos, mas por outro, todo o peso emocional do final da segunda temporada acabou se esvaindo e o ficou claro que o personagem não fazia parte dos planos iniciais para essa temporada. Quase sem função no novo ano, Grogu apenas segue Din Djarin aonde quer que o mandaloriano vá, aparecendo apenas para protagonizar algum momento de fofura ou como uma das soluções convenientes do roteiro para os problemas enfrentados pelo mandaloriano. No entanto, o personagem rende alguns momentos bastante épicos e importantes para a saga. O principal deles com certeza é a revelação de como o pequeno sobreviveu ao ataque clone ao templo Jedi durante a Ordem 66 . Um momento importante dentro e fora das telas por contar com a participação do ator Ahmed Best , que interpretou o personagem Jar Jar Binks nos Episódios I, II e III. Seu personagem foi tão desaprovado que Best considerou cometer suicídio. Mas agora o ator retorna ao universo de Star Wars para uma merecida redenção na pele do mestre Jedi Kelleran Beq . O saldo final da 3ª temporada de The Mandalorian com certeza é um misto de sentimentos. Seus altos e baixos deixam o terceiro ano abaixo dos anteriores (talvez seja bem complicado superar um Luke Skywalker), mas assim como “O retorno de Jedi” está abaixo de “O Império Contra-ataca”, ambas as produções se encerram de forma épica e satisfatória, encontrando defensores mesmo em seus momentos mais divisivos. Apesar de um episódio final muito corrido e com muitas soluções simples, as cenas de ação são memoráveis, tornando a batalha entre o exercito mandaloriano e os novos Dark Troopers , ou melhor, dizendo “ Mando Troopers ”, um dos momentos mais marcantes de toda a saga. Recentemente a Lucasfilm reestruturou todo o seu calendário de lançamentos. Filmes foram cancelados e outros foram anunciados. Entre eles está o filme que será dirigido por Dave Filoni e que promete encerrar a saga de Din Djarin e Grogu no cinema. Por este motivo, a terceira temporada parece ter ficado responsável por amarrar todas as pontas soltas antes que seus criadores possam se dedicar aos outros títulos da franquia. Porém, diferente de que aconteceu em O Livro de Boba Fett ou na Trilogia Sequência, os showrunners parecem saber exatamente para onde querem levar a história. Mesmo que feito de forma apressada, o caminho está pavimentado para que Ahsoka (prevista para ser lançada em agosto desse ano) assuma o posto de carro-chefe da franquia e leve todos esses personagens para uma grandiosa conclusão na tela grande, numa espécie de “Vingadores Ultimato” do “ Mandoverso ”.
- Dungeons & Dragons surpreende com aventura cativante e honesta | Crítica
Nova adaptação do clássico dos RPGs mergulha na fantasia com história criativa e carismática Adaptar um jogo de videogame para o cinema sempre foi um desafio. A maior dificuldade para os estúdios era encontrar o ponto de equilíbrio entre reproduzir a mesma emoção de se estar jogando ao mesmo tempo em que você retira do público o controle sobre os personagens. Se a tarefa já é difícil com um jogo que já contenha uma narrativa e personagens pré-estabelecidos, a dificuldade dobra quando se trata de adaptar um jogo de RPG (role-playing game) , cuja essência está exatamente em dar todo o controle da jornada, construção do mundo, história e personagens, nas mãos dos jogadores. No inicio dos anos 2000, Dungeons & Dragons - A Aventura Começa Agora , foi uma tentativa desastrosa de trazer o famoso RPG para os cinemas. Sem alma, o filme enterrou completamente a franquia por 23 anos. Agora, coube ao novo projeto, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes , apagar o gosto ruim deixado pelo antecessor. Felizmente, o filme faz isso com perfeição levando o público por uma aventura divertida embalada pelo carisma de seus personagens. O novo filme acerta ao não tentar ser um épico medieval como O Senhor dos Anéis ou Game of Thrones . O texto dos diretores Jonathan Goldstein e John Francis Daley , em parceria com Michael Gilio , abraça os clichês do gênero entregando uma história carregada por uma simplicidade que faz o filme ser exatamente o que deveria ser: uma partida de RPG. A aventura se inicia como uma boa partida deve começar, um grupo de diferentes classes, formado pelo bardo Edgin (Chris Pine) , a bárbara Holga (Michelle Rodriguez) , o feiticeiro Simon (Justice Smith) e a druidesa Doric (Sophia Lillis) , se reúne para encontrar um tesouro e, meio que sem querer, acabam tendo que impedir os planos malignos da maga Sofina (Daisy Head) . A produção foi sagaz ao escalar atores que construíram uma carreira similar à imagem de seus personagens. Ninguém melhor para dar vida a uma bárbara porradeira como Holga do que Michelle Rodriguez, velha conhecida de franquias de ação como Velozes e Furiosos . Já Chris Pine, dá ao bardo Edgin muito de seu Capitão Kirk de Star Trek , um líder falho, mas carismático e virtuoso, capaz de tudo para proteger seus amigos. Como todo bom filme de equipe, a narrativa é orientada por seus personagens, que vão estreitando seus laços e evoluindo suas habilidades conforme os obstáculos da jornada vão sendo superados. Mesmo personagens com menor participação, como o Ladino vivido por Hugh Grant e o Paladino de Regé-Jean Page , aproveitam cada minuto de tela para agregar a campanha. Mesmo num mundo com magias e dragões, o fator humano é determinante para conquistar o público. Sabendo disso, o roteiro confere a cada membro do grupo, sejam eles dotados de magica ou força física, tanto proezas quanto fraquezas. Conhecer os altos e baixos de cada personagem coloca peso em cada obstáculo enfrentado, o que torna a jornada pessoal de cada um, mais interessante do que a tarefa de “salvar o mundo”. A sensação que se tem é a de que estamos acompanhando a uma verdadeira campanha de D&D . Goldstein e Daley fazem um grande trabalho ao mesclar a linguagem do cinema com toda a emoção e imprevisibilidade de uma partida. Por exemplo, em um momento do filme os personagens de Michelle Rodriguez e Chris Pine foram capturados e estão bolando um plano de fuga. Todos os acontecimentos dela caminham para uma resolução que parece obvia para o público. Mas, de repente os personagens fazem uma coisa completamente inesperada que muda totalmente a narrativa que estava sendo construída. Exatamente como ocorre numa mesa de RPG, onde o Mestre prepara todo o cenário, toda a jornada, de repente os jogadores tomam uma decisão que o Mestre não estava esperando e ele tem que adaptar sua narrativa de acordo com as ações dos jogadores. Outro enorme acerto do filme de Dungeons & Dragons é a parte técnica, que promove um espetáculo visual único, destacando o filme entre outras produções de fantasia. Diferente de muitos blockbusters , que usam e abusam de computação gráfica, o filme mescla o CGI com efeitos práticos, tornando o universo muito mais palpável. O trabalho executado pelos times de fotografia, design de produção, figurino e efeitos visuais materializou perfeitamente toda a fauna e flora dos livros, construindo assim um mundo fantástico que encanta tanto aqueles que já estão familiarizados como o universo, quanto quem está sendo introduzidos neste mundo. Falando nisso, outro ponto forte de Honra entre Rebeldes , está no cuidado que os diretores tiveram para abraçar os dois públicos. Não é preciso ter nenhum conhecimento prévio para entender o filme, que dosa perfeitamente os easter eggs e referências, agradando os fãs sem que o público geral se sinta deixado de fora. Um excelente exemplo disso é a participação (até mais longa do que eu esperava) dos personagens de Caverna do Dragão , animação de 1983, que se tornou muito querida, especialmente para o público brasileiro. A inserção de Eric , Sheila , Presto , Diana , Hank e Bobby é feita de forma pontual, sendo uma curiosidade deste mundo, algo que aquece o coração dos fãs, mas sem tirar o foco da narrativa principal e dos personagens que protagonizam a aventura. Dessa forma, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes triunfa. Usando os clichês do gênero a seu favor e com a dose certa de humor, a produção entrega um projeto honesto, que sabe suas limitações, mas que conquista por seu carisma e seu capricho. O filme apaga completamente a lembrança da péssima adaptação de vinte anos atrás, e com uma aventura memorável para todos os públicos, abre as portas para que Dungeons & Dragons ocupe seu lugar de direito no Hall das grandes franquias do cinema.
- The Bad Batch mostra que fazer o simples é tudo que Star Wars precisa | Crítica
A segunda temporada da série animada repete o sucesso da primeira e explora novas narrativas Desde que foi lançada em 2008, a série animada Star Wars: The Clone Wars tem se tornado cada vez mais o grande pilar da franquia, seja em animação ou live action . Um dos títulos que segue essa linha é a excelente The Bad Batch , animação que funciona como uma espécie de epílogo para The Clone Wars e chega a sua segunda temporada expandindo os temas abordados com excelência na primeira. O grande trunfo de “The Bad Batch” sempre foi pegar personagens menores da franquia, que não estão diretamente ligados ao arco principal da Saga Skywalker, e torna-los tão queridos quanto aqueles já eternizados no coração dos fãs. “Os Mal Feitos” se encaixam perfeitamente nessa categoria. A relação entre os membros da Força Clone 99, formada por Hunter , Wrecker , Tech , Echo (todos interpretados por Dee Bradley Baker ) foi muito bem trabalhada pelos criadores Jennifer Corbett e Dave Filoni durante a primeira temporada e a adição da pequena Omega (Michelle Ang) trouxe mais humanidade para o grupo, transformando esse esquadrão altamente especializado em uma verdadeira família. A segunda temporada pega tudo o que funcionou na primeira e aprofunda suas linhas narrativas. Omega deixa de ser apenas a criança que precisa ser protegida para se tornar um membro valiosíssimo da Força 99, aprendendo a pilotar e recebendo tarefas importantes durante as missões do grupo. No entanto, o fato de que a garota sempre esteve envolvida em conflitos, nunca tendo a chance de interagir com outras crianças e viver uma infância normal, somado aos perigos que a ascensão do Império representa para todos, faz o grupo refletir se não é hora de aposentar as armas e viver uma vida calma, mesmo que em seus corações o desejo de lutar por uma galáxia melhor ainda bata fortemente. Se a primeira temporada abordou de forma brilhante o ponto de vista dos clones diante das grandes transformações que a galáxia estava sofrendo após a o fim da “ Guerra dos Clones” , a segunda aprofunda o tema colocando tanto a Força Clone 99, quanto os demais Clones para questionar seu propósito numa galáxia que não precisa mais deles. Criados exclusivamente para a guerra, os Clones se encontram agora sem rumo nesses tempos de “paz”, sendo vistos apenas como um estorvo, relíquias de uma era que ficou para trás. É dentro deste cenário que o grande mote da temporada se desenvolve. Aproveitando que os Clones não são mais necessários, o Império passa a substituí-los por novos soldados recrutados e doutrinados dentro dos ideais imperiais, os S tormtroopers . Tal situação atinge até mesmo clones que se mantinham fieis ao novo governo, como é o caso do sniper Crosshair , um antigo membro dos “Mal Feitos” . Apoiado em seu mantra “Bons soldados seguem ordens”, Crosshair assumiu uma posição antagônica à sua própria família, fazendo com que seu arco seja um dos mais interessantes da franquia, mesmo que protagonize apenas três dos 16 episódios da temporada. Apesar de esperada desde o final da temporada anterior, sua jornada de redenção é feita de forma cativante. Aproveitando sua personalidade calma e de pouca conversa, a série coloca Crosshair quase como um figurante em sua própria história, observando atentamente o descaso do Império para com os Clones. A qualidade da produção é impecável. Com sequencias de ação muito bem animadas e cenários de cair o queixo, a sério consegue combinar perfeitamente episódios épicos e sérios, com episódios que podem ser considerados mais bobos e sem muita ligação com a narrativa principal. Cada episódio começa e termina em si mesmo, seguindo a linha da “Aventura da Semana” , já adotada pelas demais séries de Star Wars . O grande destaque fica por conta dos episódios 7 e 8, que trazem uma trama de suspense político que coloca Senadores defensores da causa clone contra representantes do Império capazes de tudo para aprovarem a lei que permitirá a criação dos Stormtroopers. Os episódios colocam “os Mal feitos” para interagir com velhos conhecidos da época de “The Clone Wars“ como o Capitão Rex , os senadores Bail Organa e Riyo Chuchi, e conta inclusive com a participação do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) . A presença do grande vilão da saga Star Wars, confere aos episódios um peso gigante, que com certeza os colocam entre os melhores momentos da franquia. Um dos grandes desafios de Star Wars ultimamente tem sido manter o nível entre uma produção e outra. Não parece ser o caso das animações, que evoluem técnica e narrativamente a cada nova série. Jennifer Corbett e Dave Filoni sabem exatamente para onde querem ir e o que os fãs querem ver. The Bad Batch: 2ª temporada , responde perguntas sobre o destino de personagens queridos ao mesmo tempo em que prepara o cenário para a grande conclusão da história em sua, já confirmada, 3ª e ultima temporada. Resta aguardar pelas surpresas que o destino dos “Mal Feitos” nos reserva.
- Guardiões da Galáxia Vol. 3 é uma Obra-prima do cinema de super-heróis | Crítica
James Gunn se despede da Marvel com um filme épico e emocionante que faz jus a seus heróis Quando a Marvel anunciou a produção de Guardiões da Galáxia , ninguém esperava que o filme se tornasse um dos maiores sucessos do estúdio. Unindo o melhor do cinema de super-herói com ficção científica, o longa expandiu as fronteiras cósmicas do MCU , apresentando personagens carismáticos em uma jornada repleta de ação, humor e acima de tudo emoção. Quase dez anos depois, a franquia que conta com vários longas e um especial de natal, chega ao fim com Guardiões da Galáxia Vol. 3, um filme épico e comovente que marca a despedida da equipe de forma triunfal. De volta como roteirista e diretor, James Gunn tinha como principal obstáculo, manter a essência dos filmes anteriores, mas sem soar repetitivo. Na trama, após um ataque a seu novo Quartel General em Luganenhum , Rocket (Bradley Cooper) fica entre a vida e a morte, o que leva os guardiões a unirem forças para salvar o amigo. O objetivo os coloca em rota de colisão como o Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji) , um cientista megalomaníaco que possui uma forte ligação como o passado do guaxinim. A partir este momento o filme se divide em duas linhas narrativas. Uma no tempo atual, acompanhando a jornada dos guardiões, e outra no passado, explorando as origens de Rocket. Durante toda a sequencia de flashbacks, Gunn usa toda sua habilidade como diretor e roteirista para falar sobre maus tratos e criticar o uso de animais em experimentos científicos. Criado como cobaia pelo Alto Evolucionário, Rocket foi montado e desmontado repetidas vezes até deixar de ser um simples filhote de guaxinim para se tornar um ser antropomórfico altamente inteligente e habilidoso, algo apenas pincelado durante os longas anteriores. Pesadas para os padrões da Marvel, as cenas em que o personagem aparece sofrendo são capazes de levar às lágrimas até o mais durão dos fãs. Toda essa emoção se dá devido à alta qualidade dos efeitos especiais, que fazem animais criados por computador beirarem o realismo, e também pela brilhante atuação de Chukwudi Iwuji. Seu Alto Evolucionário é “detestável”, e a tensão é palpável sempre que o personagem entra em cena. Cruel e explosivo, o vilão foge da tendência de apresentar figuras malignas com origens tristes ou objetivos “nobres, porém controversos” e surge simplesmente como um cientista egocêntrico que, brincando de Deus, busca criar a “sociedade perfeita” . Certamente, o vilão entra instantaneamente para o panteão de melhores vilões do Universo Marvel . Mas nem tudo é sobre dor e sofrimento. Um dos momentos mais emocionante do filme é ver o pequeno guaxinim cheio de esperança, sonhando com o dia em que construirá máquinas voadoras que levarão ele e seus amigos em direção ao infinito e lindo céu. Sonho que acaba se concretizando junto dos Guardiões. Apesar do grande foco em Rocket, os demais Guardiões não são esquecidos. Gunn usa muito bem as quase duas horas e meia de filme para mostrar o quanto cada um de seus personagens amadureceu. Peter Quill , O Senhor das Estrelas (Chris Pratt) continua o mesmo fanfarão de sempre, mas se firmou como o grande capitão dos Guardiões, tornando-se um líder respeitado não só pelo grupo, mas por todos os moradores de Luganenhum . O mesmo vale para Nebulosa (Karen Gillan) , a ex-vilã assume aqui um papel quase como uma co-capitã, concluindo com excelência um dos melhores arcos de personagem do MCU. Já Groot (Vin Diesel) , Drax (Dave Bautista) e Mantis (Pom Klementieff) , não abandonam o alívio cômico, mas desenvolvem novas facetas, mostrando a qualidade dos atores, (principalmente Bautista e Klementieff) em situações mais dramáticas. Até mesmo Gamora (Zoe Saldana) apresenta uma nova e complexa personalidade que, devido aos eventos de Vingadores Guerra Infinita (2018) e Vingadores Ultimato (2019) , poderia facilmente cair em repetição. Se algo fica devendo no filme com certeza é a participação de Adam Warlock . Muito aguardado desde que foi anunciado na cena pós-créditos do segundo filme, o personagem, interpretado pelo ótimo Will Poulter , enfim faz sua estreia no Universo Marvel, mas sua função na trama soa um pouco forçada. Apesar de chegar mostrando toda sua força, o personagem vai perdendo importância conforme a história avança, entrando e saindo do filme quando o roteiro pede. Porém nada disso é capaz de tirar o brilho de Guardiões da Galáxia Vol. 3, que mesmo em seu ponto mais fraco, ainda encontra qualidades. Por ter acabado de nascer, Adam pouco sabe sobre o universo, sendo praticamente uma criança num corpo de um adulto muito poderoso. Mesmo com pouco tempo de tela, a ingenuidade de Adam cativa o público, é divertido ver o personagem descobrindo os limites da própria força, e se maravilhando com algo tão simples quanto um “pet espacial”. A trilha sonora de Guardiões da Galáxia sempre foi ponto de destaque desde a primeira cena do primeiro filme. Diferente de produções que inserem músicas pop apenas para sonorizar suas cenas, ou conquistar o espectador pela nostalgia, tornando o filme um enorme vídeo clipe (sim, me refiro a Esquadrão Suicida de 2016), James Gunn sabe colocar cada música no momento certo. Quase como um personagem de luxo, a música faz parte da narrativa, dando o tom da história. O filme marca não só a despedida da equipe, mas também é o adeus de James Gunn à Marvel. Por isso, o diretor coloca todo seu coração em cada cena, criando momentos de emoção genuína. O público ri, chora e fica apreensivo a todo o momento, uma vez que, por se tratar da despedida do grupo, cada deslize pode ser fatal. Gunn encerra sua passagem pelo MCU entregando aos fãs, possivelmente a melhor trilogia da “Casa das Ideias” . O diretor parte rumo a um novo desafio, agora na concorrente, assumindo o papel de Diretor Criativo do novo DC Studios, uma espécie de “Kevin Feige da DC” . Diz-se no futebol que não há nada melhor do que uma vitória convincente para acalmar uma crise. Após o frustrante Homem Formiga e a Vespa: Quantumania , a Marvel vem passando por um processo de mudança a fim de colocar a casa em ordem. Guardiões da Galáxia Vol. 3 é, portanto a vitória que veio no momento certo. Acalma os fãs e mostra que a “Gigante do Entretenimento” ainda é digna da confiança depositada. É curioso pensar que o primeiro Guardiões desempenhou o mesmo papel quase dez anos atrás, conquistando o público após as fracas recepções de Homem de Ferro 3 e Thor: Mundo Sombrio . Guardiões da Galáxia Vol. 3 é uma obra-prima do cinema de super-herói. Uma experiência memorável que ameniza a tristeza do adeus. Ao menos para essa versão da equipe.
- Shazam! Fúria dos Deuses é uma sessão da tarde honesta e descompromissada | Crítica
Filme da DC é carismático, simples e divertido, apesar da ação pouco empolgante A franquia Shazam! sempre foi vista como o “patinho feio” da DC . Lançado em 2019, em meio a uma reformulação no DCEU , após o fracasso de Liga da Justiça (2017) , Shazam! não foi um sucesso, mas a história do menino que ao gritar a palavra mágica “ Shazam! ” se transforma num super-herói adulto, dotado de poderes mágicos, acabou conquistando público e crítica com um filme que mescla a clássica aventura de super-herói com uma comédia familiar. A recepção positiva foi o suficiente para que uma continuação fosse confirmada. Dessa forma, Shazam! Fúria dos Deuses , filme que chegou ao streaming HBO Max no dia 23 de maio, repete a fórmula do primeiro, sendo amparado pelo carisma de seus personagens, apresentando sequências de ação divertidas, mas pouco empolgantes. O filme começa mostrando Billy Batson (Asher Angel) , anos após ganhar e distribuir seus poderes mágicos entre seus irmãos e irmãs, se questionando sobre sua função como super-herói em um mundo que já possui heróis mais famosos e adorados como Batman , Flash e Aquaman . Um acerto da produção que brinca com a aparente falta de interesse do estudio e do público pelo personagem, fazendo disso o combustível que o move em direção a seus objetivos. Assim, um dos desafios do garoto é mante a “ família Shazam ” focada em salvar o mundo, uma vez que cada um está em um estágio diferente da vida. As relações familiares são com certeza o ponto alto do filme. O roteiro de Henry Gayden e Chris Morgan é inteligente em dar o próximo passo na jornada de um herói jovem, apostando assim em uma história sobre amadurecimento. A inocência da infância de Darla (Faithe Herman) e Eugene (Ian Chen) , a chegada dos hormônios em Freddy (Jack Dylan Grazer) e Pedro (D.J. Cotrona) , até os temores do início da vida adulta com Mary (Grace Caroline Currey) , criam uma dinâmica envolvente e diversa que enriquece a jornada do amadurecimento de Billy Batson. Toda essa diversidade de perspectivas e interesses entre os membros da família fica ainda mais divertida quando esse bando de desajustados entra em ação, fazendo o lado “super-herói” se tornar muito mais cativante. É uma pena que, apesar do elenco jovem brilhar, especialmente no quesito comédia, o mesmo não pode ser dito de suas contrapartes adultas que, na maior parte do tempo, apresentam dificuldades em interpretar crianças nos corpos de adultos, situação que fica mais evidente quando a criança já se tornou um adulto, como são os casos de Mary e principalmente de Billy. Não me entendam mal, Zachary Levi continua carismático como sempre, mas sua interpretação de Shazam acaba se mostrando muito mais infantil do que a interpretação de Asher como Billy. A exceção fica a cargo de Freddy e sua contraparte adulta, interpretada por Adam Brody . O jovem vive o clássico drama do adolescente impopular tendo que lidar com problemas amorosos típicos desta idade além do bullying na escola. Já sua versão adulta pega tudo isso e entrega um garoto que, agora no corpo de um herói superpoderoso, pode enfim se soltar e ser quem realmente é por dentro. No entanto, o lado super-heróico do filme não recebe o mesmo capricho dado ao núcleo familiar. Dessa vez a família Shazam tem de enfrentar Hespera (Helen Mirren) , Calipso (Lucy Liu) e Anthea (Rachel Zegler) , filhas do deus grego Atlas, que chegam a Terra para recuperar a magia das divindades e reconstruir seu reino, mesmo que isso coloque o mundo em risco. A velha dinâmica de invasão à Terra acaba soando repetitiva, uma vez que se trata de uma situação presente em quase todos os filmes do gênero “super-herói”. No próprio DCEU essa temática já foi vista várias vezes com vilões como Zod , Ares , Darkseid e até Starro . Proteger a Terra de ameaças externas é algo essencial para os super-heróis, mas é um clichê que poderia ser contornado com um desenrolar criativo da história e da relação entre os heróis e os vilões. O filme de David F. Sandberg possui muitas possibilidades, desde o caráter pessoal da missão das vilãs, até a ligação que o universo de Shazam! tem com mitologias que poderiam levar a produção para caminhos únicos. O problema é que Fúria dos Deuses desperdiça essa oportunidade ao não mergulhar profundamente no lado mágico de seus personagens. Criaturas mitológicas como quimeras, unicórnios e dragões tem sua magia roubada quando colocados dentro um cenário tão mundano quanto uma cidade grande do mundo real ao invés de aparecerem em seus próprios mundos fantásticos, que estão literalmente a uma porta de distância. Além disso, Shazam! 2 entrega combates desinteressantes e vagarosos que afetam até mesmo a grandiosa batalha final, que apesar de muito bem produzida e divertida, não chega a empolgar. A falta de interesse na ação é tão grande que o trio antagonista acaba lembrado mais por seus momentos cômicos como a personagem de Helen Mirren, ou pelo romance adolescente entre os personagens de Rachel Zegler e Jack Dylan Grazer, do que pela ameaça que representam. Lucy Liu até tenta dar um ar mais vilanesco para Calipso, mas nada que salte aos olhos. É curioso que ambos os filmes de Shazam! tenham sido lançados em momentos de reestruturação do Universo DC. O primeiro, como foi dito acima, logo após o fracasso de Liga da Justiça, rompendo de vez com a estética e tom do chamado “ snyderverso ” (filmes do DCEU dirigidos e produzidos por Zack Snyder ) e entrando na Era Walter Hamada que buscou trazer para esse universo compartilhado um tom mais leve e colorido. Agora, o segundo filme é lançado em um momento ainda mais drástico: Sai Walter Hamada, entra James Gunn . O novo chefão criativo da DC optou por romper com quase tudo do antigo universo, alguns atores vão continuar, mas com as saídas dos pesos pesados, Superman de Henry Cavill e Batman de Ben Affleck , é muito provável que toda da Liga da Justiça sofra um reboot. O que já é certo é que a história começará do zero em um novo universo agora chamado de DCU . Essa decisão acabou jogando um monte de dúvidas sobre os filmes da antiga gestão que, após vários adiamentos, principalmente em razão da pandemia de COVID-19 , ainda seriam lançados esse ano. Ainda não se sabe se os filmes The Flash , Besouro Azul , e Aquaman: O reino Perdido terão alguma relevância para a história que James Gunn quer contar, e isso pode acabar influenciando no interesse do público pelos filmes, como foi o caso de Fúria dos Deuses , único dos quatro filmes lançados até a publicação desde texto. Mas pergunta à ser feita aqui é uma só: Um filme pode funcionar por si só, ou ele só tem relevância quando sua história leva o público para outras histórias? Shazam! Fúria dos Deuses está longe de ser um dos melhores filmes de super-herói, mas também não chega perto dos piores. O filme é uma excelente “ sessão da tarde ”, mesmo com tantos clichês e batalhas sem muita empolgação, a dinâmica entre os membros desta família é capaz de divertir e entreter quem está procurando por uma aventura simples, honesta e sem compromisso com uma trama maior e complexa.
- Uma obra de arte chamada Homem-Aranha: Através do Aranhaverso | Crítica
A continuação da premiada animação supera todas as expectativas em uma história que mergulha fundo tanto no Multiverso quanto em seus personagens Na história do cinema, poucas sequências atingiram o êxito de superar o filme original. Talvez apenas Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) tenha conseguido esse feito. Após um primeiro filme superpremiado que revolucionou o mercado de animações, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso chega aos cinemas com essa difícil missão. Felizmente, o filme cumpre seu objetivo com perfeição, elevando o nível da produção (algo que parecia impossível) e explorando o conceito de Multiverso de uma forma nunca vista antes. O filme faz uso da velha estratégia de Hollywood em pegar tudo o que funcionou no primeiro filme e tornar “maior e melhor” na sequência. Enquanto Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) mostra cinco versões diferentes de homens e mulheres-aranha indo até o universo de Miles Morales (Shameik Moore) , agora é Miles quem desbrava o multiverso, tendo contato com pelo menos 280 versões do herói aracnídeo, sejam elas vindas dos quadrinhos, animações, cinema, games e até brinquedos. Diante deste cenário caótico, seria fácil para o filme se perder dentro de um festival de referências e easter eggs . Mas o roteiro de Phil Lord , Christopher Miller e Dave Callaham consegue colocar ordem no caos do Multiverso utilizando a empolgação de ver realidades paralelas e os "seres-aranhas" que lá habitam, em favor da história que querem contar. A chuva de referencias é capaz de deixar qualquer fã do Aranha feliz, mas nunca roubam o foco da história, sendo a cereja do bolo na jornada de amadurecimento de Miles. Cada um dos mundos deste Aranhaverso possui um visual deslumbrante e único. Não é exagero dizer que a equipe de animação superou (e muito) a qualidade já impressionante do filme anterior, apresentando cenários distintos e marcantes como a sede da Sociedade Aranha, com suas plataformas e pontes que se cruzam formando um emaranhado de vias que lembram uma teia de aranha, ou as diferentes versões da cidade de Nova York, como o paraíso futurista do Homem-Aranha 2099 e a mistura entre Manhattan e Mumbai no universo do Homem-Aranha Indiano. Mas o destaque fica mesmo com o universo de Gwen Stacy ( Hailee Steinfeld) , a Mulher-aranha (ou Spider-Gwen para diferencia-la da personagem Jessica Drew ). Apesar de ser um mundo mais próximo do de Miles Morales, aqui o que domina é o uso das cores. O visual da animação neste universo é belíssimo, com cenários que parecem ter sido feitos com aquarela, cujas core são usadas para contar a história da personagem, uma vez que variam entre tons mais fortes e tons mais pasteis, dependendo do sentimento que a cena quer passar no momento. Assim, mesmo com tantos universos novos para explorar, Através do Aranhaverso abre um merecido espaço para que Gwen Stacy possa brilhar. Apenas mencionado no primeiro filme, o passado da personagem é aprofundado dentro de um arco próprio que aborda seus traumas, desejos, e principalmente o relacionamento com seu pai. Toda essa atenção dada à heroína se torna um dos fios condutores do filme, além de trazer novas camadas para seu relacionamento com Miles. Com Miles Morales não é diferente. Sabendo que o que faz do Homem-Aranha um personagem tão adorado é a identificação com o público, a produção segue o sucesso do primeiro filme, equilibrando os desafios enfrentados por Miles com e sem a máscara. Ao acompanharmos a relação do jovem com os pais, somos capazes de entender suas angústias e sonhos. Amadurecimento é a palavra chave, se antes o recebimento dos poderes de aranha funcionavam como uma metáfora para a entrada na puberdade, agora os deveres de Miles como um super-herói soam como a entrada na vida adulta. A busca por uma identidade própria, e as expectativas depositadas pelos pais são alguns dos temas encontrados pela produção para humanizar Miles e Gwen. O “fator identificação” do Homem-Aranha entra em cena exatamente porque todos que assistirem ao filme passaram ou ainda passarão por experiências semelhantes. Conforme o filme avança, a dupla se aventura através das múltiplas realidades, entrando em contato com todo tipo de novos Homens/Mulheres/Animais/Objetos-Aranha. Cada uma das variantes do herói está aqui para nos mostrar, não só, que o heroísmo pode vir nos mais variados formatos, mas que também o ideal de heroísmo pode variar de pessoa para pessoa. É nesse cenário que surge a figura do Homem-Aranha 2099 ( Oscar Isaac) . Muito esperado desde sua aparição na cena pós-créditos do primeiro filme, Miguel O’Hara é mais do que apenas o líder dos Guerreiros da Teia (como são chamadas as versões alternativas do Homem-Aranha nas HQs). Seu passado sofrido traz um debate muito interessante em torno do que “faz” um Homem-Aranha e o coloca diretamente em conflito com os ideais de Miles. Afinal, está tudo bem em sacrificar uma vida para salvar muitas outras, ou um verdadeiro herói conseque salvar a todos? Outro ponto forte do filme é o vilão Mancha . Detentor de um visual mais cômico do que ameaçador, o vilão, completamente obscuro dos quadrinhos, não tem nem de longe o peso de um Duende Verde , Dr. Octopus , ou até mesmo do Rei do Crime . É um personagem que jamais seria especulado para antagonizar um filme do Aranha. Mas é exatamente por isso que o filme acerta mais uma vez. Tendo toda a liberdade para apresentar o personagem, a produção desenvolve seu arco dramático desde o momento em que aparece sendo tratado apenas como mais um inimigo bobo, “o vilão da semana” se preferir, até se tornar uma ameaça capaz de destruí todo o Multiverso. Com tudo isso em mãos, a direção de Joaquim dos Santos , Kemp Powers e Justin K. Thompson é brilhante. O trio entrega um longa com a dose certa de ação, drama e comédia, tudo combinando perfeitamente para contar uma história empolgante e surpreendente. Se Através do Aranhaverso tem algum ponto fraco seria a falta de final, algo que pode frustrar aqueles que não sabiam que o filme seria dividido em duas partes. Mas ao mesmo tempo, esse fato acaba sendo mais um agrado para os fãs. Se a característica principal da franquia Aranhaverso é ser uma espécie de quadrinho animado, com suas hachuras, balões de pensamento e onomatopeias, tem coisa mais quadrinho do que terminar o filme com um retângulo escrito “continua...”? Dessa forma, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso mostra que o gênero de super-herói não está morrendo, como muitos tentam fazer parecer, vindo com força total para a próxima temporada de premiações nas categorias de Animação, e para mim, não seria nenhum absurdo pintar uma indicação para Melhor Filme. A produção supera todas as expectativas depositadas desde sua confirmação, fazendo de Aranhaverso a experiência definitiva de Multiverso no cinema de super-heróis (pelo menos até o lançamento do terceiro filme).
- Entre altos e baixos, The Flash encerra o DCEU de forma satisfatória | Crítica
Primeira aventura solo do velocista da DC no cinema é divertida, nostálgica e coloca ponto final no universo compartilhado criado em 2013. Há quase dez anos se fala em fazer um filme do “homem mais rápido vivo”, mas só recentemente a produção ganhou luz verde, como parte do Universo Estendido da DC , iniciado em 2013 com Homem de Aço . Após vários adiamentos, mudanças tanto na direção do filme quanto no comando da Warner Bros ., além das diversas polêmicas envolvendo seu ator principal, The Flash finalmente chegou aos cinemas sob muita expectativa. Prometido como o grande filme-evento sobre multiverso, que iria reorganizar a cronologia do Universo DC , o filme, de certa forma, atinge seu objetivo, mesmo que não seja como os fãs imaginavam. Após sua estreia em Batman vs. Superman (2016) e participações especiais em filmes como as duas versões de Liga da Justiça (2017 e 2021) e em séries como Pacificador (2022) , Barry Allen (Ezra Miller) finalmente ganha sua aventura solo. Se inspirando na famosa HQ Ponto de Ignição ( Flashpoint , no original), o filme mostra o herói voltando ao passado para impedir a morte da mãe (Maribel Verdú) , e assim livrar seu pai (Ron Livingston) , acusado injustamente pelo crime, de uma vida na cadeia. O roteiro de Christina Hodson (Aves de Rapina) é esperto, não só por se destacar das demais adaptações de Flashpoint – que já haviam sido vistas em animação e série de TV – onde o herói vai parar em um mundo apocalíptico destruído por versões alternativas dos heróis da casa, mas também por focar no desenvolvimento de Barry Allen em vez de na realidade criada por ele. A trama foge dos clichês até certo ponto, sendo um “filme de origem” que não segue a risca a formula das origens de super-heróis. Para isso, o diretor Andy Muschietti (It: A Coisa) aproveita a brincadeira com viagem no tempo para mostrar como o herói recebeu seus poderes, sem necessitar de flashbacks . Além disso, a sequência de ação inicial estabelece logo de cara todos os poderes do Flash (não apenas a supervelocidade), bem como a personalidade do herói. Tudo isso é possível graças à atuação de Ezra Miller que finalmente consegue encontrar o ponto exato entre drama e comédia que tornam Barry um personagem interessante. O talento do ator é ampliado pela trama de viagem no tempo que permitiu Miller interpretar duas versões do Flash, dando para cada um uma personalidade diferente. Enquanto um Barry é mais consciente de suas responsabilidades devido aos traumas de seu passado, o outro é mais jovem, livre desses traumas e deslumbrado pelos poderes que possui. Essa dinâmica “mestre e pupilo” funciona perfeitamente, dando ao Barry da Terra 1 (podemos chamar assim), uma seriedade que faltava ao personagem nos filmes anteriores, principalmente na Liga da Justiça 2017, onde o personagem ficou reduzido a apenas um alivio cômico bobo. Mundos colidem! Esse foi o slogan usado para promover o filme, por isso mesmo focada em amarrar todas as pontas da jornada do herói de Barry Allen, a produção é consciente de que a exploração de novos universos é o grande atrativo para o público. Como ocorre na HQ, ao salvar sua mãe, Barry acaba afetando toda a realidade ao seu redor e o herói sem querer cria um universo em que meta-humanos como o Aquaman não existem, o Superman não chegou a Terra , e o Batman é interpretado não mais por Ben Affleck , mas sim por Michael Keaton , voltando ao papel que o consagrou em clássicos como Batman (1989) e Batman: O Retorno (1992) . O conceito de multiverso é a bola da vez no cinema de super-heróis, e desde que a Marvel Studios e a Sony Pictures juntaram três gerações de Homens-Aranha em, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021) , diversas produções tentaram reproduzir o mesmo sucesso convidando atores para retornarem a seus papéis clássicos e homenagear sua herança. The Flash é carregado de várias surpresas que reverenciam a história da DC no cinema, e a direção de Andy Muschietti é extremamente competente ao dosar a nostalgia e não permitir que o fan service fique acima da história que está sendo contada. É emocionante rever Keaton em seu velho uniforme, surgindo na Batcaverna ao som do icônico tema do personagem, mas sua participação não é de graça. Assim como Tobey Maguire e Andrew Garfild tiveram um papel fundamental na jornada do herói de Tom Holland em Sem Volta para Casa , Keaton também influencia na jornada de Barry, surgindo como um velho mestre que o ensina a aceitar seu passado, pois são suas experiências, sejam elas boas ou ruins, que o definem. É o Batman também que explica de uma forma bem inusitada e brilhante, as regras da viagem no tempo criadas para esse universo. Além disso, sua participação também está ligada à apresentação da Supergirl (Sasha Calle) . É aqui que começam os pontos baixos do filme. Não é novidade que a constante troca de roteiristas e diretores durante a produção do filme, bem como as mudanças no comando da Warner Bros. e da DC, afetaram o longa. Muitas regravações e cortes, inclusive de aparições especiais, mudaram totalmente os rumos que o filme daria para o futuro do DCEU . Antes especulada para substituir o Superman de Henry Cavill nos vindouros filmes da Liga da Justiça, a Supergirl acabou sem função no corte final. Caindo próximo a uma base militar russa e criada em cativeiro em vez de ser acolhida por pais amorosos de Smallville, a kryptoniana possui um background interessantíssimo, porém pouco explorado. Seu rancor pela humanidade é quase que imediatamente ignorado para que o filme possa se encaminhar para um terceiro ato que mergulha fundo nos clichês do gênero, onde o grupo formado pela Supergirl, os dois Flash e o Batman, se une para enfrentar o grande vilão que ameaça a Terra. A mudança, quase instantânea, de opinião da Supergirl sobre os humanos transforma a personagem em nada mais que uma ferramenta superpoderosa que o grupo precisa para derrotar o General Zod . Em mais uma participação especial do filme, Michael Shannon retorna a pele do vilão de Homem de Aço , mas diferente do Batman de Keaton, Zod não recebe o mesmo capricho e paixão. Assim como aconteceu com a Supergirl, sua participação se resume apenas a um obstáculo que os heróis têm de enfrentar na batalha final. O roteiro não dá a Shannon a oportunidade de acrescentar novas camadas ao personagem, fazendo com que sua atuação beire o automático. Zod é exatamente o mesmo personagem que vimos no filme do Superman e sua interação com a personagem de Sasha Calle é rápida e superficial, já com o Flash é inexistente. A sensação que fica é a de que a DC perdeu uma excelente oportunidade de aprofundar seu melhor vilão em todos esses anos de seu universo compartilhado. É preciso também falar sobre o elefante na sala. Mesmo com sequências de ação muito bem coreografadas e empolgantes, a péssima qualidade da computação gráfica prejudica muito o valor final da obra. A qualidade do CGI oscila durante o filme todo, sendo bem mais gritante em seu começo do que no final, mas em seus piores momentos, como a sequência inicial com bebês feitos inteiramente por computar caindo de um prédio enquanto o Flash os salva, os efeitos estão tão inacabados, que é impossível manter a imersão no filme. O fato da cena dos bebês ser em slow motion , para destacar a supervelociade do Flash, também não joga a favor. Mas talvez o maior problema de The Flash tenha sido a expectativa criada em torno do filme. A estratégia de colocar James Gunn para anunciar seu novo universo, antes dos filmes da antiga gestão serem lançados, se comprovou completamente equivocada com o fracasso de Shazam! Fúria dos Deuses nas bilheterias. A fim de evitar um novo fracasso e manter o interesse do público, pelo menos até o final do ano, em um universo que convenhamos, respira por aparelhos, o marketing tratou de vender o filme como o maior filme de super-heróis da história e inicio oficial do DCU de James Gunn. Porém toda essa expectativa pode ser o calcanhar de Aquiles da produção, uma vez que as promessas, hora não se pagam, hora sim, mas não da maneira que o público esperava. No final, The Flash é a aventura pipocão que deveria ser. Mesmo não sendo o evento grandioso que havia sido prometido, o filme atinge seu objetivo e possui diversão e emoção suficientes para superar as falhas e colocá-lo como um dos melhores deste universo compartilhado. O filme marca definitivamente o fim do DCEU. Besouro Azul e Aquaman: Reino Perdido (filmes da antiga gestão que ainda estão para estrear) podem já fazer parte do novo universo que será apresentado por James Gunn a partir de 2025? Tudo é possível, mas o mais provável é sejam simplesmente epílogos deste velho universo que agora se junta a tantos outros, como do Superman de Christopher Reeve ou do próprio Batman de Michael Keaton, na história da DC no cinema.